No dia que marca o início do verão no hemisfério sul, a Tempestade Ítalo Ferreira chegou ao Brasil. Nada de frente fria. O melhor surfista do ano trouxe calor humano, a vaga na Olimpíada de Tóquio, o troféu da Etapa de Pipe Masters, no Havaí, e o troféu de campeão do Circuito Mundial de surfe da WSL (World Surf League). “Deus escreveu a melhor história possível.”
Como se estivesse jogado na poltrona de casa, relaxado, cansado também – “Não consegui trocar o voo, tô com dor nas costas de ficar naquele assento”, Ítalo Ferreira deixou as emoções rolarem em sua primeira coletiva de imprensa no Brasil. “Estava muito ansioso. Cheguei ao Havaí um mês antes. Aqui estão as conquistas. Foi um ano de altos e baixos, perdas, conquistas, lesões. Com toda minha perseverança, minha garra, tudo deu certo!”
Na Etapa de Pipe Masters, decisiva para a vaga em Tóquio e o título do Circuito Mundial, Ítalo Ferreira derrotou Gabriel Medina na final e passou por Kelly Slater na semi. “Desde a disputa contra o Yago Dora foi difícil, era um cara de quem já tinha perdido. Fui para a semifinal e peguei o Kelly, um cara que gosta de botar muita pressão desde o começo e que gosta de conversar. Mas eu passei rápido, dei um alô e fui embora. Fechei pipe e dei o backdoor para ele. Acabou tomando uma série na cabeça e eu mandeu uma nota 8 na sequência. Já Gabriel é um cara quase impossível de vencer em Pipeline. Acabei vencendo os dois melhores de todos os tempos no Havaí.”
O feito é histórico e só premia mais uma geração de surfistas brasileiros, a Brazilian Storm, a Tempestade Brasileira. Por anos, o surfe brasileiro foi, de certa forma, marginalizado. Mas as gerações anteriores persistiram, o surfe virou olímpico e os frutos estão sendo colhidos. “A gente conseguiu quatro títulos em seis anos. Essa galera mudou o surfe como é visto no Brasil. Não é coisa mais de maloqueiro. Hoje, as pessoas param diante da TV para assistir.”
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E irão parar para acompanhar o surfe na Olimpíada de Tóquio 2020. Muita coisa vai rolar no próximo ano, o Circuito, pela primeira vez, vai sofrer a influência dos Jogos Olímpicos e todos terão que se preparar. Ítalo Ferreira mais ainda. Ele é o cara a ser batido. “Vai ser um ano de correria. Pode ser um ano incrível se eu conquistar meu objetivo: ganhar a medalha olímpica. Começo minha preparação já em janeiro. Enquanto alguns estarão descansando (risos). Sempre fiz isso, dar um passo sempre à frente.”
E Ítalo já provou um gostinho das ondas japonesas e também saiu como campeão. “Campeonato da ISA deu poucas ondas, mas vai ser legal nos Jogos. Vai ser mata-mata, eliminatório, só os caras mais sinistros. Vai ser um campeonato que é meu próximo objetivo.”
Agora na crista da onda, o melhor surfista de 2019 já está cascudo e se alimenta das críticas. “Eu não era o favorito para ganhar esse título. Cheguei na Europa meio apagado, como muitos sites disseram e soltaram vídeos, eu vi, até joguei meu celular na parede na hora, mas isso me deu mais gana ainda. Na França, fiz final, perdi do Jeremy. O campeonato era dele, tem vez que é assim mesmo. Mas alí comecei a me recuperar.”
Sorridente e muito alegre, Ítalo também ficou com a voz toda embargada e os olhos marejados quando lembrou de sua vó. “Um pouco antes de eu ir para o Havaí, a minha avó faleceu. E ela sempre quis me ver campeão do mundo. Mas de onde ela está com certeza está no melhor assento. Com uma coroa de flores, eu orei na praia de Pipe e peguei uma onda para minha vó.”
E o clima ao redor do campeão foi fundamental. Ítalo se cercou de amigos, da família e de sua namorada, Mari Azevedo. “Havaí, este ano, foi diferente para mim. . Energia foi muito diferente. Estava me sentindo bem. Ficava com a galera, atletas locais eu sentia aquela energia boa que eles estavam passando.”
Só que uma coletiva também é feita para responder perguntas urgentes. Ítalo Ferreira também comentou a interferência de Medina para cima de Caio Ibelli no Pipe Masters. “Surfe é um esporte individual, a gente batalha pelo melhor, tenta fazer a melhor performance dentro da água. O Gabriel é um atleta muito competitivo. Até no futebol de mesa, ele entra para ganhar. Mas, claro, você tem que fazer o jogo. às vezes, prefiro não fazer esse jogo. Quero me concentrar no que eu tenho que fazer. Estou preocupado comigo, com a minha mente, se ela estiver boa eu vou conseguir. Então, sobre a interferência, foi uma jogada inteligente, mas que não soou muito bem para algumas pessoas.”
Depois da coletiva em São Paulo, a Tempestade Ítalo Ferreira parte para Natal, no Rio Grande do Norte, onde desfilará em carro aberto. No embalo, ele ainda segue para sua cidade, Baía Formosa, onde tudo começou.