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Atletismo

Retrospectiva Olímpica: atletas de base do Time Brasil em 2022

Liderados por João Fonseca, Brasil vence pela primeira vez na história Copa Davis Juvenil
Gokhan Taner/ITF

Na ausência dos Jogos Olímpicos da Juventude de Dacar, e ainda sob o efeito da pandemia de coronavírus e do adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio, os jovens atletas equilibraram os Mundiais de base e participação nas competições de elite em 2022. Somente neste ano, foram 15 medalhas em Campeonatos Mundiais para atletas juvenis brasileiros, de acordo com levantamento feito por Saulo Próspero (veja listagem ao fim da matéria).

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Ainda que abaixo do esperado, foi um avanço em comparação com as 12 medalhas conquistadas em 2021. Foram um ouro, oito pratas e seis bronzes conquistados nas categorias júnior e cadete. Fora de mundiais de base, o Brasil conquistou pela primeira vez o torneio mais importante do tênis por equipes, a Copa Davis juvenil. Além disso, outros nomes apareceram dando esperanças para a geração Los Angeles 2028. 

Steverink revezamento 4 x 100 mundial júnior de natação prata e bronze
Steverink e 4x100m feminino medalhistas no Mundial Júnior de Natação (Fina)

É importante lembrar que cada esporte ou disciplina possui suas próprias regras e classificações etárias. Enquanto algumas promovem competição para atletas até 23 anos, outras não contam com campeonatos de base, caso do skate, em que nossos principais atletas infantis e juvenis já estão entre os melhores do mundo na elite. Mas mesmo no skate há revelações, como veremos adiante. 

2022, o ano sem Jogos Olímpicos da Juventude

Era para ter sido um ano histórico no movimento olímpico: 2022 era o ano que finalmente o Comitê Olímpico Internacional realizaria uma edição dos Jogos Olímpicos no continente africano. Seria a primeira vez na África. Porém, em 2020, Thomas Bach anunciou o cancelamento dos Jogos Olímpicos da Juventude que seriam realizados neste ano. Dacar, capital do Senegal, sediará a edição de 2026. 

Kaillany Cardoso judô Mundial Júnior de judô ouro prata bronze medalha
Kaillany Cardoso, vice-campeã mundial em 2022 foi uma das prejudicadas com o cancelamento de Dakar 2022 (Gabriela Sabau/IJF)

O evento que começou desacreditado mas ganhou fãs foi porta de entrada para muitos atletas que seriam medalhistas olímpicos em edições futuras (Felipe Wu, Thiago Braz), medalhistas em mundiais (Duda Lisboa, Edival Pontes “Netinho”, Keno Machado, Marcus Vinicius D’Almeida) e outras grandes estrelas do esporte mundial (Hugo Calderano, Flávia Saraiva). É também uma forma do Comitê Olímpico Internacional testar mudanças de esporte e formato que serão introduzidas já em Paris (breaking, cerimônia de abertura na rua) e outras que seguem em laboratório, como as equipes compostas por atletas de diferentes nacionalidades.

Sem a edição de 2022, toda uma geração de atletas juvenis ficou sem essa plataforma para brilhar. O Olimpíada Todo Dia, porém, continuou com seu olhar atento nas várias competições de base que aconteceram pelo mundo em 2022, cobrindo as campanhas dos nossos atletas brasileiros e fazendo agora nossa retrospectiva dos principais destaques.

Stephan Steverink, campeão mundial

Stephan Steverink, 18 anos, mostra sua medalha de ouro (Twitter/TimeBrasil)

No Mundial Juvenil de natação realizado em Lima, Peru, o Brasil subiu ao pódio cinco vezes. A campanha começou com chave de ouro, já que Stephan Steverink foi medalhista de ouro nos 400m livre, realizados na primeira noite do evento. O nadador, nascido em 27 de fevereiro de 2004, ainda levou uma outra medalha: desta vez a de prata nos 400m medley. Além desses resultados, ele também ficou em quarto lugar nos 1.500m livre e sexto nos 800m livre.  

Ao lado de Vitor Ballan Sega, Lucas Tudoras e João Pierre Campos, o Brasil ficou em quarto lugar nos 4x200m, a apenas dois décimos de segundo da Polônia. Mesma colocação do 4x100m medley masculino formado por Lucca Tonin, Guilherme Camossato, Pedro Souza e Lucas Tudoras.

