Santiago – Com o mundo esportivo das Américas ainda a caminho de Santiago, o domingo na capital chilena foi propício para um breve momento de turismo pelas históricas ruas do centro. O dia ensolarado começou no imponente Palacio de La Moneda, sede do governo federal e símbolo da defesa da democracia no país. Ali mesmo, em frente ao prédio, um grupo de manifestantes saía em defesa dos palestinos. Um pouco mais adiante, ainda por perto, a Plaza das Armas abrigava uma procissão religiosa que marca uma clara integração entre peruanos e chilenos. Por fim, na mesma praça, o Museu Histórico Nacional conta a caminhada do país após a chegada dos espanhóis.
A primeira coisa que se avista no caminho para o Palacio de La Moneda é a enorme bandeira chilena que fica hasteada numa praça em frente ao prédio. No entorno, algumas estátuas em homenagem a presidentes que passaram por lá. Uma das mais marcantes é a de Salvador Allende. Salvador Guillermo Allende Gossens foi deposto por um golpe de estado liderado pelo general Augusto Pinochet, então chefe das Forças Armadas, em 11 de setembro de 1973. Allende resistiu dentro de La Moneda, com o palácio cercado e sob forte bombardeio, de onde só saiu morto. O golpe jogou o Chile em 17 anos de umas ditaduras mais selvagens que se tem notícia na história moderna.
Palco do povo
Não por acaso, em tempos atuais, La Moneda é palco de diversas manifestações populares. Uma delas ocorria exatamente neste domingo (15) e era contra o ataque de Israel sobre os palestinos. Munidos de bandeiras do Chile e da Palestina, e trajando vestimentas típicas dos árabes, gritavam palavras de ordem. Uma delas pedia para que o governo de Gabriel Boric, atual presidente chileno, rompesse relações diplomáticas com os israelenses. Eram algumas dezenas de pessoas, observadas de perto pelo aparato de repressão do estado, com guardas muito bem equipados e veículos blindados para dispersão de multidões. Ainda que apenas de prontidão.
Señor de los Milagros
A cerca de um quilômetro dali, outra manifestação popular tomava as ruas de Santiago. Mas essa de caráter religioso. Era a procissão do Señor de los Milagros, originalmente peruana, mas que também ocorre na capital chilena. Sendo assim, não foi difícil achar pessoas acompanhando a festividade com camisas de times de futebol peruanos ou imagens do país vizinho.
O Señor de los Milagros, ou Cristo Moreno, é uma representação de Jesus Cristo originalmente pintada em um santuário de Lima, capital peruana. Acredita-se que a imagem foi pintada no século XVI por um negro escravizado de origem angolana. A celebração do Señor de los Milagros é a principal católica do Peru e ocorre há mais de trezenos anos.
A presença peruana em Santiago, aliás, é marcante também no dia a dia. Seja com muitas camisas de clubes de lá, seja na gastronomia. Vale lembrar que Peru e Chile envolveram-se em uma contenda militar, a chamada Guerra do Pacífico, no final do século XIX que incluiu também a atual Bolívia.
Museu Nacional
A Plaza das Armas respira história e turismo. É o marco zero do Chile e está rodeada por monumentos de figuras como Pedro de Valdivia, fundador de Santiago, e instalações, como a Municipalidad de Santiago, o Correo Central, a Catedral Metropolitana e o Museu Histórico Nacional. Esse último oferece uma viagem pela trajetória chilena depois da chegada dos espanhóis.
O acervo é repleto de pinturas e peças de todos os tipos, desde singelos utensílios do dia a dia até uma carruagem e canhões. Há, também, réplicas de navios e maquetes que mostram como era Santiago e Valparaíso no início da colonização. Não falta um espaço próprio para a ditadura de Pinochet, até porque esse ano completa-se 50 anos do golpe militar de 1973. Logo na entrada está uma réplica gigante do famoso óculos quebrado de Salvador Allende. O original também está lá, ou pelo menos acredita-se que seja o original, em um lugar especial na primeira das salas de visitações.
