Mesmo chamando Kelvin Hoefler ele é brasileiro. Nascido no litoral paulista, o skatista de 27 anos é uma das esperanças do país na disputa do skate street na Olimpíada de Tóquio. Mesmo com a vaga não estando confirmada, o quinto lugar no ranking olímpico, sendo o primeiro do Brasil, já faz com que o atleta pense e assuma uma ansiedade para os Jogos Olímpicos do Japão. “Só estou esperando me falarem para ir, meu objetivo é a medalha olímpica”.
Assim como o judô nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964, o basquete na Olimpíada realizada em Berlim em 1936 ou o taekwondo em Sydney 2000, o skate fará sua estreia na Olimpíada deste ano e poderá levar o Brasil ao pódio algumas vezes. Além de Kelvin Hoefler, Pâmela Rosa, Rayssa Leal, Letícia Bufoni e Pedro Barros, que figuram entre os melhores do planeta em suas modalidades, podem representar o país no Japão.
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Em live do Olimpíada Todo Dia em parceria com o Tik Tok, Kelvin comentou sobre a carreira, a evolução morando em Los Angeles, importância da família no começo de tudo e a ansiedade para os Jogos Olímpicos.
“Eu não gostava muito de Olimpíada”
A grande maioria dos atletas sonham em estar em uma Olimpíada, chegar em uma final ou ser medalha de ouro. Contudo, com Kelvin Hoefler foi diferente. Ligado ao skate desde muito jovem, o brasileiro via os Jogos Olímpicos de uma maneira “pouco usual” para o meio esportivo”.
““Eu nunca fui muito de assistir Olimpíada. Com todo o respeito, mas eu não curto assistir badminton, bocha, esportes mais parados. Eu sou hiperativo, não consigo parar para assistir”.
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Contudo, quando o skate passou a ser cogitado como modalidade olímpica, Kelvin viu nos Jogos Olímpicos uma possibilidade de levar o Brasil ao pódio. “Quando começaram a falar que o skate poderia ir, nós que já estávamos nas competições ficamos mais ansiosos e queremos muito ir, não existe alegria maior do que competir e poder subir no pódio com a bandeira do seu país”.
Por conta da pandemia da Covid-19, o mundo só terá certeza de quem serão os atletas confirmados nas disputas do skate em Tóquio por volta de maio de 2021, quando os últimos torneios que contam pontos para o ranking olímpico. O Brasil terá direito a três vagas no street masculino, modalidade em que Kelvin Hoefler compete.
Onde tudo começou
Ruim de futebol, influência do pai e horror a água gelada. Isso e o fato do skate fazer com que o jovem Kelvin ser auto suficiente ajudaram na escolha do esporte. “O meu início foi bem difícil. O meu pai era policial e ele foi o meu grande incentivador. Ele me colocou no skate, porque eu era hiperativo, mas ele não gostava muito do que ele via. A modalidade sempre foi marginalizada então ele tinha um receio. A galera do skate não gostava muito de mim, porque eu era filho de policial”.
Apesar de achar que o filho em algum momento sairia do skate, segundo Kelvin, seu pai sempre incentivou que o filho praticasse a modalidade. Sem ter muito espaço para treinamentos, o skatista usava a própria casa como “pista” e a mãe que sofria.
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“Minha mãe ficava muito brava. Eu andava de skate em casa, dentro de casa, atrapalhava a novela, quebrava os vasos, quebrei uma TV uma vez…. ela ficava muito brava mesmo”.
Entretanto, a visão começou a mudar na primeira conquista. Ainda como um “novo amador”, Kelvin Hoefler ganhou uma moto em um torneio, vendeu e deu o dinheiro para os pais. “Pedi um MP3 para o meu pai e ele ficou com o resto. Lembro que uma das coisas que ele mais falou nesse período foi que eu precisava me dedicar aos treinos e minha mãe e ele fizeram de tudo que dava para que eu pudesse fazer isso”.
Los Angeles e o novo passo na carreira
Já profissional, campeão do mundo e com o nome reconhecido no meio do skate street, Kelvin Hoefler viu que precisava dar mais um passo na carreira. No meio da década passada, o skatista decidiu migrar para os Estados Unidos e foi morar em Los Angeles.
“Era muita desvantagem nas competições. Estar no Brasil e competir com os caras daqui, que tem uma pista privada para treinar e tudo. Eu tive que “criar” a minha oportunidade, vim para Los Angeles para conseguir treinar mais”.
Podendo treinar mais e estar com os melhores do mundo, Kelvin Hoefler melhorou. Convivendo cada vez mais com os melhores do planeta, o brasileiro foi evoluindo e chegou no nível que tem hoje, quando é o quinto do mundo em sua modalidade. Para Hoefler, a mudança não foi só técnica dentro das pistas.
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“Eu evolui bastante na parte técnica e de ter a postura de um skatista profissional. No Brasil é um pouco mais “quadrado” as coisas. Aqui em Los Angeles eu aprendi a andar em todos os lugares. Nas competições grandes isso faz diferença”.
A entrada do skate para o programa olímpico mudou o esporte. Além de fazer com que o esporte tenha mais atenção do grande público e da mídia, o skate ser agora uma modalidade olímpica fez com que o “esporte marginalizado” passasse a ser visto de uma forma mais séria.
Morando há alguns anos nos Estados Unidos, Kelvin vive, respira e convive com o que há de melhor na modalidade que escolheu como carreira. Para o brasileira, a forma como o esporte tem sido tratado no ciclo para Tóquio 2020 tem tudo para melhorar ainda mais as coisas no país.
“Eu acredito que já está mudando muito no Brasil, por conta da Olimpíada. É outro tipo de esporte, está sendo levado mais a sério. Até então a CBSK está fazendo um bom trabalho e está conseguindo levar o skate como é feito nos Estados Unidos e eu penso que depois dos Jogos Olímpicos será ainda mais”.
Aos 27 anos e buscando fazer ainda muito mais com as rodinhas no pé profissionalmente, Kelvin é direto quando perguntado sobre o que quer do futuro. “Minha ambição é andar de skate até o fim da vida. Conseguir devolver para o skate tudo que eu aprendi até hoje. Acredito que eu posso ajudar as pessoas serem um Kelvin um pouco melhor”, finalizou.