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‘O SKT me levou’ mostra história de Mancha ligado ao skate

Diretor e skatista Lecuk Ishida escolheu o técnico da seleção brasileira como fio condutor da narrativa sobre a modalidade desde os anos 80

Rogério Mancha no skate fazendo manobra
Foto: Ivan Shupikov

Se você ainda não conhece a história do skate, então você não pode deixar de conferir o documentário “O SKT me levou”, de Lecuk Ishida e patrocínio do Banco BV. O diretor usa com maestria a história pessoal de Rogério Mancha, técnico da seleção brasileira de skate street, entrelaçada ao do próprio skate, passando pelas ruas nos anos 80, desafiando os preconceitos da época, até os dias de hoje, após a Olimpíada de Tóquio, quando voltou com três pratas com Kelvin Hoefler, Rayssa Leal e Pedro Barros.

Lecuk, que além de diretor é skatista e amigo de longa data de Mancha, não teve dúvidas ao escolhê-lo para ser protagonista do longa. “Eu ando de skate desde 79, eu montei uma das primeiras marcas de skate do país, que era a Lifestyle, que patrocinou o Mancha, patrocinou o Bob (Burnquist). Continuei acompanhando a vida do Mancha e eu sabia que ele tinha valores históricos pra eu contar de coisas que me interessavam. O ser humano que tá atrás do carrinho, ou o que tá encima do carrinho. Eu acredito nesses valores e queria usar pra falar”, falou o diretor para o Olimpíada Todo Dia.

Lecuk Ishida 'O SKT me levou'
Lecuk Ishida, diretor de ‘O SKT me levou’. Foto: Rafael Cusato

O técnico, por outro lado, não sabia se aceitava o convite por conta do tempo de produção. O documentário retrata um pouco da luta de Mancha contra uma doença autoimune, que o afastou do skate e o deixou vulnerável por anos. Mas ter Mancha como norteador tanto da sua própria história como a do skate no Brasil era uma grande responsabilidade. O diretor soube usar de depoimentos, vídeos e fotos para se aprofundar de ambas. “O Lecuk foi meu primeiro patrocinador, um guru lá nos anos. ‘Pô, você tem uma história legal, por que você não conta?’. A pandemia, toda a situação que passou, as incertezas. A própria doença te causa incertezas, o medo de talvez não ter saúde amanhã, aí a gente faz um projeto tão longo, eu não sei se eu vou pra Olimpíada por N motivos. Me causou apreensão, mas depois veio muita luz. Foi muito especial. O Lecuk fez um trabalho incrível”, revelou o ex-atleta.

SKATE COMO ESPORTE OLÍMPICO

Um dos receios dos skatistas era a entrada do skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Alguns viram o movimento com maus olhos, como uma espécie de imposição de regras àqueles que nunca gostaram de regras. Mas para Rogério Mancha, levar o skate para o cenário olímpico foi muito positivo. “Nesse momento tem alguém falando que não vai pra Olimpíada, tem atletas que não querem a Olimpíada. Na verdade o skate criou essa situação única, ninguém nasceu querendo ir pra uma Olimpíada, a gente cresceu querendo acertar uma manobra. O skate não tem uma regra, ele abriga todo mundo, tem espaço pra todos. Lógico, foi difícil, ‘agora você tem que usar uniforme’. Por regras num skatista que nunca gostou de regras.”, explicou o técnico da seleção brasileira.

Para Lecuk, ver o skate no palco olímpico é uma grande conquista de toda a comunidade. “Eu sempre sonhei que o skate virasse um esporte e a Olimpíada fazia parte desse sonho. Então quando os atletas vão pra Olimpíada acho que eles aprendem coisas e ensinam coisas também que eu acho que rola essa troca. Eu acho que o skate não é só competitivo, o skate não é só lifestyle, skate é tudo, é múltiplo.”

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Dentre os ensinamentos e aprendizados, está o senso de comunidade e companheirismo do skate. Adversários nas pistas torcendo para que todos acertem as manobras foi uma grande novidade que o skate trouxe para a edição de Tóquio-2020. Em nenhuma outra modalidade olímpica houve tanto espírito de coletividade com os rivais como houve no skate, isso chamou a atenção. “A gente sempre teve um ambiente competitivo, mas sempre torcendo muito pra que o outro acerte a melhor manobra, porque a gente é tudo amigo. A gente queria aquela energia que é um campeonato de skate, todo mundo acertando, todo mundo competindo, que vença o melhor.”, explicou Mancha.

Além de medalhas, o skate conquistou os corações dos brasileiros, afinal, foi um dos esportes que trouxe mais pódios para o país, com três pratas. Mancha vê como o esporte ainda deve crescer ainda mais para o público que conheceu o skate nos Jogos Olímpicos. “A Olimpíada ajudou muito na visibilidade, as pessoas viram que existem outros esportes. O quanto a Fadinha, a Rayssa, inspirou, ela é um resultado de quanto o skate é incrível. Uma pessoa qualquer, lá do interior de Maranhão pode andar de skate e menos de quatro anos ir pra Olimpíada.”, confessou o técnico muito feliz.

MOMENTO DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE SKATE

Letícia Bufoni Red Bull
Letícia Bufoni optou por não estar na seleção para focar em seus projetos. Foto: Red Bull/Divulgação

Rayssa Leal, Pâmela Rosa e Gabi Mazetto têm sido as três grandes skatistas brasileiras nesse ciclo. Mesmo assim, Mancha exaltou o papel fundamental de Letícia Bufoni para o skate, principalmente entre as mulheres. “O que a Letícia construiu no skate core é incrível. Uma menina pular as escadas que ela pulou, entender o quanto ela saiu em revista pra falar assim ‘hm agora tem menina que anda de skate’. A Letícia construiu isso, ela está se dedicando a outros projetos agora, mas vendo ela andando de skate nos vídeo eu sempre falo ‘a Letícia anda tão bem, e o skate é tão fácil pra ela dentro da mente dela’. Ela tem um nível, uma quantidade de manobras espetacular. Ela já gastou tanto de energia, a vida inteira no skate, e agora ela pode se realizar em outros projetos. Tá na mão dela, independente se ela quiser ir pra Olimpíada ou não, porque ela já é ouro no skate.”, completou Mancha.

O Brasil vem dominando o cenário do skate desde a Olimpíada de Tóquio. Pâmela Rosa garantiu o bicampeonato mundial em 2021 e em 2022 foi a vez de Rayssa Leal levar o Super Crown. Rogério Mancha vê o skate evoluindo cada vez mais e uma seleção forte para os Jogos de Paris-2024, não só no feminino, como no masculino. “Na seleção a gente se baseia muito nos resultados e não muito no ranking. Sempre que a gente pode, a gente traz o cara pra ajudar a desenvolver seu nível. Hoje a gente tem no masculino o João Lucas (Chuchu), Gabriel Aguilar, Eduardo Neves, tem o Lucas Rabelo que ta voltando, tem o Carlos Ribeiro que não ta na seleção por escolha nossa, de deixar ele livre. Filipe Gustavo muito experiente, tem o Kelvin, o Ivan. Tem muito nome pra só três vagas.”, finalizou o técnico da seleção.

Formada em Jornalismo pela Unesp-Bauru, participou da Rio-2016 como voluntária, cobriu a Olimpíada de Tóquio-2020 a distância e Paris-2024 in loco pelo Olimpíada Todo Dia; hoje coordena as Redes Sociais do OTD.

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