Santiago – O Brasil encerrou participação no ciclismo de pista dos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023 sem medalhas. Apesar disso, teve resultados expressivos, como dois quartos lugares e uma sexta colocação. Colocações estas que surpreenderam os próprios atletas brasileiros. Isto porque eles alegam que não tiveram uma preparação adequada para o evento, sem sequer fazer períodos de treinamento antes do Pan.
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“O meu resultado foi inesperado para mim e acredito que para qualquer um da equipe. Em vista do tanto de investimento que nós temos, eu saio muito feliz com esse quarto lugar. Se tivesse um apoio maior, com certeza eu estaria brigando por uma colocação melhor e até por medalha. A nossa realidade é muito triste”, disse Carolina Barbosa, quarta colocada no sprint individual feminino.
Modalidade deixada de lado
Os atletas dizem que há pouco investimento da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) com a modalidade de pista. Os ciclistas tiveram de se preparar por conta própria para Santiago-2023, treinando em seus clubes, uma vez que não houve training camp antes da competição. Cada país poderia classificar até 18 atletas para os Jogos Pan-Americanos, sendo nove por naipe, mas o Brasil obteve apenas oito vagas.
O Velódromo Olímpico, localizado no Rio de Janeiro, é um dos melhores do mundo, mas é pouco utilizado para treinamentos ou competições do ciclismo de pista. A CBC planejava fazer um período de treinamento para o Pan lá, mas, segundo o gestor de alto rendimento da entidade, o local estava inacessível na época.
“Estava previsto um training camp no Velódromo do Rio, mas devido a sua interdição, resolvemos antecipar ao máximo a convocação para os Jogos Pan-Americanos de Santiago, proporcionando um maior período de preparação para os atletas, tendo em vista que todos os convocados moram em cidades que têm velódromos ativos funcionando”, falou Fernando Fermino, gestor de alto rendimento da CBC.
Além da falta dos treinamentos, os atletas reclamam que a CBC não os leva os para eventos internacionais e também não renova os equipamentos para competirem. Assim, acabam tendo que pedalar com bicicletas ultrapassadas se comparadas com às dos atletas de alguns outros países.
“Essa é apenas a minha segunda competição internacional do ano, disputando ao lado de medalhistas mundiais, que acabaram de vir de provas internacionais. Isso faz total diferença. A falta de competição atrapalha muito o atleta, porque ele fica sem ritmo de prova. Não adianta só treinar, treinar e não competir”, falou João Vitor da Silva, que chegou a vencer o vice-campeão mundial Nicholas Paul na eliminatória e terminou em sexto lugar na final do keirin.
A pista merece atenção
A situação de descaso com o ciclismo de pista brasileiro vem de longa data. Na última edição do Pan, por exemplo, os brasileiros já reclamavam com a falta de bikes novas. Naquela ocasião, o país também saiu zerado no quadro de medalhas – a equipe masculina de sprint conquistou um bronze, mas perdeu a medalha por conta de um caso de doping envolvendo Kacio Freitas. Considerando todo o histórico de Pans, o Brasil acumula sete medalhas na modalidade, sendo um ouro e seis bronzes.
“Eu acho que o ciclismo de pista tem que ser mais visado. Ele é importante assim como o mountain bike, o BMX e a estrada. Temos grandes chances de Olimpíadas, mas é preciso dar uma atenção maior para a modalidade. Tem que participar da Copa das Nações, do Mundial, de todos os Pan-Americanos e de provas classe 1 e classe 2. Isso tudo para ter ritmo de prova, porque se não, não adianta. Não adianta vir participar e alinhar ao lado de um campeão mundial”, falou João.
Questionada sobre os equipamentos, a confederação explicou que não conta com patrocinadores para investir em novas bikes. “Como são equipamentos extremamente individualizados e com custo elevado, apenas oferecemos suporte aos atletas e disponibilizamos algumas bicicletas de contingencia para determinadas provas em algumas disciplinas”, falou a entidade, em nota.
Mundial sem brasileiros
A última edição do Mundial de Ciclismo aconteceu em agosto deste ano, em Glasgow, na Escócia, reunindo 13 disciplinas sob tutela da União Ciclística Internacional (UCI). Dessas, incluíram-se as cinco modalidades olímpicas (BMX Freestyle Park, BMX Racing, Estrada, Mountain Bike e Pista) e as paralímpicas (Pista e Estrada). O Brasil teve 39 atletas na competição, sendo cinco no paraciclismo de pista e nem um na pista convencional.
“Infelizmente, é um cenário bem triste o do Brasil. Só eu participei como velocista nesses Jogos Pan-Americanos e se, olhar os outros países, tem pelo menos três atletas. Faz um bom tempo que nós não temos um team sprint (equipe). No feminino, a última vez que eu corri essa prova foi em 2018. Os meninos quase sempre conquistam medalhas, seja em Pan-Americano ou Jogos Pan-Americanos, mas esse ano não puderam conquistar. Atualmente, só tem eu e o João de velocistas. É uma realidade muito triste”, finalizou Carol.
Avaliação da CBC
Para Fermino, o saldo do Brasil foi positivo no ciclismo de pista. Além do quarto lugar de Carolina Barbosa e do sexto de João Vitor Silva, o Brasil também teve um outro quarto lugar no madison feminino, com Alice Melo e Wellyda Rodrigues. Além disso, Armando Camargo terminou em sétimo lugar e Wellyda foi décima no omnium. Armando e Kacio Freitas não completaram o madison masculino.
“Nós saímos satisfeitos, apesar de não ter conquistado uma medalha, que era o nosso grande desejo. Analisando o resultado geral, foi bom. A gente avaliou um quarto, um quinto e um sexto lugares, que nos deixam motivados. Fica evidente que estamos no caminho, mas ainda precisamos investir no processo de preparação dos nossos atletas. O caminho estamos conhecendo e aprendendo, conseguindo chegar perto das grandes potências, mas precisamos olhar para o lado estruturante”, disse ele.