Beatriz Bezerra é prata nos 50 m borboleta no Mundial Júnior de natação
Divulgação/CBDA

As outras três medalhas vieram com as meninas. Beatriz Bezerra, nascida em 1º de março de 2006, levou duas pratas individuais, nos 50m e 100m borboleta. Ela ainda levou uma terceira medalha, integrante do revezamento 4x100m livre feminino que faturou o bronze, ao lado Celine Bispo, Sophia Coleta e Rafaela Sumida. Joice Otero Rocha participou das eliminatórias. 

Vale lembrar que a idade limite para os homens é de 18 anos, enquanto para as mulheres é de 17, impossibilitando atletas nascidas em 2004 de participarem do evento. Foi o caso de Stephanie Balduccini, nascida em 20 de setembro de 2004 e uma das grandes promessas da natação brasileira. Ela perdeu seu “melhor mundial”, já que originalmente estava programado para 2021 e foi adiado em decorrência do adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Balduccini neste ano foi a segunda maior medalhista dos Jogos Sul-Americanos em Assunção.

Salto ao pódio

Diogo Silva é prata Mundial Júnior de Saltos Ornamentais
(Diogo Silva/Instagram)

Se o Mundial de natação júnior foi mais um dos muitos torneios que contribuíram para o legado dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, foi em uma piscina com história olímpica que o Brasil levou mais duas medalhas juvenis, nos saltos ornamentais.

Disputado em Montreal, Canadá, no mesmo complexo que sediou as disputas aquáticas dos Jogos Olímpicos de 1976, o Brasil subiu duas vezes ao pódio. Foi uma prata com Diogo Silva, nascido em 18 de março de 2005, na plataforma de 10m, e um bronze com Rafael Max de Almeida, de 16 de junho de 2004, no trampolim de 3m.

Rafael Max de Almeida posa para foto com a medalha no peito
Rafael Max de Almeida posa para foto com a medalha no peito (Foto: divulgação)

Todas as medalhas foram na categoria A, para atletas entre 16 e 18 anos, mesma faixa etária de Rafael Fogaça, nascido em 25 de fevereiro de 2004, – outro pisciano em esportes aquáticos, como Stephan Steverink, Beatriz Bezerra e Diogo Silva – que conquistou o quarto lugar no trampolim de 1m.

Quatro medalhas nos tatames

O judô, um dos carros chefes do esporte olímpico brasileiro fez sua parte levando quatro medalhas nos Mundiais de base, duas no júnior e duas no cadete. 

Beatriz Freitas judô medalha de prata Mundial Júnior de judô Equador
Beatriz Freitas em ação no mundial(Gabriela Sabau/IJF)

Na categoria juvenil para atletas com até 21 anos, Kaillany Cardoso e Beatriz Freitas sagraram-se vice-campeãs mundiais, em Guayaquil, no Equador. Com apenas 18 anos, nascida em 20 de fevereiro de 2004, Kaillany levou sua prata na categoria até 63kg e Beatriz ficou com a prata entre as com até 78kg. Bia, nascida em 14 de maio de 2002, tem 19 anos, e já participa de competições adultas com a seleção. Ela é a 53ª no ranking sênior da IJF na categoria 78kg. Dentre as brasileiras, ela está atrás apenas da vice-líder Mayra Aguiar.

Alexia Nascimento (-48kg), Bianca Reis (-57kg), Michel Augusto (-60kg) terminaram em quinto, enquanto outro “diplomado” foi Kayo Santos, sétimo colocado na categoria 100kg.

Gabriel Santos judô seleção brasileira de judô Open Pan-Americano Bogotá Brasil
(Tamara Kulumbegashvili/IJF)

Já no Campeonato Mundial Cadete para atletas com até 18 anos, mais uma vez o Brasil finalizou a competição com dois vice-campeonatos. Em Sarajevo, capital de Bósnia e Herzegovina, os medalhistas brasileiros no tatame foram Bianca Reis (57kg) e Gabriel Santos (+90kg). Ambos tem 17 anos. Bianca nasceu em 14 de março de 2005 e Gabriel em 05 de novembro de 2005, ou seja, competiu com apenas 16 anos. Antônio Medeiros Neto (73kg) e Jesse Barbosa (90kg) ficaram em quinto lugar.

