A Liga Romena Feminina de Handebol teve um desfecho improvável na temporada. Atual tetracampeão e dono de um dos maiores orçamentos do mundo, o CSM Bucaresti foi superado pelo Râmnicu Vâlcea na classificação final do torneio.
O título do Râmnicu Vâlcea veio no último domingo, com vitória sobre o CSM Slatina por 29 a 26. No elenco campeão, a equipe possui uma brasileira: a armadora-esquerda Samara Vieira.
Aos 27 anos de idade, Samara chegou ao Râmnicu Vâlcea no início da temporada e foi peça presente na campanha de 22 vitórias e apenas uma derrota na temporada Liga Romena. A atleta falou com o OTD sobre a conquista.
Desbancando o favorito
Enquanto o CSM Bucaresti possui um dos elencos mais caros do mundo e nos últimos anos sempre esteve entre as principais equipes da Europa, o Râmnicu Vâlcea possui um plantel menos badalado, mas que mostrou o potencial coletivo desde as primeiras rodadas da Liga Romena.
“Foi uma temporada bem difícil, a gente trabalhou pra caramba. Desde o primeiro jogo da Copa, em que ganhamos por três gols lá em Bucareste, vimos que poderíamos fazer uma boa temporada”, disse Samara.
“Foi uma surpresa para as pessoas aqui na Romênia e também na Europa, mas a gente mostrou que os nomes não ganham jogos. Acho que você ter uma equipe unida, que tem o mesmo foco – independente de ser uma equipe mais jovem, que não tem estrelas – ajuda bastante”, concluiu a brasileira, que teve passagens pelo handebol espanhol, italiano, alemão e turco.
Na campanha do título romeno, o Râmnicu Vâlcea enfrentou o CSM Bucaresti duas vezes. No primeiro turno, vitória por 22 a 19 na capital. Na volta, derrota por 30 a 29 em casa. Com 100% de aproveitamento contra todas as outras equipes, o time de Samara – que já tinha o trunfo da superioridade no confronto direto – contou com um tropeço do CSM Bucaresti na antepenúltima rodada do torneio, assegurando o título por antecipação.
“A pressão toda estava com o CSM Bucaresti, enquanto nós estávamos jogando felizes, mas com vontade de ganhar, claro”, disse a jogadora brasileira.
Receita da vitória
Questionada sobre a regularidade da equipe na competição, Samara Vieira foi enfática ao afirmar a importância da preparação na pré-temporada:
“Eu acho que o que nos levou a ser constantes assim na Liga foi a nossa preparação no início da temporada. O preparador físico focou bastante na prevenção de lesão e ele, realmente, foi super importante nessa fase preparatória. Nós não tivemos nenhuma lesão grave em toda temporada. Acho que isso nos ajudou a chegar até onde chegamos”, contou a jogadora.
Se manter longe das lesões também foi um ponto importante individualmente para Samara, que teve que passar por duas cirurgias de ligamento cruzado entre 2011 e 2013.
“Individualmente para mim foi um ano bem positivo, bem produtivo, graças a Deus. Tudo o que eu pedi à Deus aconteceu, que foi não ter nenhuma lesão grave”, contou a brasileira. “Eu acho que tudo tem seu tempo. No passado eu tive duas lesões no joelho, que me deixaram bastante tempo fora de quadra, além de um problema na posterior, mas graças a Deus esses problemas já se acabaram”.
Destino certo
A cidade de Râmnicu Vâlcea tem um histórico com o handebol feminino. Entre 1989 e 2013, o CS Oltchim Vâlcea foi 19 vezes campeão romeno e seis vezes semifinalista da Champions League, antes de fechar as portas em 2013, após a interrupção de um patrocínio que chegou a trazer várias das principais jogadoras do mundo para a equipe.
Neste ano, o Sport Club Municipal Râmnicu Vâlcea utilizou um orçamento mais modesto do que o finado conterrâneo para conquistar a Liga Romena.
Entre os reforços do início da temporada estava Samara. “Eu fui a última a chegar, então a adaptação não foi muito fácil. Mas com o tempo fui conquistando meu espaço e adquirindo respeito. As pessoas me recepcionaram super bem, as garotas são super tranquilas, a comissão técnica também, então foi um ano bem legal”, contou a jogadora, que permanecerá na equipe para a próxima temporada.
No radar da seleção
Samara Vieira esteve presente na última convocação do técnico Jorge Dueñas para a seleção brasileira, que disputou um quadrangular amistoso na cidade espanhola de Palência.
“Eu acho que para mim, e para todos os brasileiros, estar na seleção é um orgulho. É muito satisfatório poder defender o nosso país e estar do lado de todas as garotas da seleção, como a Duda, que é uma atleta que eu me espelho muito”, afirmou a jogadora, que se mostrou animada com a chance.
“Eu estou muito feliz por tudo o que aconteceu este ano e espero ser convocada mais vezes se eu for merecedora”.