Santiago – Quatro anos atrás, Isabela Abreu saiu com a medalha de bronze no pentatlo moderno nos Jogos Pan-Americanos de Lima, porém frustrada. Agora, no Pan de Santiago 2023, ficou longe do pódio, foi a nona colocada, mas era pura felicidade. Parece contraditório, ainda que a medalha tenha sido no revezamento, mas uma simples palavra explica: Olimpíada. Em 2019, a paranaense saiu da capital peruana sem vaga olímpica para Tóquio, mas nesta segunda-feira (23) carimbou o passaporte para Paris 2024.
“Vou começar a sonhar agora. Minha primeira Olimpíada, nem to acreditando. Classificamos, estamos em Paris 2024, o pentatlo mais uma vez vai ter um representante brasileiro”, disse Isabela Abreu, ainda no campo de competições, poucos minutos após cruzar a linha de chegada como a melhor sul-americana da final. Havia vaga para duas do continente, mas logo no hipismo sobraram apenas três competidoras com chances reais. Além de Isa, a também brasileira Stephany Saraiva e a equatoriana Sol Naranjo. Como era só uma por país, Naranjo já tinha uma e a outra ficou numa disputa caseira entre as duas brasileiras.
Tiro e corrida
“Foi uma boa competição, algumas falhas, tenho de ver o que está acontecendo no meu tiro. Tive um problema com a arma, quebrou uma peça, mas, enfim, passou, não importa, a vaga está aí”. A disputa direta com Stephany Saraiva no laser run, combinado de tiro com corrida, foi emocionante. Isa saiu na frente na corrida, mas Stephany passou no tiro. Isso ocorreu nas quatro primeiras voltas. Na quinta, Isa achou os alvos melhor e não perdeu mais a posição até cruzar a linha de chegada. “Eu recuperava, e saia atrás, recuperava, saia atrás. Na última, tentei me concentrar mais, tava todo mundo gritando que meu tiro tava saindo pra esquerda. Dei uma corrigida e depois foi sair pro abraço.”
Pequenos grandes detalhes
Isabela Abreu lembrou que em 2019 teve um problema com o cavalo, fatal para brigar pela vaga olímpica em Tóquio. “Teve, então, toda uma reviravolta com mais treinos, mudei de técnico. Acho que também foi um crescimento muito grande na minha comissão. A gente se acertou muito. Isso, com certeza, trouxe a nossa vaga. Minha comissão está muito fechadinha, estamos muito certos do que estamos fazendo e hoje foi o exemplo de tudo isso”, contou. A brasileira destacou que, ao contrário do Pan de Lima, agora em Santiago estava com os técnicos por perto. “Isso faz muita diferença, dá um ânimo diferente”.
Athos Schwantes, esgrimista que esteve em Londres 2012, faz parte da comissão de Isa. “Tem alguns esportes que a presença do técnico é muito importante. No caso da esgrima, é enorme. Como o adversário está ali, jogando, podemos estabelecer uma estratégia. Fizemos um estudo muito grande de cada adversária, estávamos muito preparados, só que na hora aquilo tem de se confirmar. Quando não se confirma, temos de ajustar nossa estratégia”, explicou.
‘Coração ainda meio fora do corpo’
O apoio não foi apenas técnico. Nas arquibancadas, Marcus e Mara Abreu acompanhavam, com a tensão que o momento pedia, prova a prova. Primeiro o hipismo, depois a esgrima, natação e o decisivo laser run. “O coração da mãe ainda está meio fora do corpo”, comentou Mara, após a competição. “O sorriso é meio que pra aliviar a tensão”, completou Marcus, que é técnico de esgrima.
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“O papel do pai é sempre apoiar, em qualquer circunstância. Estava lá em Lima, foi o ombro que ela encostou e chorou muito. Desta vez a mãe veio junto para que a gente pudesse apoiar de todas as maneiras”, acrescentou Marcus Abreu. “O maior sentimento é de felicidade pela filha, saber de todo o trabalho, a dedicação, do dia a dia, competência. Era o sonho dela. Ver o sonho de um filho realizado compensa tudo, qualquer coisa”, completam ambos enquanto aguardavam a dona da vaga olímpica parar de correr para lá e para cá no campo de provas da Escuela Militar del Libertador Bernardo O’Higgins.
Rumo a Paris
“Meus pais estão aqui representando toda a minha família, que sempre torceu muito por mim. São os que mais sabem o quanto a gente sofre. Devo tudo pra eles, que sempre me apoiaram muito no esporte. São a minha base, com certeza.” Após alguns momentos, todos conseguiram se juntar em frente ao pórtico do pentatlo moderno do Pan. Isabela, técnicos e família fizeram uma foto que demorou quatro anos para ser tirada, mas que pode ficar ‘envelhecida’ muito rápidamente. A cidade luz é logo ali.