Ídolo. Referência. Bob Burnquist, além de ser um dos maiores nomes brasileiros no skate, também assume a função de presidente da Confederação Brasileira. Recentemente, anunciou a primeira Seleção da modalidade, que estreia nos Jogos Olímpicos em Toquio 2020. E terá participação também em Paris 2024. Nesta terça-feira (15), Burnquist confirmou um projeto em parceria com o Sesi. Além disso, ele bateu um papo com o Olimpíada Todo Dia onde falou sobre nível dos atletas brasileiros, doping, adaptação e visibilidade. Confira!
Nível dos Atletas Brasileiros
É de altíssimo nível. Há muito tempo os brasileiros tem se dado bem em competições internacionais independentemente de Olimpíada. Então isso faz com que tenhamos ótimas chances. Sempre ali pódio, primeiro, segundo, terceiro, a galera mandando muito bem. Então não vejo uma mudança ou caida de nível, só vejo a galera agora muito mais empolgada, com vontade. Acho que é daqui, com todo esse suporte que a gente está vendo, todo mundo entrando nessa onda. Apesar da gente, independente de Olimpíada, a gente anda de skate, ama skate. É legal ver esse movimento olímpico, que daí a gente não faz parte só da seleção do skate, é o Time Brasil. É muito legal de participar e representar o Brasil em um evento tão ande quanto a Olimpíada. Então acho que a gente vai ver ótimos resultados e eu espero, confio e acredito, nos skatistas.
Seleção Brasileira de Skate
Nós temos a seleção, mas ainda não é a seleção definitiva. Todo ano a gente vai mudar, a seleção é para um suporte. É a primeira vez que tem uma seleção, já temos a seleção para esse ano e esse ano para o ano que vem. A seleção do ano que vem terá suporte de viagem, médico, fisioterapeuta e daí em 2019 vamos tentar classificar para a Olimpíada. Não quer dizer que já iremos, precisamos classificar. São 4 vagas no time feminino e 4 no masculino, tanto no street quanto no park.
Motivação para desenho da pista em parceria com o Sesi
Eu sempre criei, montei as pistas na minha casa, sempre desenhei pistas. É uma criatividade a mais. Acho que o skatista, além de aprender manobras novas, você pode também visualizar obstáculos novos, maneiras diferentes de andar de skate, ou até você enxerga o mundo diferente, a arquitetura, uns veem de um jeito e nós vemos de outro. É muito um ambiente criativo. Eu sempre gostei, além de aprender manobras novas, acho que criar obstáculos novos, por isso que eu fiquei tanto na megarampa, criando coisas diferentes, fiz o salto do Grand Canyon, fiz coisas que não são competitivas, são criativas, né? Isso é tão gratificante quanto aprender algo novo, então enquanto eu puder continuar fazendo isso, eu farei.
Trabalho na CBSK
Precisa ser criativo também, né? Porque a gente vem em um momento sem recursos, né? E aí conseguimos ali, porque eu entrei antes da gente ter representatividade dentro do COB, antes de tudo. Justamente para a gente poder fazer esse movimento para a gente estar onde está agora. Aí conseguimos os recursos do COB, fui no Ministério do Esporte recentemente, consegui o apoio do Bolsa Pódio para os atletas, para os skatistas, então a gente começa a mudar o cenário da confederação, obviamente que eu sozinho eu não iria, né? Falei com uma equipe: se vocês forem comigo, aí eu consigo, porque sozinho não se faz nada. Então eu sinto que é um momento importante, de muito trabalho, adicionou uma camada de ligações, de coisas, de responsabilidade já em cima do que eu já faço. Até porque eu não estou aposentado, né? Eu ando de skate, continuo, tenho meus patrocinadores, tenho que continuar, tem certas competições que ainda estarei, outras responsabilidades. Então é um momento que eu vi necessário, então eu estou aqui, não imaginava nesse mesmo dia no ano passado que eu seria presidente da confederação. Então é um momento completamente novo, não sei o que eu estou pensando ainda, porque é uma coisa que requer muita responsabilidade, mas por enquanto, estou vendo que tudo está caminhando bem, os projetos estão saindo, vejo essa força política que eu tenho dentro do skate. Então é juntar, é pra unir, vamos todo mundo junto.
