Como previsto, o “bode na sala” da Olimpíada Tóquio-2020 saiu de cena. Nesta terça-feira (19), Tsunekazu Takeda, presidente do comitê olímpico do Japão, que é acusado de corrupção, anunciou que irá deixar o cargo, o qual ocupa desde 2001. A saída só se efetivará em junho, quando o mandato de Takeda termina.
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A queda do veterano cartola japonês, de 71 anos, não tira contudo a vergonha que ficará encravada na imagem da Olimpíada de Tóquio.
Takeda caiu por conta das acusações de envolvimento num esquema de compra de votos em favor da candidatura japonesa. A capital japonesa foi eleita sede na Assembleia do COI em 2013.
A Justiça da França, que investiga o caso, aponta ter provas de que o dirigente teria feito dois pagamentos totalizando US$ 2 milhões à uma empresa em Cingapura de propriedade da Papa Diack. Seu pai, Lamine Diack, era presidente da Iaaf (Associação as Federações Internacionais de Atletismo), membro do COI e com direito a voto na eleição do Comitê Olímpico Internacional.
Constrangido, Takeda reuniu a imprensa nesta terça-feira para comunicar seu afastamento. Obviamente, disse que é inocente e que irá provar isso. mas justificou a saída do JOC (a sigla do comitê japonês) pela necessidade de que “um novo líder, de uma nova geração, receber as Olimpíadas e criar uma nova era”, explicou.
Semelhanças e diferenças
Ao tentar uma saída honrosa, Takeda não conseguirá livrar os Jogos de Tóquio da mancha da mancha da corrupção. Até porque o caso do dirigente japonês traz semelhança com outro bem conhecido dos brasileiros.
Foi por causa de uma acusação idêntica que Carlos Arthur Nuzman perdeu o poder no COB (Comitê Olímpico do Brasil). Em 2017, investigações em conjunto dos ministérios públicos do Brasil e da França apontaram uma ligação entre Nuzman e o empresário Arthur Soares Filho, que também teria pago US$ 2 milhões para a família Diack na escolha do Rio como sede dos Jogos de 2016.
Até mesmo a posição hierárquica dos dois cartolas na organização dos respectivos Jogos era igual.
Assim como Takeda, Nuzman era então presidente do COB na época da Rio-2016 e também presidente do comitê organizador dos Jogos. O dirigente japonês tinha o cargo de diretor-executivo do comitê que organiza a Olimpíada de 2020, mas tratava-se de um cargo mais protocolar do que efetivamente operacional.
O que tanto o brasileiro quanto o japonês se igualam foi no papel fundamental para que as candidaturas de suas cidades triunfassem na eleição do COI.
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Ao contrário de Takeda (por enquanto), Nuzman chegou a ser preso, mas foi solto pouco tempo depois. Ainda na prisão, escreveu uma carta renunciando ao cargo no COB, que ocupava há 22 anos até então.
A grande diferença entre os dois casos é que o escândalo japonês explodiu antes da Olimpíada acontecer. No Brasil, foi só estourar no ano seguinte, quando os números do déficit do orçamento dos Jogos, além da crise geral de recursos nas confederações olímpicas brasileiras, dominavam o noticiário.
A saída de Takeda alivia um pouco o peso do marketing negativo de Tóquio-2020, sem dúvida. Mas não esconderá os profundos arranhões na imagem de organização e ética dos japoneses na organização de sua segunda Olimpíada.