O ano está quase terminando, mas ainda assim com direito a surpresas, nada agradáveis, no basquete feminino brasileiro. Isso porque não dá pra ficar otimista com a indicação de Ênio Vecchi para ocupar o cargo de técnico da seleção feminina adulta, notícia confirmada pelo site da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) neste último domingo.
A CBB, e por tabela a diretora de basquete feminino da entidade, Hortência Marcari, continuam metendo os pés pelas mãos. Depois do indecente processo de fritura que impuseram a Paulo Bassul; depois de fechar os olhos para a arrogância e indisciplina da ala Iziane Marques; e depois de colocarem um espanhol sem currículo no comando da seleção, chamado Carlos Colinas; eis que fecham a temporada de 2010 com a indicação de Vecchi para dirigir a seleção. Um técnico que, diga-se de passagem, jamais trabalhou com o basquete feminino ao longo de toda a sua carreira.
Mas este não é o maior problema desta escolha bizarra de Carlos Nunes, presidente da CBB, e de Hortência. Pessoalmente, não tenho nada contra Vecchi, mas como aprovar a escolha de um técnico que tem no seu currículo – mas que foi estranhamente ignorado no texto do site da CBB – uma das mais vexatórias campanhas do Brasil em Mundiais masculinos, o 11º lugar no Canadá, em 1994?
Um pouco de história
Estava cobrindo aquele Mundial e presenciei, in loco, a campanha ridícula protagonizada pela seleção brasileira. Logo na estreia, após uma incrível derrota para a China (que na época era um time que ninguém levava em consideração), Vecchi foi à entrevista coletiva. E alguns jornalistas americanos que estavam lá questionavam o treinador brasileiro pela ausência, para eles inexplicável, do ala Oscar Schmidt, que ainda brilhava no basquete europeu.
Aqui vale um parênteses: em 1993, o então presidente da CBB, Renato Brito Cunha, com seu estilo personalista e um pouco amalucado, resolveu implantar uma renovação forçada no masculino e feminino. Se entre as mulheres ele não poderia fazer muita coisa, pois não havia material humano disponível para uma renovação radical, o mesmo não aconteceu no masculino. Brito Cunha pôs dois treinadores completamente desconhecidos – Miguel Ângelo da Luz, no feminino, e Ênio Vecchi, no masculino – e saiu garganteando que estava fazendo uma revolução no basquete.
Mas enquanto no feminino era impossível se pensar numa seleção sem Hortência e Paula, no masculino Bruto Cunha impôs a Vecchi que fizesse uma equipe sem os medalhões. E assim, estava decretada o fim da era de Oscar, Marcel, Maury, Israel (todos integrantes do time que havia sido 5º colocado nas Olimpíadas de Barcelona, em 92). Que técnico experiente e com o mínimo de juízo aceitaria sem questionar e se rebelar com as maluquices de Brito Cunha? Nenhum, é claro.
Resposta inacreditável
Por isso, coube ao inexperiente Ênio Vecchi, com um bom currículo nas equipes de base de São Paulo, é verdade, a responsabilidade de dirigir a seleção masculina. Mas sem moral alguma para contestar as ordens de Brito Cunha.
E o Brasil foi ao Mundial de 94 com um time recheado de jovens e de jogadores sem experiência na seleção, como Rogério, Márcio, Rato, enquanto Oscar estava arrebentando no basquete italiano, com incríveis 35 pontos por jogo. De volta à coletiva de Hamilton (local do grupo do Brasil), após três perguntas dos americanos sobre a ausência de Oscar na seleção, Ênio Vecchi saiu-se com esta resposta.
“O tempo de Oscar Schimidt na seleção brasileira já acabou. Não há mais lugar para um jogador como ele dentro do novo espírito que a Confederação Brasileira de Basquete quer impor à seleção masculina”. Após esta resposta, todos os jornalistas americanos (e boa parte dos estrangeiros) se levantaram e deixaram a sala, para perplexidade de Vecchi e dos jornalistas brasileiros que estava presentes. Com certeza ele perceberam que não estavam diante de uma pessoa séria.
O 11º lugar naquele Mundial mostrou quem estava com a razão. E será este treinador – que diga-se de passagem dirige o penúltimo colocado no NBB 2010/11 – que comandará a seleção feminina brasileira até as Olimpíadas de Londres, em 2012.
Está mal das pernas o basquete feminino, hein?