Há alguns anos, uma campanha publicitária da então pouco conhecida CBRu (Confederação Brasileira de Rúgbi), que divulgava a Topper, a fornecedora de material esportivo da entidade, impressionava pelo bom humor e auto ironia. Em uma delas, um jogador recebia um pedido de autógrafo de uma torcedora pouco antes de entrar no carro – quando na verdade tratava-se da própria mulher. Em outra, um pretenso analista elencava as qualidades dos resultados da seleção brasileira diante dos principais rivais da América do Sul, usando estatísticas esdrúxulas e inúteis.
Em todas elas, o slogan era o mesmo: “Rugby. Isso ainda vai ser grande no Brasil”.
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Passados alguns anos, pode-se dizer com alguma dose de segurança que se ainda não está no mesmo estágio de esportes mais populares e tradicionais, o rúgbi brasileiro caminha com segurança para se tornar a modalidade mais organizada do país. Nesta quinta-feira, durante o segundo encontro anual dos patrocinadores da CBRu, os dirigentes da entidade fizeram um balanço dos resultados alcançados até aqui e mostraram ousados planos de evolução para os próximos cinco anos. Aquilo que era uma grande estratégia de marketing pode se tornar realidade em alguns anos.
“Queremos contaminar outras modalidades com o nosso exemplo, independentemente dos resultados que iremos alcançar”, afirma Eduardo Mufarej, presidente do Conselho de Administração da CBRu. Ex-jogador de rúgbi frustrado, ele contribuiu com R$ 500,00 em 2008, após acompanhar entrevistas de jogadores da seleção brasileira reclamando das condições de penúria que tinham que suportar nas competições internacionais.
A repercussão desta pequena ajuda, recebendo diversas mensagens de agradecimento dos atletas, mostrou que havia espaço para tentar criar um novo modelo de gestão para o esporte. A vitória do Rio de Janeiro na eleição da sede olímpica dos Jogos de 2016 e a consequente introdução do rúgbi seven no programa esportivo olímpico serviram de estímulo para tentar tirar a modalidade de um esquema totalmente amador.
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Sendo dirigida nos moldes de uma empresa e não como uma entidade esportiva nos padrões tradicionais, a CBRu mostrou que existe sim uma forma de fazer esporte de maneira organizada no Brasil. Não à toa recebeu na última semana o prêmio de melhor entidade em práticas de governança, dado pela Inspire Sports Business, superando outras 29 confederações nacionais.
Hoje, por exemplo, existem 350 atletas, homens e mulheres, em seis academias exclusivas para o rúgbi espalhadas pelo país, treinando no mínimo duas vezes por semana (no caso do feminino) e quatros vezes por semana (adulto masculino). Todos com metas a serem alcançadas em parâmetros físicos e técnicos. Quem ficar fora dos parâmetros, não poderá jogar na seleção brasileira.
A partir do ano que vem, os 100 melhores deverão começar a receber ajuda de custo, que sairá de investimentos privados, variando conforme o nível técnico de cada atleta. Da mesma forma, quem não atingir os objetivos traçados, perderá o direito ao auxílio financeiro.
Claro que para que todo este investimento é necessário dar resultados técnicos. E isso ainda é uma utopia em um esporte sem tradição. Porém alguns começam a aparecer. A medalha de bronze da seleção feminina no Pan-Americano de Toronto é um exemplo. Há outros, como a classificação do time masculino para a Copa do Mundo de 2019 ou as classificações das equipes masculina e feminina para as Olimpíadas de 2020, em Tóquio. Também existe uma grande preocupação com a formação de uma nova geração de jogadores, para dar continuidade ao trabalho atual.
Para o Rio 2016, as pretensões são realistas. “Nosso objetivo é conseguir uma vaga para a fase de quartas de final, no masculino e feminino. Isso já seria sensacional. Mesmo o rúgbi seven sendo tão imprevisível, disputar medalhas é muito improvável”, reconhece Mufarej, que aponta como favoritos para o ouro Nova Zelândia, Fiji, Grã-Bretanha, Canadá (feminino), EUA e Austrália.