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Santiago 2023

Miguel Hidalgo supera tudo, até bicampeão, e realiza sonho

Brasileiro de 23 anos do triatlo ficou doente, caiu na largada e se enrolou na transição para o ciclismo. Ainda assim superou mexicano bicampeão e estadunidense de um jeito que nunca tinha feito para colocar no peito o ouro que tanto queria

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(Manuel Lema O/Santiago 2023 v’a Photosport)

Viña del Mar – O destino colocou diversos obstáculos entre Miguel Hidalgo e um dos grandes sonhos do triatleta brasileiro. Dor de garganta, gripe, queda, roupa apertada, definição de prova em um jeito que nunca tinha experimentado e até um bicampeão pelo caminho. Nada disso foi capaz separá-lo de um dos seus desejos de infância na primeira oportunidade em que teve de alcançá-lo. Nas ruas e águas de Viña del Mar, mais especificamente na Playa El Sol, o paulista de Salto conquistou nesta quinta (2) a medalha de ouro no triatlo dos Jogos Pan-Americanos de Santiago em um roteiro digno de filme.

“É uma prova que sempre tive vontade de ganhar. Assisti os últimos dois Jogos Pan-Americanos quando criança. Vi o Crisanto vencer e, hoje, vencer e disputar com ele é bem legal. Não poderia estar mais feliz”. Crisanto Grajales é mexicano e ganhou essa mesma prova em Toronto 2015 e Lima 2019. Desta vez, ficou com o bronze, e retribuiu a admiração. “Estou muito agradecido e contente de saber que acompanhavam minha atuação quando eram pequenos. Estar competindo com eles é um privilégio. Me deixa muito feliz saber que somos alguma referência e que acrescentamos de alguma forma ao triatlo. E me deixa muito feliz por Miguel Hidalgo, que é foi uma pessoa que lutou muito, e pelo Brasil, que está muito forte no triatlo. Mando a ele meus parabéns pela medalha de ouro.”

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Grajales e Hidalgo (Manuel Lema O/Santiago 2023 v’a Photosport)

Dois dias antes…

O final da história é feliz para Miguel Hidalgo, mas chegar lá não foram flores. Tudo caminhava normalmente para ele participar pela primeira vez de uma edição de Pan. Dois dias antes da prova, porém, começaram os contratempos. Primeiro uma dor de garganta – tem feito muito frio no Chile nesses dias – e, a seguir, uma gripe. Não chegou a ficar realmente mal, então foi para a prova. O triatlo começa pela natação. Os atletas alinham para a largada, um fiscal dá um alerta e, no momento seguinte, vem a buzina que inicia a prova. “Caí na largada. Não ouvi nada, tava com a touca de neoprene e não ouvi o ‘on your marks’. Acabei assustando e caí”, contou.

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Depois do 1,5 quilômetro no mar, em que Miguel Hidalgo foi o 11º melhor, vem o ciclismo. Antes de subir na bike, porém, é necessário mudar os equipamentos de nado para os de pedal. É a chamada transição. No caso, por conta do frio, os atletas nadaram com uma roupa de borracha bem apertada e, portanto, era necessário tirar a vestimenta para sair pedalando. “Na hora de tirar a roupa de borracha, me enrosquei”, conta. O enrosco custou mais de um minuto na transição, o 33º pior dentre os 38 participantes. E Hidalgo perdeu mais cinco colocações.

Hora da recuperação

Mas ele seguiu firme. Ao final da primeira das cinco voltas de ciclismo, completando 40 quilômetros, Hidalgo cortou pela metade a distância para o líder e já era o quinto colocado em um pelotão de competidores. Estava de volta para a briga. Na segunda transição, quando trocou o equipamento do pedal para os dos dez quilômetros da corrida, foi o segundo mais rápido e saiu como vice-líder. Porém, Hidalgo não crescia sozinho na prova. Atrás vinha Grajales.

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Trio da chegada (Manuel Lema O/Santiago 2023 v’a Photosport)

Assim, o brasileiro, Grajales e o estadunidense Matthew Elroy formaram o grupo que escapou na liderança da prova. Foram juntos até o final, literalmente. Após mais de 1h45 de prova, os três apontaram na reta de chegada, colados. E começaram a acelerar, um olhando para o outro. Ninguém escapava. Foi chegando o tapete azul, marcando os metros finais, e a disputa ‘nariz a nariz’, típica de uma prova de 100m rasos, seguiu até o final. Não dava pra ver quem romperia a fita. Até que Hidalgo resolveu o suspense cruzando na primeira colocação. “Não estou tão acostumado no sprint. Não adianta querer atacar muito antes, deixei para os últimos cem metros. Tentei correr com a ponta do pé, com o braço ajudando, joelho para frente. Pensei muito na técnica”.

Queria tanto…

Evidentemente que a técnica foi decisiva, mas o que levou foi o sonho de criança. “Durante a prova cometi vários erros, mas queria muito esse ouro. Lutei toda prova por ele. Tô até me sentindo um pouco mal agora. Dei tudo o que tinha. No final foi com o coração, não tinha mais nada. Queria tanto esse ouro!”, falou, meio cambaleante, minutos após cruzar a linha da vitória. “Larguei com o pensamento de que uma medalha de prata seria uma decepção. Não tinha outra opção. Senti um pouco a pressão por largar com o número um, mas no final tive de dar um jeito de ganhar e deu tudo certo. Estou extremamente feliz com a medalha”.

Como toda boa história, essa também tem cenas dos próximos capítulos. Como dito, o ouro no triatlo do Pan é um dos maiores sonhos de Miguel Hidalgo. O segundo maior, para ser mais objetivo. Alguém arrisca dizer qual o primeiro? “O maior sonho são os Jogos Olímpicos e temos dez meses para trabalhar e chegar lá da melhor forma possível.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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