Promessa na pista e no campo

No Mundial Sub-20 de Atletismo, disputado em Cali, Colômbia, Gabriel Boza salvou a campanha brasileira com um bronze no salto em distância, após ter passado para a final com dificuldades pela eliminatória. Nascido em 07 de março de 2003, o atleta ganhou o bronze com 7,90m, mas já saltou para 8,04m em 2021, o recorde sul-americano sub-20 da prova.

Gabriel Boza conquista bronze no salto em distância do Mundial sub-20
(Foto: Mônica RF/CBAt)

Porém, os maiores feitos de 2022 na base do atletismo foram alcançados por Renan Gallina. Não à toa, o velocista foi eleito revelação do ano pela CBAt, ao lado da saltadora em distância Vanessa dos Santos. Com apenas 18 anos, nascido em 15 de março de 2004, Gallina foi campeão sul-americano sub-23 com o tempaço de 20s15

Sua melhor marca, porém, foi alcançada no Campeonato Brasileiro Sub-23. Com 20s12, ele estabeleceu um novo recorde brasileiro sub-23 e sul-americano sub-20. É a 30ª melhor marca do mundo de 2022, e a melhor por um atleta sul-americano desde 2019.

Renan Gallina (Wagner Carmo/CBAt)

Gallina é o sexto melhor do continente na história, atrás apenas do panamenho Alonso Edward, do equatoriano Alex Quiñónez, do colombiano Bernardo Baloyes e dos brasileiros Claudininei Quirino e Robson Conceição, únicos brasileiros a correr abaixo de 20 segundos, em 1999 e 1989 respectivamente.

Taekwondo, boxe, atletismo e futebol também vão ao pódio

Bryan Erkmann Mundial Júnior de taekwondo
Bryan Erkmann (Divulgação)

No Mundial Júnior de Taekwondo, disputado em Sofia, o Brasil levou apenas uma medalha, o bronze de Bryan Erkmann, na categoria acima de 78kg. Nascido em 25 de dezembro de 2005, ele tinha apenas 16 anos durante o torneio.

Outro esporte em que o Brasil levou um bronze no Mundial juvenil foi o boxe. Ricardo Cândido Filho foi o responsável por colocar o Brasil no pódio em La Núcia, na Espanha, na categoria até 80kg. Em 2022, o pugilista de 18 anos também foi campeão dos Jogos Sul-Americanos juvenis em Rosário, Argentina.

Ricardo Cândido Mundial Juvenil de boxe
Ricardo Cândido (Luiza Moraes-COB)

Completando as medalhas conquistadas pela base brasileira em mundiais de 2022, está o bronze da equipe sub-20 de futebol feminino, disputado na Costa Rica. Após caírem para o Japão na semifinal, nossas representantes golearam por 4 a 1 os Países Baixos, conquistando o único pódio em esporte coletivo. Vale lembrar que não houve mundiais de vôlei em 2022.

Brasil seleção feminina Sub-20 de futebol Mundial Sub-20 de futebol feminino Costa Rica ao vivo
Seleção feminina sub20 (Staff Images Woman/CONMEBOL/arquivo)

Nova geração no tênis

Outro momento importante para o esporte de base brasileiro em 2022 foi a conquista inédita da Copa Davis juvenil. A equipe composta por Gustavo Almeida, João Fonseca e Pedro Rodrigues venceu Marrocos, Paraguai, França, Austrália e Itália, antes de derrotar os Estados Unidos na grande final.

O grande nome do Brasil foi João Fonseca, que venceu todos os seis jogos individuais disputados, além de dois confrontos de duplas. Com apenas 16 anos, ele é o 44º colocado na lista juvenil da Federação Internacional de Tênis (ITF), que reúne jogadores com até 18 anos. Nascido em 21 de agosto de 2006, é também o atleta não-skatista mais jovem mencionado neste texto.

MEB Cup - João Fonseca faz devolução de backhande
João Fonseca em ação na Copa Maria Esther Bueno 2022 (Foto: Peter Wreder)

Neste ano, Fonseca participou de três Grand Slams juvenis, tendo como melhor resultado as oitavas de finais em Roland Garros. A partir de outubro também deu início à sua carreira profissional, participando de challengers e ITFs no Brasil. Com 20 pontos conquistados na ATP, ele é 831º melhor do mundo, sendo o mais jovem jogador no top1000 mundial.

