Dezessete anos fora do Brasil, técnico nas melhores academias e centros de tênis do mundo e um desconhecido para a maioria dos brasileiros. Esse é Leo Azevedo. Depois de passar pela Espanha duas vezes e Estados Unidos, o técnico está na Escócia. A missão é preparar o futuro da modalidade no país. “Me deram a chance de começar tudo do zero, do jeito que eu penso”.
Depois de longos períodos trabalhando na Espanha e nos Estados Unidos, Leo Azevedo decidiu rumar para a Escócia. Comparando aos lugares onde já havia trabalhado, o novo país não tem tanta história na modalidade. Contudo, o que mais chamou a atenção e despertou o desejo do brasileiro aceitar o convite foi outro detalhe.
“O projeto que eles tinham e me apresentaram me conquistou. A ideia aqui é fazer um novo Centro da Federação Britânica (LTA) na Escócia, não só pro país como pra Grã-Bretanha. Vou trabalhar com atletas entre 12 e 16 anos e ajudar na preparação deles e na transição para o profissional. A possibilidade de começar tudo do zero e do jeito que eu acho que tem que ser feito me conquistou”.
Leo Azevedo foi o primeiro nome anunciado oficialmente para o novo centro de formação britânico e já recebeu elogios. Ao saber da nova função do brasileiro, Patrick McEnroe, ex-tenista profissional, não economizou palavras. “Leo Azevedo é uma pessoa incrível e um mentor incrível para as crianças. Ele é apaixonado por tênis e ajudará os jovens a se tornarem jogadores e ser humanos melhores”, comentou em entrevista a BBC.
Mas quem é Leo Azevedo?
Apaixonado por tênis desde os 10 anos, praticante do esporte desde os 12 e professor a partir dos 18. Assim foi como começou a relação de Leonardo Azevedo com a modalidade. Aos 27 uma proposta da Espanha colou tudo em dúvida. “Era a chance da minha vida, de mudar tudo e eu fui”.
O convite e a saída do país aconteceu em 2003, mas para entender melhor temos que voltar para 2001. Um pouco depois do acidente das Torres Gêmeas, Leonardo Azevedo conseguiu uma vaga em um curso de tênis na Europa. Foi, na base da cara e da coragem, completou o curso e fez alguns contatos e retornou ao Brasil.
No começo de 2003, Leonardo Azevedo recebeu um email. Era da academia de tênis do espanhol Juan Carlos Ferrero, que na época era top do ranking mundial. Depois de alguns anos na Espanha, Leo Azevedo foi o técnico de Thomaz Bellucci e Ricardo Melo no circuito mundial, foi o responsável pelo tênis brasileiro na Olimpíada de Pequim, em 2008, até aceitar uma proposta da USTA (Associação de tênis dos Estados Unidos).
Depois de oito anos nos Estados Unidos e de ter assumido o cargo de lead Coach na USTA, período em que dois atletas foram top cinco do ranking mundial infanto-juvenil, Leo Azevedo se mudou para a Espanha mais uma vez.
Desta vez, a chegada no país foi para trabalhar em um novo lugar. Após uma estadia de sucesso nos Estados Unidos, Leo Azevedo foi fazer parte da equipe da BTT Academy, considerada uma das melhores academias de tênis do mundo.
Lá, após uma parceria da CBT (Confederação Brasileira de Tênis), Leo Azevedo passou a treinar Felipe Meligeni e Orlando Luz. Contudo a parceria com os tenistas brasileiros durou pouco. O convite para a Escócia apareceu e os planos passaram a ser outros.
Sempre retornará para a pátria
Tirando o período que treinou alguns tenistas brasileiros do circuito mundial, como Ricardo Melo e Thomaz Bellucci, Leonardo Azevedo passou a maior parte dos últimos 17 anos fora do país. Com duas passagens pela Espanha, uma pelos Estados Unidos e agora iniciando o projeto na Escócia, o brasileiro trabalhou, na maior parte do tempo, com atletas de diversas nacionalidades.
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Perguntado sobre o porque de nunca ter trabalhado, a nível de competição, dentro do Brasil, Leonado Azevedo é direto. “Nunca me fizeram o convite. Nunca me deram a oportunidade, não apresentaram um projeto como esse da Escócia ou como qualquer um em que estive trabalhando nos últimos anos ao redor do mundo”.
Leo Azevedo está na primeira fase do projeto na Escócia. Para o que foi proposto, a ideia é que o brasileiro siga algum tempo treinando o futuro do tênis no país europeu. Contudo, quando perguntado se fazer o mesmo tipo de trabalho no Brasil é possível, Leo usa a literatura para responder. “Uma vez li um livro do escritor peruano Julio Ramon Ribeyro e ele dizia que o homem retornará para a sua pátria. Posso dizer para você que penso igual. Não sei quando vai ser, mas vou voltar ao Brasil”.
Phil Jackson brasileiro?
Phil Jackson é considerado por muitos ou o melhor técnico da história da NBA. O treinador foi o comandante de Chicago Bulls de Michael Jordan e do Los Angeles Lakers de Kobe Bryant, tendo hoje 13 títulos da NBA ao longo de sua carreia. Contudo, além do sucesso pelo número de conquistas, outro fator chama a atenção na carreira de Phil.
Quando era treinador, antes do início de cada temporada, Jackson indicava livros para que seus jogadores fizessem a leitura durante o decorrer das partidas e dos meses. Segundo o ex-técnico, o hábito da leitura faria com que os atletas se desenvolvessem melhor e pudessem entender melhor o que ele queria em quadra de cada um. Leonardo, que é um apaixonado por livros e cultura, pensa de forma parecida sobre a relação entre o esporte e a literatura.
“Eu penso que o tênis é um esporte que exige muita concentração e, para mim, a leitura é uma boa forma de treinar isso. Normalmente quando se vai ler um livro, está a pessoa e o livro sozinhos. É preciso que se concentre na história e em tudo que a história te conta. Por conta disso eu indico alguns livros para os meus atletas e, em alguns casos, cobro a leitura. Mas não me considero um Phil Jackson brasileiro não”.
Cada vez mais difícil
Nos últimos anos, Leo Azevedo tem trabalhado com a formação do tênis pelo mundo. Em sua última passagem pela Espanha, o técnico treinou Orlando Luz e Felipe Meligeni, em parceria uma parceria entre a academia e a Confederação Brasileira de Tênis (CBT), na transição dos dois tenistas entre as categorias de base e o começo das disputas em torneios adultos.
Trabalhando com essa faixa etária, normalmente a partir dos 16 anos, Leonardo Azevedo encontrou um problema principalmente nos últimos anos, o celular. É um fato que a maioria, se não todos, os atletas nessa idade tem um smartphone. Com isso, fazer com que os jovens tenistas se concentrem somente no treino, no que envolve um treinamento e na leitura para desenvolvimento da concentração é cada vez mais difícil.
“É cada vez mais difícil. Sempre que podem eles vão estar com o celular na mão e convencer cada um deles que é preciso ler e desenvolver melhor a concentração é mais complicado. Apesar das regras que não se pode levar o celular para as refeições e para os locais de treino, é complicado mudar esse hábito dessa geração. Contudo, quem consegue colocar a leitura no dia a dia melhora seu jogo”.