Modalidade na Olimpíada / Doping
Na verdade, a galera do skate independente, eu falo isso não desmerecendo a Olimpíada, a gente vive independente, então há muito tempo a gente quer andar de skate, quer evoluir, temos os nossos eventos da nossa maneira. Agora, a gente entra dentro de uma coisa muito maior e a gente nunca teve essa aproximação até do doping. Entender como funciona, o que pode e o que não pode fazer. O que tomar… Porque a gente não tem esse costume. Às vezes, você ficar com febre e até tomar um remédio e aí esse remédio é doping. Porque o que é doping e você saber o que é, você já sabe, você fazendo você está se dopando, anabolizantes, enfim… Se não, é difícil. Então é o momento novo, a galera tem que prestar atenção. Tem que pensar assim: ficou doente? Para. Não toma qualquer coisa, liga pro médico, o que eu posso fazer. É um momento completamente diferente e novo, inclusive, pode até haver uma situação onde as pessoas se perguntem: pera aí, eu quero competir isso ou não? Eu quero essa atenção toda? Esse controle, né? Então acho que esse clash de épocas, né? Eu acho que está acontecendo, mas a galera está se ajustando e entendendo, que, cara, se eu vou competir na Olimpíada, essa é a realidade, vamos lá e vamos embora.
Adaptações
E até a adaptação de aceitar que o skate virou olímpico, né? Obviamente, que se não fosse a Confederação Brasileira de Skate, o representante, eu acho que muitos nem iriam. Eu mesmo se eu tivesse atuando e tivesse na oportunidade. Se não fosse a Confederação Brasileira de Skate eu não ia, não ia fazer sentido, e não ia perder nada, ia continuar na minha vida, fazendo… Mas é legal da gente ver que a gente conseguiu essa representatividade e a galera está indo com o pé no chão, entendendo que somos uma união. Aí vai com força, com vontade.
Visibilidade
Sim, sempre. Exatamente, até porque a gente está falando de pista nova, isso tudo porque o skate entrou na Olimpíada. Então a gente tem que entender que o momento é especial, aproveitar e tentar fazer isso pelo Brasil inteiro. Montar mais e mais pistas, porque as pessoas, os jovens, a galera quer andar de skate. Ter uma opção. Inclusive, até nas escolas, né? Eu cresci tendo que jogar futebol e eu queria andar de skate. Porque eu não posso andar de skate na escola? Porque não pode ter um projeto dentro da escola? Isso é legal de cada vez mais evoluir e entender… Até o surfe… E não ficar naquela coisa de: os esportes são futebol, isso, isso… Skate não, surfe não… A gente tem que falar assim: não, atividade em geral o que que… Dar opções ao jovem. Não, vamos dar essa atenção pra ele.
Importância projeto Sesi
É um momento especial. Eu que cresci aqui em São Paulo, nas pistas que a gente tinha, e a gente conseguiu, com muita força de vontade, chegar onde a gente chegou sem muito suporte. Isso dentro da nossa família mesmo, né? Dentro da família do skate, fazendo os projetos pequenos, ou a pista privada. Então você ver aí esse braço, poder vir e ajudar nesse momento novo, desse novo momento do skate é muito importante. Eu tenho uma ideia do que isso vai gerar, mas, realmente, a gente só vai ver isso daqui alguns anos, uns dois anos… Ver o tanto de skatista e o tanto mais de pistas… Essa parceria gerar mais frutos e mais pistas e mais skatistas de ponta, porque, na verdade, você dando suporte nesse nível, a pessoa se sente importante, se sente valorizada. Isso é muito importante pra quem tá começando, quem tá querendo uma atividade nova ou diferente. Porque antigamente eu pedi pros meus pais um skate e eles falaram ok, mas meus pais eram legais. Mas eu tive muitos amigos que falavam: pai, quero andar de skate. E o pai: não, skate não, você vai fazer isso aqui. Então hoje em dia a gente está em um momento, que quanto as crianças que pediram skate pro pai, apesar de como qualquer coisa é perigosa, vai cair, vai se machucar, o pai vai falar que tem referência, que tem suporte envolta, já não é mais uma coisa marginalizada. Então eu acho que é isso: é um momento muito especial para gente.