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Catia Oliveira garante primeira medalha brasileira no Mundial

Pelo Mundial de tênis de mesa paralímpico, Catia Oliveira se classifica para a semifinal e já garante medalha na Eslovênia

Divulgação/CPB

Há apenas quatro dias, a paulista Catia Oliveira recordou o 11º “aniversário” daquela que foi a data mais marcante de sua vida: 15 de outubro de 2007. Naquele dia, a brasileira, hoje com 27 anos, iniciou a história que fez com que ela se tornasse, nesta sexta-feira, 19, em Celje, na Eslovênia, uma medalhista do tênis de mesa paralímpico em Campeonatos Mundiais.

No fim desta manhã, na Eslovênia, Catia disputou as quartas de final do Campeonato Mundial contra a russa Nadejda Pushpasheva, atual número 3 do mundo na classe 02, para atletas cadeirantes com baixa mobilidade. Prata no Mundial de 2010, a russa era uma rival experiente e, até então, favorita. Mas Catia se impôs desde o começo da partida e, por 3 a 0, com parciais de 11/4, 11/7 e 11/9, carimbou a vaga para as semifinais.

Como no Mundial não existem disputas de terceiro lugar, as jogadoras que chegam às semifinais já asseguram, no mínimo, as medalhas de bronze. Com isso, o Brasil já igualou seu resultado de 2014, em Pequim, quando Bruna Alexandre conquistou o bronze no Mundial, até então a única medalha na disputa individual que o país tinha na competição.

Acidente e convocação

As mãos de Catia Oliveira não pararam de tremer quando ela deixou a área de competição e entrou no túnel por onde os atletas passam no ginásio de esportes de Celje. A emoção aumentou rapidamente quando ela percebeu que a russa Nadejda Pushpasheva, uma sorridente senhora de 58 anos, a esperava para parabenizá-la pela vitória. Sorrindo, a rival a entregou de presente uma das tradicionais bonequinhas russas e um imã com um mapa de seu país.

“Desde que eu a conheci, eu vi que ela era uma pessoa muito boa”, conta Catia. “Em 2016, no meu primeiro campeonato depois da lesão séria que eu tive no ombro, quando eu tive que operar e ficar oito meses afastada das competições, fui para a Romênia para jogar e ela assistiu uma partida minha e não parava de vibrar por mim a cada ponto. Eu venci de virada por 3 a 2 e desde esse jogo a gente tem essa conexão. Ela não fala inglês e nem eu falo russo. Nos entendemos por mímica, mas o carinho que temos uma pela outra é demais”, prosseguiu a brasileira.

A tremedeira nas mãos de Catia não cedia enquanto ela, agora com os olhos mareados, falava sobre a sensação de ter se tornado uma medalhista de um Campeonato Mundial. E para entender sua história e o motivo de tanta emoção é preciso retornar ao distante 15 de outubro de 2007 do início do parágrafo.

Naquele dia, Catia, nascida em Cerqueira César, no interior de São Paulo, voltava de carro com duas amigas retornando de Piracicaba em direção a Bauru quando um acidente alterou drasticamente sua vida.

“Eu estava dormindo no banco de trás do carro, nós batemos e eu lesionei a coluna. Tive uma lesão medular cervical na C5 e na C6”, narra a mesatensita. “Foi um acidente leve. Minhas amigas estavam com cinto e só ficaram com a marca do cinto. O carro bateu por volta das 11h na traseira de outro carro e nem bateu com força. Mas como eu estava deitada e sem o cinto, deu uma chicotada na minha coluna e pronto. Cinco minutos antes da batida eu estava acordada. Eu deitei e nós batemos”, diz transparecendo resignação após tanto tempo.

Antes do acidente, Catia jogava futebol em Bauru. E aqui entra um componente ainda mais impressionante sobre tudo o que se passou naquele 15 de outubro. “Eu estava no hospital quando, às 17h, saiu a minha convocação para a Seleção Brasileira. Eu iria disputar o Mundial Sub-17 no Chile. Era meu maior sonho e para mim aquilo tudo foi difícil demais. Mas eu superei e hoje estou aqui, vivendo essa emoção toda”, recorda.

Vida que segue

Depois do acidente, Catia e a mãe buscaram tratamento no Sarah Kubitschek, em Brasília, e foi lá que a percepção da paulista sobre sua condição começou a mudar. “No Sarah, onde eu passei três meses, eu via as pessoas felizes e em situação muito pior do que a minha. Depois disso, eu dizia para mim: ‘Você está viva, menina! Para de reclamar e segue com a vida!'”

A vida seguiu e, em 2013, durante uma feira chamada Reatech, em São Paulo, voltada para inclusão de pessoas com deficiência, Catia descobriu o tênis de mesa. Ela fez a classificação funcional, começou a treinar e, no fim daquele ano, disputou sua primeira competição, em Maringá (PR). “Quando entrei e vi aquele clima, acendeu a chama e eu disse: ‘Quero ser atleta de novo'”, lembra Catia.

O resto, é história. Determinada, Catia se classificou para os Jogos Paralímpicos Rio 2016, viveu a emoção de defender seu país em casa, mas, ainda no processo de recuperação da cirurgia no ombro, não teve como fazer a preparação necessária e ficou fora do pódio.

A recompensa veio agora, em Celje, uma pequena cidade da Eslovênia com menos de 50 mil habitantes, distante cerca de 50 minutos da capital Liubliana.

Ainda nesta sexta, Catia enfrenta a italiana Giada Rossi, número 2 do mundo, medalha de bronze no Rio 2016. “Até agora não parei de tremer de emoção, mas tenho que controlar isso. Quero mais. Vou lutar para chegar à final e brigar pelo ouro”, encerra Catia.

Chances de mais medalhas

O Brasil ainda pode chegar a outras quatro medalhas nesta sexta-feira na Eslovênia. Pela classe 09 feminina, para atletas andantes com pequeno comprometimento de mobilidade, Danielle Rauen e Jennyfer Parinos venceram seus jogos nesta manhã em Celje e ainda disputarão as quartas de final.

Quem também está nas quartas da classe 07, para atletas andantes com comprometimento nas pernas, é Paulo Salmin, que venceu com propriedade o tcheco Daniel Horut por 3 a 0, com parciais de 11/4, 11/6 e 11/5. Pela mesma classe, o brasileiro Israel Stroh por pouco não avançou, mas perdeu nas oitavas de final para o espanhol Jordi Morales por 3 a 2, com parciais de 11/9, 8/11, 11/1, 6/11 e 11/6.

Por último, Bruna Alexandre, número 2 do mundo na classe 10, para jogadores com deficiências motoras leves ou amputação de membros superiores, também joga hoje pela quartas de final do Mundial de tênis de mesa paralímpico.

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