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Santiago 2023

Vôlei feminino foi até onde deu e destaca trabalho de renovação

Seleção feminina recoloca o Brasil no pódio do Pan, sai com medalha de prata e destaca trabalho de renovação

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(Jonnathan Oyarzun/Santiago 2023 vía Photosport)

Santiago – Foi um duelo de um time tarimbado, marcado por bons resultados e anos jogando junto contra um grupo de jogadoras buscando espaço e, muitas, estreando com a camisa da seleção. Era claro o favoritismo da República Dominicana contra o Brasil na final do vôlei feminino nos Jogos Pan-Americanos de Santiago. Deu a lógica, vitória caribenha por 3 sets a 0, com as brasileiras equilibrando o duelo apenas no primeiro set. As parciais foram 26 a 24, 25 a 16 e 25 a 19. Apesar da derrota, medalha de prata no peito, recondução do time para o pódio do Pan e sementes plantadas para o futuro.

“Gostaria de sair com a medalha de ouro, mas pela circunstância da final, contra uma equipe muito bem preparada, muito tempo jogando junto, muita experiência. Já está no nível internacional, classificou no pré-olímpico na frente de Sérvia (campeã mundial) e China. Saímos de cabeça erguida. Essa juventude ganhou experiência, jogou um Pan-Americano. Onze delas não haviam jogado. Jogadoras que nunca vestiram a camisa da seleção brasileira. E outras que estão no processo de acumular jogos”, disse Paulo Coco, o técnico do time no Pan de Santiago e auxiliar de Zé Roberto Guimarães na equipe principal.

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Paulo Coco e comandadas (Gaspar Nóbrega/COB)

Missão cumprida

“A equipe teve dez dias de treinamento. A gente se apresentou no dia nove e treinou até o dia 16. Algumas ausências que sentimos falta, mas aproveitamos bem. Uma grande fase de grupos, sem perder sets. Um desafio muito grande ontem no volume de jogo do México”, avalia, citando a semifinal contra as mexicanas, treinadas pelo grande rival dele no Brasil, o italiano Nicola Negro. “Uma pena hoje o primeiro set. Se a gente consegue finalizar, talvez a confiança fosse diferente. É uma equipe jovem. Talvez a gente conseguisse pressionar a equipe dominicana. Mas o ‘se’ não existe no esporte, terminou dessa maneira. Vamos sair de cabeça erguida. Com essa juventude, a missão foi cumprida.”

O primeiro set da final do vôlei feminino do Pan foi igual o tempo todo, sem que nenhuma equipe conseguisse escapar no marcador. O Brasil chegou a abrir três pontos em duas oportunidades, mas na reta final, quem não perdoou foi o time mais tarimbado, mais acostumado com jogos grandes. A segunda parcial foi o oposto. Brayelin, Peña, Marte e companhia abriram 11 a 2 e depois só rodaram para fazer 2 a 0 e colocar um Everest para as jovens brasileiras subirem se quiserem sair com o ouro. Lorena, Sabrina, Naiane e companhia começaram a escalada na terceira parcial, jogaram ponto a ponto até a metade do set, mas, como avaliou Paulo Coco, “depois o poderio ofensivo delas foi soberano”.

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(Jonnathan Oyarzun/Santiago 2023 vía Photosport)

‘Têm de sair orgulhosas’

“Vi uma alegria, uma motivação muito grande por parte delas. Orgulho muito grande de estar vestindo essa camisa, ter tido essa oportunidade. Elas se dedicaram muito”, acrescentou o treinador do Praia Clube, já falando do processo inteiro de trabalho com o grupo que levou a prata. “São jogadoras que tem de rodar mais, passar por mais competições como essa para poder crescer. Tem jogadoras aqui de 17, 18, 19 anos. Quantas atletas que passaram e nunca conseguiram uma medalha de Pan-Americano? Elas saem com a de prata, têm de sair orgulhosas. Perderam para favorita.”

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Sabrina e Lorena

Duas das atletas que mais se destacaram foram a central Lorena, já com passagens pela seleção principal, e a oposta Sabrina. Ambas foram saíram de quadra, além da medalha de prata, com prêmios individuais. “Estou bem feliz com o prêmio individual. Queria dividir com todo mundo, nossa equipe trabalhou muito e sem elas não teria ganhado”, afirmou Sabrina, melhor do vôlei feminino do Pan na posição dela. “Nunca tinha nem sido convocada para uma seleção principal e não tinha trabalhado com nenhum desses caras que estão aqui hoje. Só de eles terem me visto um pouco mais de perto foi uma oportunidade”, acrescentou a atleta de 27 anos do Sesc RJ Flamengo.

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Sabria, a melhor oposto do pan (Wander Roberto/COB)

Sabrina foi o grande nome do time na semifinal, marcou 24 pontos contra o México. Na final, colocou 12 bolas no chão com aproveitamento de 40% e fechou o torneio com 80 pontos em cinco partidas, média de 16 por confronto. Os números endossam, porque não, um sonho de chegar a Paris 2024 “A Superliga vai começar e eu vou trabalhar duro para poder, quem sabe, conseguir uma vaguinha, colocar uma pulguinha na orelha do Zé Roberto”. Paulo Coco lembrou que coisas assim já ocorreram, e não há muito tempo. “A Aninha, com uma Superliga, foi para a Olimpíada de Tóquio”, citou, referindo-se a Ana Cristina, na época com 17 anos de idade.

Prata e primeiro prêmio com a seleção

Lorena levou pra casa a medalha de prata e o prêmio de segunda melhor central do vôlei feminino do Pan. Estava com um grande sorriso no rosto. “Fiquei feliz, meu primeiro prêmio individual com a camisa da seleção. Estava muito contente com meu jogo, consegui desenvolver muita coisa legal durante esse ano e coloquei em prática. Foi a construção muito legal”. Sobre a final, entendeu que ainda não tinha chegado a hora de bater um time como o da República Dominicana. “A gente errou bastante. (A República Dominicana) é um time que está jogando junto o ano inteiro e a gente não tem nem vinte dias. Conseguimos fazer muita coisa com o que tínhamos em mãos. Chegamos em uma final. Queria mais, podia mais, mas graças a Deus chegamos aqui (na medalha)”.

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A central Lorena (Wander Roberto/COB)

A atleta de 24 anos do Praia falou sobre o que pode vir pela frente para esse grupo. “Tem espaço para quem acredita e é corajoso. As meninas estão vindo com coragem, entendendo o que é para ser feito, o trabalho, admirando e trabalhando em cima dessa admiração. Eu mesma cheguei na seleção babando nas “Carois”, na Tayssa, nas meninas todas. Vemos nossos exemplos muito próximos e notamos que todo mundo tá com características muito parecidas”, falou, antes de dar alguns exemplos dentro do grupo que esteve. “A Aline é uma ponteira que entra e passa pra caramba. A Luzia entrou e bloqueou pra caramba. A Larissa fez o que tinha de fazer. Daiane, Laís, o time inteiro. A Sabrina, cara. Todo mundo busca oportunidade. Tá todo mundo acreditando muito, a renovação vem forte, com certeza.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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