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Seleção Brasileira

“Infelizmente, nosso esporte é muito imediatista”, diz Felipe Wu

Primeiro medalhista do Brasil na Rio-2016, Felipe Wu encara nova realidade em início de ciclo olímpico para 2020. Confira entrevista exclusiva ao blog

Há pouco mais de seis meses, Felipe Wu viveu um momento especial. Ele foi o responsável por conquistar a primeira medalha brasileira na Olimpíada Rio-2016. A prata na prova de pistola de ar 10 m, além de ter inaugurado a lista de 19 pódios do Brasil nos Jogos, quebrou um jejum de 96 anos sem medalha na modalidade. Aquele 6 de agosto foi sem dúvida histórico.

O momento atual traz uma realidade bem diferente para Wu. Sem contar mais com a presença do treinador colombiano Bernardo Tobar, cujo contrato não foi renovado pela CBTiro (Confederação Brasileira de Tiro Esportivo), o atirador esportivo inicia o ciclo para Tóquio-2020 dividido. Além de participar da Copa do Mundo – neste final de semana está competindo na etapa de Nova Déli, na Índia -, Wu tem que dividir seu tempo para concluir o curso de engenharia na Universidade Federal do ABC.

A nova realidade do esporte olímpico brasileiro, com investimentos menores e mais escassos, preocupa Felipe Wu, mas não o surpreende. “Infelizmente o cenário do nosso esporte é muito imediatista. Os investimentos são feitos de última hora esperando um resultado”, disse Wu, em entrevista exclusiva ao blog. Confira abaixo a entrevista:

Laguna Olímpico – Como você avalia seu início de trabalho neste ciclo olímpico?

Felipe Wu – Neste ano infelizmente não estou conseguindo me dedicar exclusivamente ao tiro esportivo, como foi em 2016. Estou com uma rotina puxada na faculdade e isso também diminuiu um pouco minha carga horária de treinos. Ainda sigo treinando, mas não com força máxima.

Qual seu maior objetivo nesta temporada? Quais competições estão no seu radar?

Neste ano o foco são as três etapas da Copa do Mundo.  Além disso tem Sul-Americano e Ibero-Americano. É um ano mais de preparação para 2018 [marcado para a cidade de Changwon, na Coreia do Sul].

O fato de não poder contar mais com a presença de seu treinador Bernardo Tobar irá atrapalhar quanto na sua preparação neste ciclo olímpico?

Com certeza, a orientação dele ou de outro profissional experiente faz a diferença na preparação. Os resultados obtidos em 2015 e 2016 comprovam isso. É importante ter uma análise mais detalhada para saber onde estão os pontos fracos a serem melhorados e que podem fazer toda diferença entre estar ou não no pódio.

A CBTiro pretende renovar o vínculo com ele, ao menos para acompanhá-lo no exterior?

A seleção está sem técnico desde o final dos Jogos Olímpicos. Foi cogitada a contratação dele para nos acompanhar apenas nas competições, mas isso é insuficiente e inclusive, pode até nos prejudicar. O ideal é ter um técnico acompanhando de perto os treinamentos para aí sim, ser efetivo nas competições. Espero que o quanto antes ele volte ao Brasil para nos auxiliar.

Em termos práticos, a medalha de prata conquistada na Rio-2016 modificou alguma coisa em sua carreira como atleta? Houve algum benefício direto pela conquista?

Houve um reconhecimento. Muita gente que não conhecia a modalidade me mandou mensagem nas redes sociais elogiando e dizendo que depois da medalha foi pesquisar mais sobre o esporte. Alguns que já tinham curiosidade também ficaram mais motivados, perguntavam onde era possível treinar. É muito gratificante chegar nesse patamar, fruto de um trabalho árduo. Realizei um sonho como atleta.

Você continua como atleta do Exército? Até quando vai o seu contrato com as Forças Armadas? Está com algum outro patrocinador?

Sigo como atleta do exército. Ingressei na força em 2013 e posso ficar por 7 anos. Nosso “contrato” é renovado a cada 12 meses, quando de interesse de ambas as partes. Também tenho patrocínio da Rifle (empresa brasileira de munição para armas de pressão) e treino na Hebraica em São Paulo e às vezes em Curitiba.

Conseguiu a renovação do Bolsa Atleta? E do Bolsa Pódio?

Comecei a receber a bolsa pódio em julho de 2016 e espero que ela se renove após os 12 meses.

Em 2015, você dizia que esperaria passar a Olimpíada para conseguir concluir seu curso de engenharia. Pretende diminuir o ritmo de competições?

Sim, neste ano estou mais focado na faculdade. Estou definindo minha participação em competições estratégicas, pensando no ranking e no Mundial de 2018.

É surpresa a atual situação do esporte olímpico brasileiro? Acreditava que a situação seria diferente após a Olimpíada Rio-2016?

Já era previsto a diminuição dos investimentos. Infelizmente a situação para algumas modalidades, como a minha, mesmo antes da Rio-2016 não melhorou nem piorou, ficou igual. É bem complicado. Se não fosse o suporte do exército, pois tem a questão do porte de armas (Estatuto do desarmamento), munição, ter acesso à instalações boas para treino (fora a Hebraica), dificilmente teria condições de me manter na modalidade.

Como imagina que será o futuro do esporte brasileiro sem tanto apoio financeiro para as Olimpíadas de Tóquio?

Eu continuo empenhado no esporte, especialmente na busca de um bom resultado no mundial de 2018 e, consequentemente, na conquista da vaga para os próximos jogos olímpicos. O esporte de alto rendimento depende de continuidade e regularidade. Infelizmente o cenário do nosso esporte é muito imediatista. Os investimentos são feitos de última hora esperando um resultado e após a competição alvo, há uma retração. Infelizmente parece que está acontecendo isso agora. Ao invés de mantermos o nível de investimento após um bom resultado, houve uma diminuição por falta de verba e , com isso, o corte do treinador até o momento.

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