O surfe é uma modalidade individual, mas é o coletivo que fará a diferença em fevereiro de 2024, quando Filipe Toledo, João Chianca e Gabriel Medina disputarem o ISA Surfing Games, em Porto Rico. Filipe e Chumbinho já estão garantidos para a Olimpíada de Paris-2024, enquanto Medina ainda busca vaga nos Jogos. Para Medina se classificar, o Brasil terá que ser campeão da disputa por equipes da competição organizada pela Associação Internacional de Surfe (ISA). Portanto, será preciso que os três atletas vão bem para isso acontecer. Se depender de Filipinho, o compatriota estará nos Jogos. Em entrevista ao Olimpíada Todo Dia, o bicampeão mundial declarou seu desejo de contar com o amigo no palco do maior evento esportivo do planeta, sonhando com um pódio 100% verde-amarelo.
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“Neste momento, eu não tenho que pensar somente em mim. Com mais uma vaga brasileira, as nossas chances de medalhas aumentam, e por que não sonhar com um pódio triplo para o nosso país? Sem dúvidas, irei dar o meu melhor no ISA para abrirmos mais essa vaga para o Gabriel (Medina). Seria incrível contar com ele lá também,” declarou Filipinho, que venceu o WSL Finals, em Trestles, nos Estados Unidos, na última semana, conquistando seu segundo título mundial de surfe.
O Circuito Mundial de Surfe (WSL) distribuiu dez vagas olímpicas para Paris-2024 no masculino, com um limite de dois atletas por país. Filipe Toledo se classificou justamente por ter sido o campeão da última temporada, enquanto João Chianca carimbou o passaporte ao ser o quarto colocado do ranking. O tricampeão mundial Gabriel Medina ficou em sexto lugar e, sem lugar no Finals, ficou sem vaga através do circuito. Agora, sua última chance será no ISA Surfing Games de 2024, que dará uma vaga extra para o país que for o vencedor da disputa por equipes. Ao todo, 24 atletas disputarão o surfe masculino em Paris 2024.
O que é o ISA Surfing Games
O ISA Surfing Games é um torneio individual no formato de eliminação dupla. Cada país poderá ter até três atletas em cada naipe. Todos começam na “chave principal”, e aqueles que perdem pela primeira vez passam a disputar a repescagem. Um atleta só é eliminado da competição após uma nova derrota na repescagem. A classificação final de cada surfista dá um número de pontos específico para ele. Assim, a disputa por equipes consiste em somar os resultados obtidos pelos três atletas.
Exemplificando com números, o ISA Surfing Games de 2022 aconteceu em El Salvador. O Japão foi o campeão da disputa por equipes masculinas, pois Kanoa Igarashi foi o campeão e levou 1.000 pontos, Murakami Shun ficou em 11º e levou 475 e Kamiyana Keanu foi o 25º e anotou 360, acumulando um total de 1.835 pontos. O Brasil teve como representantes Miguel Pupo, Samuel Pupo e Jadson André e ficou em quarto lugar no geral, com 1.450 pontos. Os irmãos Pupo ganharam 500 pontos cada por ficarem em nono lugar, enquanto Jadson recebeu 450 por ter sido o 13º colocado.
Filipinho quer medalha
Esta será a segunda vez que o surfe estará presente nos Jogos Olímpicos. Em sua estreia, em Tóquio-2020, o Brasil contou com a participação de Ítalo Ferreira, que faturou um ouro, e Gabriel Medina, quarto colocado. Dessa forma, Filipe Toledo debutará no palco olímpico. Ele quer manter a escrita de ter o país no topo do cenário olímpico, mas para isso, terá que superar um histórico ruim de resultados em Teahupo’o, no Taiti, onde acontecerão as disputas do surfe. Em oito participações na etapa do Circuito Mundial, ele chegou na semifinal apenas uma vez e não passou das oitavas nas demais.
“Representar o Brasil em uma Olimpíada é sonho de qualquer atleta de alta performance. Acho que ganhar uma medalha olímpica é o ápice que qualquer esportista pode alcançar. Neste momento, pretendo ficar bastante atento às condições do mar em Teahupoo, para quem sabe fazer algumas viagens para lá antes das Olimpíadas, para pegar mais ‘casca’ e experiência no pico. Mas, não quero colocar nenhuma pressão desnecessária. Quero apenas aproveitar o processo, e enquanto não chegarem os Jogos, o foco vai ser totalmente no circuito mundial”, comentou.
O Taiti, localizado na Polinésia Francesa, fica a quase 16 mil quilômetros de distância de Paris, sede oficial dos Jogos Olímpicos de 2024. “Eu acredito que a experiência pode não ser a mesma, por não estarmos concentrados no mesmo lugar dos outros atletas de outras modalidades, mas imagino que a atmosfera e o sentimento são os mesmos se estivéssemos no mesmo local. Teremos atletas de todos os lugares, com o mesmo objetivo de conquistar uma medalha para o seu país. O orgulho de representar o Brasil não vai ser diferente por conta disso”, disse o atleta de 28 anos.
Inédito bicampeonato mundial
Desde a ascensão da Brazilian Storm, Filipe Toledo desponta como um dos principais atletas do circuito. No entanto, ele bateu na trave em algumas oportunidades antes de conquistar seu primeiro título mundial. O paulista ficou em quarto lugar em 2015 e em 2019, foi terceiro em 2018 e vice-campeão em 2021, até enfim ser campeão em 2022. Apesar da longa espera até o topo do mundo, Filipinho não demorou para levar o título do circuito outra vez. Ao levantar o troféu outra vez em 2023, ele tornou-se o primeiro brasileiro a ser campeão mundial por duas vezes de forma consecutiva.
“É sem dúvidas muito especial para mim. Inclusive, o fato de um título back-to-back nunca ter acontecido antes para os surfistas brasileiros estava me deixando bastante ansioso antes das finais. Me deixou com bastante desconfiança se iria realmente conseguir esse feito. Mas, depois que entrei na água, as coisas foram se acalmando e deu tudo certo!”, falou ele, que venceu o australiano Ethan Ewing na final deste ano.
Filipe Toledo, aliás, é um defensor do formato do Finals para decidir os campeões do circuito. Nele, os cinco primeiros colocados da temporada regular disputam o título em uma única etapa ao final do ano. Desde que o sistema foi implementado, em 2021, ele acumula um vice e dois títulos. Nas duas vezes em que foi campeão, chegou ao Finals como o líder do ranking. Quando foi vice, estava em terceiro lugar antes da etapa final e ganhou uma posição.
“O formato possui mais vantagens do que desvantagens. Infelizmente, podem acontecer casos como o da Carissa, que liderou o circuito praticamente o ano inteiro e não conseguiu terminar com o título em dois anos consecutivos. Se vermos somente por esse lado, pode parecer um pouco injusto. Mas, esse formato também oferece bastante visibilidade para o esporte, todas as pessoas esperam o ano inteiro para chegar o dia das finais. Acredito que dessa forma conseguimos atrair ainda mais espectadores, patrocinadores e deixar um espetáculo mais emocionante para todos.