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Santiago 2023

Marcela supera calvário e vai brigar por vaga olímpica no pentatlo

Duas quedas de cavalos geraram um problema gravíssimo no ombro direito da atleta, que adiou a necessária cirurgia para conseguir disputar os Jogos Pan-Americanos

Marcela Mello Brasil Mundial Júnior pentatlo moderno Santiago 2023
(Divulgação/UIPM)

Santiago – É difícil imaginar de onde alguém consegue tirar forças para superar tanta dor a fim de manter de pé um objetivo. Talvez o sonho olímpico, talvez pura garra e determinação. Com apenas 19 anos, Marcela Mello já passou, e ainda passa, por uma agonia intensa “apenas” para disputar os Jogos Pan-Americanos de Santiago 2023 no pentatlo moderno. A edição chilena é especial, é verdade, vale vaga nos Jogos de Paris do ano que vem, mas tem muito além disso. Uma história de amor ao esporte, desejo de superação e solidariedade e apoio intensos de muita gente.

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Em 2021, nos Pan Júnior de Cáli, na Colômbia, Marcela Mello caiu do cavalo em que disputava a prova de equitação, uma das cinco que compõem o pentatlo moderno. Caiu e ficou pendurada pelo braço direito. Em maio desse ano, sofreu um acidente semelhante e, com ele, a ruptura do labrum, estrutura fibrocartilaginosa que envolve um dos ossos do ombro. Ela detalha melhor: “Estou com uma fissura que está abrindo. O labrum rompendo, tá comendo as articulações, então é uma dor que não dá para explicar. O ombro saia e voltava pro lugar, era dor, tremedeira. Perdi força”, conta. “Eu treinava, fazia uma coisa que amava, e sentia muita dor. Não era por estar indo ao extremo. Me limitava.”
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Dar meu jeito

O indicado seria operar logo depois do segundo acidente, “mas ficaria fora do Pan e eu falei que iria chegar (em Santiago 2023), dar meu jeito”. E assim ela foi, na base da fisioterapia e de uma rede de apoio muito grande. Ficou uma semana com o braço imobilizado, mas não deixou de treinar a rotina do pentatlo moderno. “Nadava só com o braço esquerdo e corria com a tipoia. Fiquei uma semana e meia assim. Depois, tirei (a tipoia) e dois dias depois competi.”

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Marcela Mello cita, claro, o apoio familiar e dos técnicos durante todo o processo. Mas destaca muito os amigos. “Por mais que eles não tenham vindo para cá, foram a minha maior rede de apoio. Vivenciaram, até mais que meus pais, minha dor, meu choro, desespero. Foram total minha estrutura”, conta. O apoio dos amigos foi além da conversa e do consolo. “Fica na minha mente um treino que eu tava sentindo muita dor, muita, e faltava uma série ainda para eu terminar. Chorava de desespero na piscina, porque queria terminar e não aguentava mais. Meus amigos ficaram na raia e a cada tiro que eu chegava, eles estavam ali não deixando eu desistir. Eles já tinham acabado o treino e ficaram comigo ali até terminar.”

Quem é mais doido?

“Meus pais, não tem o que falar. Me levam para um lado, para o outro. No início, quando não conseguia trocar de roupa, minha mãe ficava comigo, me esperava. Eu saio cedo para correr e, para não ir sozinha, vão pedalando junto. Sempre fizeram de tudo por mim”, acrescenta. “O Fábio (coordenador geral) foi quase um pai. Ele costuma falar ‘não sei quem é mais doido, se eu que deixo, ou você que confia em mim pra fazer isso’. Ele viveu cada dia comigo, cada choro. São coisas que chego hoje aqui e só consigo lembrar disso. Vejo todo mundo que ficou do meu lado. Não vim pra cá realizar meu sonho, fazer o meu melhor. É o nosso melhor, nosso sonho. Vou carregar isso pra prova e para a vida. Devo tudo a eles.”

A turma do apoio

Diante de tanta gratidão, Marcela Mello faz questão de lembrar do nome de toda a turma do apoio. A começar pelos pais, Claudia Mello e Marco Mello. Além dos amigos “O Mateus, o outro Mateus, o Mamede, o Nicolas, Vitor, o outro Vitor, Rubens, Dani, Dudu, Eduarda, Caio, a minha psicóloga Ana Carolina, o Fábio (coordenador geral), Eric, Giffone, Edileuza, Eduardo. Sem contar os fisios e todo mundo que ajuda. Não vivi sozinha nem um dia, nem um momento sequer.”

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Pan, peso e Paris

Diante do cenário, Santiago 2023 vai além da simples disputa. “É uma grande chance para eu provar para mim mesmo que estou bem”, diz. Mas, só de chegar, acrescenta, “é um peso que sai das minhas costas, da preocupação. Do médico falar que não sabia se daria para chegar, como seria, e eu poder ver que venci.”

Marcela Mello ainda compete com dor, mas, como diz, “meu corpo acho que acostumou”. Então, sente-se apta para entrar cabeça a cabeça na disputa que pela primeira vez, no pentatlo moderno, vale vaga olímpica. “Vim realmente pra disputar. Sempre gosto de vir para uma prova não visando ser melhor que o outro, mas fazer o que treinei. Melhorar minhas marcas. A medalha, vaga, é consequência do que fiz.” Em jogo em Santiago 2023, vaga para o campeão e para dois sul-americanos. “É um grande sonho que é possível de acontecer. É o maior sonho de todo atleta e, se Deus quiser, a vaga vai vir. E se não vier, vou estar muito grata pra estar vivendo tudo isso.”

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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