Podemos falar de base no skate?

Um caso curioso que confunde qualquer prognóstico de base é o skate, esporte em que crianças com pouco mais de 10 anos competem de igual para igual com veteranos de quase 50. Foi essa história inclusive que Fernando Gavini contou muito bem durante o STU Open Rio: a parceria entre Sandro Dias, o Mineirinho, um ícone do esporte aos 47 anos, e Gui Khury, com 14 anos recém-completados.

Gui Khury é uma das revelações do ano, competindo cada vez mais constantemente entre os melhores do mundo. Nascido em 18 de dezembro de 2008, Gui já é uma estrela no vertical há alguns anos, e levou em 2022 duas medalhas nos X-Games de Chiba, Japão. Recentemente, o jovem anunciou uma dedicação maior ao park, mirando uma vaga olímpica.

Ghi Khury prata e bronze X Games
Gui Khury nos X Games (Instagram @gui_khury)

Ainda pré-adolescente, Rayssa Leal se sagrou campeã mundial este ano, aos 14 anos, e foi um dos principais destaques do Time Brasil em 2022. O skate street teve dois eventos importantes e Rayssa não deixou dúvidas, levando tanto o Super Crown do SLS quanto o STU Open, ambos no Rio de Janeiro. Nascida em 4 de janeiro de 2008, ela é a atleta mais jovem a representar o Time Brasil em Jogos Olímpicos e poderá ganhar uma segunda medalha olímpica com apenas 16 anos. Com apenas 15 anos, Raicca Ventura ficou em quarto lugar no STU Open e desponta como um dos principais nomes do esporte.

Fique de olho

Gustavo Xavier Copa do Mundo de mountain bike
Gustavo Xavier em pódio com chileno e espanhol na Copa do Mundo de MTB (Francisco Bandin)

Dentre outros juvenis de destaque em 2022 podemos citar Gustavo Xavier, que conquistou dois pódios em etapas da Copa do Mundo de Ciclismo Mountain Bike, levando a prata em Albstadt  e o bronze em Val di Sole.  

Tiago Quevedo e Breno Kneipp bateram na trave no Mundial Júnior da da classe 49er da vela. A dupla brasileira entrou em terceiro lugar na regata final mas acabou em quarto na competição disputada na região italiana da Lombardia.  

Tiago Quevedo/Breno Kneipp no Mundial Júnior da 49er
Tiago Quevedo/Breno Kneipp no Mundial Júnior da 49er (Instagram)

Lista completa dos medalhistas brasileiros em Mundiais de Base (por Saulo Próspero)

400m livre Júnior Masculino Natação: Stephan Steverink (ouro)

63kg Júnior Feminino Judô: Kaillany Cardoso (prata)

78kg Júnior Feminino Judô :  Beatriz Freitas (prata)

Acima de 90kg Cadete Masculino Judô: Gabriel Santos (prata)

57kg Cadete Feminino Judô: Bianca Reis (prata)

400m medley Júnior Masculino Natação: Stephan Steverink (prata)

50m borboleta Júnior Feminino Natação:  Beatriz Bezerra (prata)

100m borboleta Júnior Feminino Natação: Beatriz Bezerra (prata)

Plataforma A Masculino Saltos Ornamentais: Diogo Silva (prata)

Salto em Distância Sub20 Masculino Atletismo: Gabriel Luiz Boza (bronze)

Acima de 78kg Júnior Masculino Taekwondo: Bryan Erkmann da Silva (bronze)

Futebol Feminino Sub20 (bronze)

Revezamento 4x100m livre Júnior Feminino Natação (bronze)

Boxe Peso Pesado Ligeiro (80kg) Youth Masculino: Ricardo Cândido de Oliveira Filho (bronze)

Trampolim 3m A Masculino Saltos Ornamentais: Rafael Max de Almeida (bronze)

Bianca Reis judô Mundial Juvenil de judô medalha de prata medalha de ouro
Bianca Reis, vice-campeã mundial cadete em 2022 (CBJ/arquivo)

Interessado em cinema, esporte, estudos queer e viagens. Se juntar tudo isso melhor ainda. Mestrando em Estudos Olímpicos na IOA. Estive em Tóquio 2020.

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