Ingrid Oliveira tem apenas 25 anos, mas já passou por coisas em sua carreira que muito atleta veterano jamais viveu ou viverá. Após ser alvo de ataques machistas nos Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015 e nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, que quase a fizeram deixar o esporte, a atleta do Time Dux Nutrition parecia que finalmente teria um ano olímpico mais tranquilo.
Apenas parecia. Desde fevereiro, a atleta dos saltos ornamentais viveu – e ainda vive – um turbilhão de emoções em 2021. De lá para cá, Ingrid deixou o clube que defendeu por 12 anos, passou por uma lesão nas costas e uma na mão por conta de um espelho quebrado, competiu no Pré-Olímpico com pouco tempo de entrosamento com o novo treinador, alcançou uma inesperada vaga para disputar sua 2ª Olimpíada e permanece sem clube até aqui.
Em entrevista ao Olimpíada Todo Dia, a 24ª colocada na Olimpíada de Tóquio relembrou tudo pelo que passou no ano e falou um pouco dos planos para 2022.
Montanha russa até a Olimpíada
“Aconteceram muitas coisas esse ano… Foi bem complicado. No início eu estava bem fisicamente, mais magra e treinando todos os dias no Fluminense e também no Maria Lenk, que tem a melhor piscina do Brasil em termos de estrutura. Só que aí eu tive uma lesão nas costas e a minha relação com a minha antiga técnica, que já não era das melhores, ficou ainda mais conturbada. Decidi trocar de técnico um mês antes do Sul-Americano,” contou a atleta.
Sem muito tempo para treinar, Ingrid não fez a melhor prova de sua vida, ainda que tenha terminado em 2º lugar. Porém, logo depois que retornou, teve o azar de lesionar novamente. Um espelho quebrou em sua mão, levando a saltadora a tomar pontos na região. Isso tudo um mês antes da Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, torneio disputado no Japão que serviu como o Pré-Olímpico da modalidade.
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Contra as suas próprias expectativas, Ingrid Oliveira terminou a a fase classificatória da competição com a 14ª colocação, o suficiente para assegurar a participação na segunda Olimpíada da sua carreira.
“Fiquei chocada com a vaga. Todo mundo ficou por conta disso tudo. Troca de técnico, lesão nas costas e a mão toda costurada, falta de treino por conta do espelho. Foi uma surpresa até mesmo pra mim. Tinham alguns saltos que eu não estava acertando nos treinos, mas que funcionaram na competição. Voltei mais feliz e focada, mesmo com dor,” avaliou Ingrid Oliveira.
A performance em Tóquio
O resultado animou a carioca de 25 anos. No início de julho, cerca de três semanas antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Ingrid Oliveira foi campeã na plataforma de 10 metros do Grand Prix de Bolzano, na Itália.
A atleta chegou ao Japão mais confiante e finalmente livre das dores nas costas, que já a perturbavam há mais ou menos seis meses. Na Olimpíada, no entanto, não conseguiu obter a performance que queria.
Ingrid esteve perto de conseguir a classificação para a semifinal na plataforma de 10 m. Entre 30 participantes, a brasileira esteve entre as oito primeiras colocadas nas três primeiras rodadas, mas não teve bom desempenho nos dois últimos saltos e acabou despencando para o 24.º lugar. Como apenas as 18 primeiras avançaram para a etapa seguinte da competição, a brasileira acabou eliminada.
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“Eu acho que o que deu errado foi eu ter me cobrado demais. Nos treinos eu estava competindo muito bem, totalmente diferente do que acontecia na Copa do Mundo. Eu estava acertando 80% dos meus saltos nos treinos. No aquecimento da prova, eu acertei tudo. Estavam muito concentrada. mas acho que gastei toda ela no treino.
Se engana quem pensa que para Ingrid o resultado ficou de bom tamanho com tudo que a atleta viveu até o fim de sua participação na Olimpíada.
“Saí p** da vida. Saí inconformada. A mesma pessoa dos treinos não foi a da competição,” contou.
E agora?
Passados quase três meses após sua participação em Tóquio, Ingrid Oliveira segue sem clube. Há exatos 66 dias para terminar o ano, muitas modalidades entram em suas retas finais de disputa. Nos saltos ornamentais, a única grande competição nacional que ainda ocorrerá será o Campeonato Brasileiro Interclubes, marcado para ocorrer na metade de dezembro. Uma das principais saltadoras do país, Ingrid Oliveira revelou que não deverá estar presente.
“Eu não sei se vou participar. Como eu não tenho clube, eu iria ter que pagar do meu bolso. E eu não iria subir no pódio. Não que isso seja importante. Só que eu viso fazer saltos novos. Então se eu for competir o brasileiro, teria que ser com os saltos antigos.” contou.
A indefinição em relação ao clube pode prejudicar os planos da atleta para o ano que vem.
“Eu preciso achar um clube para me federar. Se eu não encontrar, eu não consigo competir em 2022, por exemplo. Estou na procura de algum clube. O meu assessor procurou o Flamengo e o Pinheiros, mas acontece que os clubes estão com troca de diretoria. Então ficou meio ruim. Antes da Olimpíada, a conversa estava boa com o Pinheiros, mas esfriou porque trocou o presidente. Aí teve que começar de novo.
Ainda que sem clube, Ingrid Oliveira não está totalmente parada desde a Olimpíada. Por ser da Marinha do Brasil, a atleta usufrui do espaço do Parque Aquático Maria Lenk, local que recebeu as competições dos saltos ornamentais nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Por lá, treina com o atual técnico Alexander Ferrer e tem o apoio dos colaboradores Nell Salgado (psicóloga) e Thiago Vieira (nutricionista). Além disso, a atleta recebe o apoio do programa Bolsa Atleta e de patrocinadores como a DUX e a Speedo.