Aos 16 anos, Edival Pontes, o Netinho, foi campeão olímpico da juventude e se transformou na maior promessa do taekwondo brasileiro. O título, até certo ponto, incomodava o atleta, que sempre quis transformar o título dado a ele em realidade. A transição para o esporte profissional, no entanto, não foi simples. Logo no primeiro ano como adulto, em 2015, pensou em abandonar tudo. Mas, para sorte do esporte brasileiro, ele seguiu em frente. Bons resultados vieram, mas ainda faltava um pódio num evento de grande porte. E ele saiu do melhor jeito possível neste domingo. Em sua primeira participação em Jogos Pan-Americanos, o paraibano, agora com 21 anos, atropelou todos os adversários que teve pela frente e conquistou a sonhada medalha de ouro.
“Medalhei em dois Grand Prix, só eu consegui isso. Então, eu venho mostrando no decorrer do tempo que eu não ia ser só promessa e que, com o tempo, eu ia mostrar resultados e está aí, graças a Deus, campeão dos Jogos Pan-Americanos também”, afirmou Netinho, logo depois da final, garantindo que os sonhos não vão parar neste ouro conquistado em Lima. “Estamos pensando em Tóquio com certeza. Vamos tentar classificar pelo ranking. Como aqui eu ganhei 40 pontos, vou subir bastante e vou continuar na briga”, planeja o atleta, que não escondia a felicidade pelo objetivo alcançado.
“Eu estou muito orgulhoso disso aqui (medalha de ouro). A gente vem trabalhando duro. Tive uma decepção, infelizmente no Mundial. Então, essa medalha tem um gosto muito especial. Eu ia ficar triste se eu fosse prata, para ser sincero e, graças ao esforço e ao trabalho, deu certo”, afirmou Netinho, se referindo ao fato de ter sido eliminado nas oitavas de final do Mundial deste ano.
A volta por cima aconteceu da melhor maneira possível. O sonho que ele vinha tendo todas as noites literalmente virou realidade. “A gente dorme, esses dias aí, desde que eu cheguei aqui eu sonhava que eu estava ganhando e aí eu acordava e falava: ‘Meu Deus, não aconteceu ainda’ (risos). Então, aqui não é sonho, já me belisquei ali várias vezes. Graças a Deus, é um sonho realizado”.
Além da do ouro no Pan, Netinho tem mais motivos para comemorar. Sua namorada, Talisca Reis, foi prata na véspera. Ou seja, o casal vai embora de Lima com duas medalhas na bagagem. “A gente queria os dois ouros! Aí ontem, quando ela perdeu, até me deu um estímulo a mais para ganhar hoje”, contou o brasileiro.
Trajetória até o título
Para alcançar o objetivo que havia traçado, Netinho entrou determinado no tatame armado no ginásio da Villa Deportiva de Callao. Campeão da edição de 2018 do Campeonato Pan-Americano de taekwondo em sua categoria, o brasileiro não disputou as oitavas-de-final e entrou na competição direto nas quartas. Seu primeiro adversário foi o costarriquenho Jorge Soto, que foi completamente dominado por Edival Pontes, que chegou à vitória com tranquilidade por 30 a 17.
Na semifinal, o adversário foi o chileno Ignacio Morales. O primeiro round foi parelho, vencido pelo brasileiro por apenas 3 a 2. Mas nos dois períodos seguintes, Netinho deslanchou, não deu nenhuma chance para o rival e carimbou o passaporte para a final com autoridade: 18 a 7.
Na final, Netinho teve pela frente o maior desafio. Frente a frente com ele estava o dominicano Bernardo Pie, vencedor do Campeonato Pan-Americano do ano passado na categoria até 63kg, que não é olímpica. Superar o rival significava acabar com o estigma de “eterna promessa” e, definitivamente, virar realidade.
Netinho não perdeu a chance que estava ali a sua frente. O atleta da República Dominicana chegou a estar vencendo por 11 a 5 no final do segundo round, mas o brasileiro não desisitiu, foi para cima e conseguiu a virada para vencer por 17 a 13 e colocar no peito a medalha de ouro que ele tanto queria. “Quando eu sentei depois do segundo round, eu falei: ‘calma, vamos respirar, não vamos desesperar, estou melhor fisicamente que ele’. Eu perbeci que, quando a gente clinchava, ele tava bem cansado. Então, eu decidi chutar ele até o final e, graças a Deus, a defesa dele não estava tão boa e a gente conseguiu o ouro”, descreveu.
Feminino
Além de Netinho, o Brasil contou com a participação de Rafaela Araújo neste domingo. A atleta, no entanto, acabou sendo eliminada na primeira luta. Pelas oitavas de final da categoria até 57kg, ela perdeu para a equatoriana Mell Mina por 10 a 5 e não teve sequer a chance de ir à repescagem, já que a algoz foi derrotada na luta seguinte pela argentina Gianella Evolo.
Último dia
Dos quatro brasileiros que entraram em ação até agora nos Jogos Pan-Americanos, três ganharam medalha. O país soma um ouro, uma prata e um bronze. Nesta segunda-feira, último dia da modalidade em Lima, o país terá mais quatro chances de subir no pódio com Maicon Andrade, Ícaro Miguel, Milena Titoneli e Raiany Fidélis.