Santiago – Foi necessária uma correção de estratégia para que José Gabriel conseguisse manter a terceira colocação no ciclismo mountain bike para colocar no peito a primeira medalha brasileira nos Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023. Logo após deixar a cerimônia de premiação, ainda na pista, contou que por duas vezes a corrente da bicicleta caiu, na segunda delas forçando ele a abandonar a luta pelo ouro e a prata para garantir o bronze. Emocionado, dedicou a conquista para o tio, que lhe deu a primeira bike quando ainda era criança, e a um grande amigo, que o levou para o MTB. Ambos, como ele mesmo disse, estão acompanhando esse momento do céu.
+ Quadro de medalhas dos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023
José Gabriel vinha disputando as primeiras colocações com o canadense Gunnar Holmgren e o chileno Martin Kossmann, esse embalado pela grande torcida que lotou a pista montada no Club Deportivo Universidad Catolica, no pé da Cordilheira dos Andes, neste sábado (21). “Na terceira volta tive um problema mecânico, minha corrente caiu por uma infelicidade minha. Tinha uma pedra um pouco alta e eu sabia que se as marchas estivessem mais em baixo, mais pesadas, poderia cair. Me esqueci disso, a corrente caiu, tive de parar para colocar”, contou.
Recalculando a rota…
“Nisso me desconectei deles e recomecei a perseguição. O foco era buscar os primeiros, me esqueci da pedra, caiu de novo a corrente. Tive de manter a calma, recalcular a rota e vi que voltar ao grupo dos ponteiros seria mais difícil e ali passei a segurar a medalha. O corpo já estava cansado. São 27 finais de semana de competição esse ano. A maior temporada da minha vida e no final das contas deu mais do que certo”.
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A primeira bike e o MTB
Ao lembrar sobre o que contava a história daquela medalha, parou um momento para respirar fundo e, com a voz embargada, explicou: “Era um sonho estar aqui. A medalha é para o meu tiro, que está lá em cima olhando por mim”, disse com os olhos marejados, apontando o céu. O nome do tio é Benedito Marques, que deu a primeira bicicleta para José Gabriel quando, o hoje medalhista, tinha apenas cinco anos de idade. “A partir dali, vim com o BMX racing e há doze anos comecei no mountain bike por conta de um grande incentivador e amigo meu que também está lá em cima”. O amigo é Gustavo Moreno.
Do BMX pro MTB
A transição para o mountain bike tem a ver com a cidade natal dele. “Sou de Poços de Caldas, um berço do ciclismo em geral. Temos atletas como Renato Rezende, que saiu de lá. Bruno Cogo que está aqui também (ambos do BMX Racing). Em um momento meio crítico, ficamos sem a pista em Poços de Caldas e o Gustavo Moreno com o pai, o Paulão, eram meus padrinhos. Eu não tinha uma condição financeira muito boa e eles me levaram para o mountain bike. Vim junto com eles e hoje estou aqui”, afirma, sempre tocando a medalha de bronze que acabara de conquistar no MTB de Santiago 2023.
