Fernando Meligeni encerrou sua carreira como atleta de tênis da melhor forma possível. Nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, em 2003, Fininho fez uma final dramática com o chileno Marcelo Ríos, ex-número 1 do mundo, e arrancou a vitória após perder o primeiro set e vencer os dois seguintes no tie-break. A força do brasileiro para conseguir aquela virada na República Dominicana e, consequentemente, o ouro veio de derrotas emblemáticas ao longo de sua carreira: a semifinal das Olimpíadas de Atlanta e a edição de 1999 de Roland Garros.
Em live realizada no Instagram do Olimpíada Todo Dia, Fernando Meligeni relembrou a conquista que encerrou sua trajetória dentro das quadras. “Eu chego lá com uma bagagem, a semifinal de Roland Garros e a semifinal das Olimpíadas. Eu senti, como atleta, que falhei nessas duas vezes. E queria ter uma última oportunidade de não falhar. Me alimentei muito disso. As pessoas me perguntam até hoje de onde veio aquela garra. E eu respondo de não querer falhar de novo”, disse.
Auge da carreira
Fernando Meligeni viveu o auge de sua carreira em 1999, quando venceu o americano Pete Sampras no Masters 1000 de Roma e chegou a figurar entre os 25 melhores do mundo. Na ocasião, Fininho conseguiu neutralizar o, na época, melhor tenista de todos os tempos e vencer com contundência, fazendo 6/3 e 6/1.
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“Ganhar do Sampras naquela época era como vencer o Federer ou o Nadal no auge. É um cara que sempre foi número 1 ou 2 do mundo. Foi um jogo que eu joguei um tênis absurdamente técnico e tático. Fui perfeito, consegui colocar ele em uma teia de aranha. Você coloca o jogador dentro dessa teia de aranha e começa a parecer que ele é ruim. Foi o jogo mais importante, mais incrível da minha carreira”, afirmou.
Derrota na semi de Roland Garros
Fernando Meligeni ganhou confiança para fazer uma ótima participação em Roland Garros. Na França, ele venceu os cabeças de chave número três, Patrick Rafter, número 14, Felix Mantilla, e número seis, Alex Corretja. Mas, na semifinal, após abrir 4 a 0 no primeiro set, sofreu a virada para o ucraniano Andrei Medvedev. Na verdade, Fininho acabou perdendo para um adversário extraquadra.
“Foi a primeira e única vez que a soberba me venceu dentro de uma quadra de tênis. ‘Você nunca foi soberbo?’ Todo mundo já foi soberbo na vida, mas soberbo achando que eu não perderia nunca fui, porque eu sabia que era um cara limitado tecnicamente. Eu sempre joguei tênis pensando no pior, eu era estratégico e físico. Era um cara que não passava por cima, eu ganhava por pontos, não dava nocaute. Quando fiz 4 a 0, em nenhum momento eu segurei, porque minha confiança era tanta. Eu não parei e falei: ‘Ô, soberbo, volta. Calma que você é o Fernando Meligeni. Ganha por pontos’. Se eu tivesse feito isso, ganhava do Medvedev. Não fiz, perdi e ele tem o mérito também”, admitiu.
Olimpíadas de Atlanta
Três anos antes de viver a melhor fase da carreira, Fernando Meligeni já havia batido na trave. Nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, ele chegou à semifinal, onde foi derrotado pelo espanhol Sergi Bruguera, bicampeão de Roland Garros. Naquela edição, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu que haveria a decisão pelo bronze. Fininho foi superado pelo indiano Leander Paes e ficou sem a medalha, mas se tornou o brasileiro com a melhor campanha olímpica no tênis.
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“Passei perto da medalha. Naquela época era a única edição que tinha terceiro e quarto. Quando comecei a chegar mais perto, eu não sabia se tinha isso. Quando eu vou para o jogo achando que já era o da medalha, as pessoas me falam que eu ainda tinha que ganhar outra partida. Foi duro engolir aquela derrota por vários motivos. Mas faz parte. O esporte e a vida são de vitórias e derrotas. A gente mais perde do que ganha. Nunca fui derrotista, mas quando você percebe isso começa a entender”, disse.
O surgimento de Guga
Fernando Meligeni acompanhou de perto o surgimento de Gustavo Kuerten, o Guga, no cenário do tênis nacional e internacional. Após vencerem um torneio de duplas juntos, o garoto abusado e o número 1 do Brasil se enfrentaram nas quartas de final de um Challenger, em Campinas. Meligeni foi derrotado e não escondeu a raiva, mas seu treinador, Ricardo Acioly, apontou que ele não havia perdido para ‘qualquer um’.
“No tênis, não tem coisa mais devastadora do que perder para um cara do seu país e mais jovem. Para a gente é como se estivesse dando lugar para um adversário. Mas também é um sinal de alerta no sentido de ‘trabalha aí que ele pode passar por cima’”, disse, revelando o que ouviu de seu técnico no vestiário. “Ele disse: ‘Esse vai dar trabalho. Você não perdeu para qualquer um. Ele é bom e vai dar trabalho’.
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Com o passar do tempo e o crescimento de Guga na modalidade, Fernando Meligeni passou a conhecer melhor e depositar confiança no catarinense. “Esse moleque pode dar muito trabalho. Ele saca muito bem, tem uma baita esquerda, uma direita sólida e ele não respeita. Não está nem aí. Mete a mão”, disse.
Expectativa correspondida
A expectativa de Fernando Meligeni se tornou concreta em 1997, quando Guga, aos 21 anos, surpreendeu a todos, menos Fininho, e venceu o primeiro de seus três títulos em Roland Garros.
“Ele vinha tropeçando na Europa, mas jogando bem. Eu estava sentado com o Raí na quadra um e eu vejo o Guga ganhar do Thomas Muster (ex-número 1 do mundo). Na hora falei: ‘Não abre a porta para esse leão que a jaula vai ficar pequena’. Ele jogou a final dando risada. São esses fenômenos que você vê e fala: ‘São diferenciados, incríveis’, finalizou.