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Pan 2019

A ‘velha’ e a ‘doida’ que surfaram a própria onda e brilharam em Lima

Chloé Calmon e Nicole Pacelli saíram do convencional antes de brilhar pelas ondas do mundo e conquistar medalha no Pan

Chloé Calmon, do surfe, nos Jogos Pan-Americanos
Chloé e seu longboard (Alexandre Loureiro/COB)

Para começar elas são mulheres, então logo de cara já enfrentaram barreiras que todas elas sofrem em qualquer atividade que façam. Além disso, Chloé Calmon e Nicole Pacelli não se deixaram levar pelo convencional na hora de decidir qual modalidade do surfe iriam seguir. Deu certo, e a ‘velha’ e a ‘louca’ colheram nos Jogos Pan-Americanos de Lima frutos de suas escolhas.

No último dia de competições em Punta Rocas, pico a cerca de cinquenta quilômetros ao sul da capital peruana, Nicole Pacelli conquistou a medalha de bronze no SUP surfe e Chloé Calmon foi ouro no longboard. Com as duas medalhas, o Time Brasil fechou os Jogos Pan-Americanos com quatro, sendo duas de ouro.

Nicole foi a primeira a cair na água. Acabou perdendo a repescagem para Isabella Gomez, resultado que levou a colombiana para a final, foi campeã, e definiu o bronze para a brasileira. Após a disputa ela contou que precisou inovar para ser feliz no esporte que pratica.

Nicole Pacelli, do SUP surfe, nos Jogos Pan-Americanos

A ‘doida’ do remo (Alexandre Loureiro/COB)

“Eu comecei a surfar de stand up eu tinha uns 16 anos. Quando eu comecei as pranchas eram bem grandes e quando eu ia para o mar os outros surfistas e todo mundo me perguntava: ‘nossa o que você está fazendo com esse remo, essa prancha? Que doida!”, diverte-se a atleta, hoje com 28 anos.

“Aí eu fui evoluindo. Corri o primeiro circuito mundial feminino de stand-up e ganhei. Então eu fui a primeira campeã mundial de stand up”. O bronze em Lima também tem seu caráter desbravador. Garantido na sexta (2), antes das finais de domingo portanto, foi o primeiro do SUP Surfe na história dos Jogos Pan-Americanos.

“Quando eu soube que o stand up ia estar nos Jogos Pan-Americanas agarrei a oportunidade com unhas e dentes. Quando eu comecei a maioria das pessoas nem sabia o que era o esporte. Ver o stand up estar em um evento desse tamanho é uma realização muito grande. Eu nunca pensei. E poder estar aqui representando meu país é um sonho”.

Apesar de feliz com os dias no Peru, Nicole Pacelli ainda tem fome. Quando questionada sobre o que poderia passar por sua cabeça quando fosse ao pódio – ela atendeu a reportagem antes da cerimônia de premiação – chegou a respirar fundo, talvez emocionada com o que estava imaginando. Mas na hora de falar, saiu isso: ‘eu vou olhar para a menina que vai estar ali em primeiro e pensar: da próxima vez eu vou estar aí no seu lugar’, finaliza dando uma gostosa gargalhada.

Na contramão para bailar

Chloé Calom fez diferente. Em vez de aparecer no mar com uma prancha que ninguém conhecia direito, preferiu talvez a mais tradicional do surfe, o longboard. Ela até começou com a chamada pranchinha, mas por incentivo de seu pai pegou o pranchão. “Foi amor à primeira onda”.

“Muita gente começa com o longboard, que é uma prancha mais fácil, e depois diminui para as pequenas. Para mim foi ao contrário. Comecei com a prancha pequena e fui para o pranchão. Na época da escola meus amigos diziam ‘pranchão é coisa de velho’, ‘pranchão não é tão legal, tem de vir para a pranchinha’. Mas eu nunca me deixei levar pelo que os outros diziam e sempre segui meu coração”.

Chloé Calmon, do surfe, nos Jogos Pan-Americanos

Chloé bailando nas ondas de Punta Rocas (Alexandre Loureiro/COB)

“Com onze anos de idade eu conseguia controlar uma prancha de três metros que mal cabia no debaixo do meu braço”. Logo já fazia todas as manobras clássicas do longboard. “É o verdadeiro ballet do surfe, um lado muito feminino. Então eu juntava a feminilidade com o desafio de controlar uma prancha tão grande”, conta.

Um ano mais tarde ela participou do primeiro campeonato, na praia da Macumba, Rio de Janeiro, berço do longboard brasileiro e onde ela começou a pegar onda. “Não tinha vaga na categoria feminina então eu entrei na masculina, passei uma bateria e fiquei super feliz”. Foi só o começo. Ainda menina se profissionalizou e ganhou vaga no circuito mundial. “Já são nove anos ininterruptos disputando o circuito mundial ainda em busca do sonho de ser campeã mundial”.

“O mais legal do longboard é que ele é muito democrático, é muito mais pela diversão do que pela competitividade. Então não importa se você é um atleta de alto rendimento ou se só pode ir à praia nos fins de semana. Basta entrar na água, em qualquer onda, e você já vê todo mundo com o sorriso no rosto. Os praticantes do longboard são uma grande família. Não tem idade, não tem sexo, não tem classe social, o que importa é estar na água se divertindo”.

E ela espera que sua medalha faça essa família ainda maior. “Espero que com essa medalha a gente consiga trazer mais atenção para a modalidade porque tem muitos talentos espalhados pelo Brasil e que chame novos praticantes. Temos um litoral imenso, com várias oportunidades para os atletas”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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