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Pan 2019

Após cumprir papel em Lima, judô brasileiro foca em Tóquio

Calendário e desconexão com Olimpíadas fizeram judô mandar equipe jovem, que cumpriu seu papel. Foco agora é duplo na capital japonesa

Seleção do judô nos Jogos Pan-Americanos
Pedro Ramos/rededoesporte.gov.br

O Brasil levou uma seleção bem jovem para os Jogos Pan-Americanos de Lima e sai de lá cumprindo o seu papel. Fez cinco medalhas de ouro, uma de prata e quatro de bronze, sem nenhum fiasco retumbante ou resultado muito além do esperado. Agora o foco volta-se para o Mundial de Tóquio, de longe o evento mais importante da temporada.

Os dois ouros mais marcantes foram os de Mayra Aguiar (78kg) e Rafaela Silva (57kg). Não por serem surpreendentes, pelo contrário, mas por serem os primeiros das duas, já atletas consagradas. O de Larissa Pimenta (52kg) vem logo atrás, pois a jovem atleta consolidou sua dominância na categoria dentro do continente. Eduardo Yudy (81kg) ganhou o seu em um dia que se esperava mais de Rafael Macedo (90kg), e o mais surpreendente foi o de Renan Torres (60kg).

+ Larissa Pimenta: “estou no caminho certo para a Olimpíada”

“O destaque positivo foi no primeiro dia com o Renan. Um atleta muito novo, era o menos rodado na equipe sênior. Ganhou de dois atletas bem fortes, que tinham ganho de atletas de nossa equipe principal”, afirmou Ney Wilson, Gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), no domingo (11) logo após o encerramento do torneio de judô em Lima. Ele confirmou que Renan estará no Mundial júnior do Marrocos, em outubro.

Renan Torres vibra com ouro no judô dos Jogos Pan-Americanos

Renan Torres surpreendeu (Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br)

Rafael Macedo e Daniel Cargnin

Ney Wilson evitou dizer quem ficou aquém do esperado, mas Rafael Macedo chegou como segundo mais bem ranqueado na categoria, o 15º, e com três pódios em seis competições disputadas no ano. Inclusive a prata no campeonato pan-americano de judô realizado na mesma Lima, em abril. Saiu em quinto dos Jogos Pan-Americanos dentre nove atletas.

Ele perdeu a semifinal para o cubano Ivan Morales, terceiro do ranking mundial, e no bronze foi derrotado pelo peruano Yuta Garreta, 52º do mundo e que nunca medalhou fora do continente. Foi jogado duas vezes pelo rival e saiu irritado do tatame sem dar declarações.

Daniel Cargnin (66kg), nono do mundo, ficou com a prata perdendo a final para Wander Matteo, da República Dominicana, número 72. Apesar do pódio, não saiu muito satisfeito. “Eu podia ter dado algo a mais”.

Jeferson Santos (73kg), David Moura (+100kg), Aléxia Castilhos (63kg) e Beatriz Souza (+78kg) completam os medalhistas do judô com bronzes.

“O resultado foi muito bom. Das cinco medalhas de ouro que a gente conquistou, três foram por atletas novos, que estavam estreando nos Jogos. Alguns daqueles que não chegaram à medalha sentiram um pouco o peso da competição. Não que eles não tenham experiência, são bastante rodados. Mas o clima dos Jogos, a exposição de mídia, tudo isso acaba pesando um pouquinho”, avaliou Ney Wilson.

Rafael Macedo após derrota para peruano no judô dos Jogos Pan-Americanos

Rafael Macedo sentiu a derrota para Yuta Galarreta (Paolo Lopez Zubiaurr/Lima 2019)

“O resultado foi dentro daquilo que a gente esperava. A minha previsão para o COB eram cinco medalhas e chegamos às cinco medalhas. Medalhas que eram mais certas deixamos de ganhar, mas aquelas que não eram tão certas também a gente conquistou”, acrescentou, sem revelar qual total de medalhas esperava.

Calendário e falta de pontuação incomodaram

Uma mudança de calendário do judô e a falta de pontuação no ranking olímpico transformaram os Jogos Pan-Americanos em um certo incômodo para a gestão de alto rendimento do judô brasileiro. As duas ressalvas caminham juntas.

O calendário foi alterado para essa edição. Deixou de ser no início e passou a ser no final, sendo encerrado em 11 de agosto. Com isso encavalou no Mundial que será realizado a partir de 25 de agosto em Tóquio, localizada a cerca de 15,5 mil quilômetros de distância de Lima. A seleção foi direto em uma viagem que leva aproximadamente um dia, exigindo na chegada adaptações complexas como fuso horário e recuperação física para atletas de alto rendimento.

Parada obrigatória para as Olimpíadas

O Mundial por si só já tem peso maior do que jogos continentais, mas neste ano ele é ainda mais importante. É o campeonato que mais soma pontos para o ranqueamento da Federação Internacional de Judô, base para a classificação olímpica. São 2 mil para o campeão, por exemplo.

Soma-se a isso o fato de ele ser realizado dentro do período de 365 dias que antecede à data final que vale para a classificação olímpica, em 24 de maio de 2020. Sendo assim, tudo o que for somado no Mundial conta integralmente no ranqueamento. Os Jogos Pan-Americanos não deram qualquer pontuação.

Por fim o Mundial será um evento teste para as Olimpíadas, já que ambos serão em Tóquio e realizados nos mesmos moldes de concentração, deslocamentos dentro da capital japonesa e local de competição.

Budokan, local onde serão as lutas de judô no mundial e em Tóquio 2020

Budokan, onde serão realizadas as lutas do Mundial e dos Jogos Olímpicos

“A aclimatação para o campeonato mundial é fundamental”, disse Ney Wilson, no início de abril. “É um grande laboratório para os Jogos Olímpicos. A gente vai usar a mesma estratégia, vamos ficar no mesmo lugar, nos mesmos dias, levando todos os profissionais, para a gente avaliar onde a gente ainda pode evoluir”.

Portanto, dá para dizer que o Mundial é parada obrigatória para os Jogos Olímpicos do ano que vem. Por conta disso, atletas como Maria Suelen Altheman (+78kg) e o próprio David Moura pediram dispensa do Pan e foram atendidos. David acabou indo por conta de uma lesão de Rafael Silva, inicialmente convocado.

“(O Pan) não foi no melhor momento, principalmente por se tratar de um evento que vale pontuação. Talvez se ele tivesse nessa mesma posição (calendário), mas valendo ponto para o ranking, o atleta chegaria de maneira diferente”, disse Ney Wilson. “É um pleito da maioria dos países que estão aqui para que os Jogos Pan-Americanos possam valer como evento de ranqueamento olímpico, como os Jogos Europeus foram, os Jogos Asiáticos foram. Acho que isso cria uma motivação a mais”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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