“Os Jogos Pan-Americanos para nós não valem absolutamente nada em termos de Jogos Olímpicos”. É desta maneira que o Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), resume a importância do torneio de Lima para o maior foco da seleção, os Jogos de Tóquio 2020. A questão passa pelo calendário do Pan-Americano e a aclimatação para o mundial de judô.
Ele falou com a imprensa na tarde desta terça (2) durante treinamento de campo que a seleção realiza, junto com atletas estrangeiros, na cidade de Pindamonhangaba, interior de São Paulo. Lá, destacou também que a intenção é fazer o Brasil figurar entre as cinco maiores potências olímpicas, objetivo que também tem na estratégia a realização do Grand Slam de Brasília, anunciado na mesma data.
A chateação é fundamentada basicamente em dois quesitos. Um no fato de os Jogos-Pan-americanos não terem qualquer impacto direto no ranking mundial, da Federação Internacional de Judô (FIJ), que, em última análise define os atletas credenciados para participar do torneio olímpico.
Para piorar, o calendário do Pan-Americano encavala justamente com a preparação para a principal competição do ano para a seleção, o mundial, que também vai ser disputado na capital japonesa. O calendário apertado incomoda não apenas porque o mundial é o torneio que mais dá ponto para o ranking no ano, mas também porque a seleção quer usar a aclimatação para o torneio deste ano como laboratório da preparação para os Jogos de 2020.
“A aclimatação para o campeonato mundial é fundamental”, explica Ney Wilson. “É um grande laboratório para os jogos olímpicos. A gente vai usar a mesma estratégia, vamos ficar no mesmo lugar, nos mesmos dias, levando todos os profissionais, para a gente avaliar onde a gente ainda pode evoluir”, detalha Ney Wilson.
Um mês fora
O torneio de judô do Pan vai de 6 a 11 de agosto e o período de aclimatação para o mundial começa exatamente um dia após o término, dia 12. As lutas do mundial vão de 25 a 31 de agosto. Ou seja, dá quase um mês fora. “Por isso alguns atletas optaram por não fazer os jogos. É muito tempo e nem todos se adaptam a tanto tempo fora”, explica.
Maria Suelen Altheman, bronze nas duas últimas edições do torneio continental e atual terceira do ranking, é uma delas. Já anunciou que não vai a Lima. “É um tempo muito longo fora só competindo. Isso seria muito tempo sem preparação física, sem treino realmente forte, então foi uma opção que eu fiz. Eu acredito que fiz a opção certa”, ponderou na terça (2). O motivo? “Por causa do campeonato mundial”.
Já com 30 anos, Maria Suelen tem duas pratas em mundiais e, como não haverá torneio no ano que vem por causa dos Jogos Olímpicos, o desse ano pode ser sua última chance de vencer ou ao menos conquistar mais um pódio.
David Moura, outro grande nome do judô brasileiro e mundial, também já disse que não vai a Lima.
Ney Wilson reclama ainda do critério usado para garantir vaga no Pan. “A PanAmerica também criou um ranking pan-americano para atrapalhar tudo. Não vale nem o ranking mundial, nem o ranking olímpico. Então a gente tem de gastar mais recursos para classificar para uns Jogos que não valem para os Jogos Olímpicos. Então é bem chato e bem complicado”, desabafa. O tal ranking pan-americano é composto pelo campeonato pan-americano e a copa pan-americana deste ano e do ano passado.
Mayra Aguiar
A bicampeã mundial e atual número 1 nos 78kg, Mayra Aguiar, pretende estar em Lima. “Estou muito focada nesta competição”, afirmou no mesmo treinamento de campo, na terça (2). “Vai ser bem cima do mundial, mas é uma competição boa e vai valer também como um treinamento para o Mundial. É muito importante para a carreira também”, afirma, mas sem deixar de admitir que “o foco mesmo está no mundial”.
A brasileira tem três medalhas em Pans. Uma no Rio 2007, quando ainda competia nos 70kg, e duas já pelos 78kg em Guadalajara e Toronto. “É claro que tem aquele gostinho especial. São jogos que quatro em quatros anos”.
Sua grande rival no continente era a norte-americana Kayla Harrison, que a venceu na última final, no Canadá, e também nas quartas de Guadalajara. Mas a adversária, também grande amiga da brasileira, parou com o judô. Mayra, porém, não baixa a guarda.
“Na verdade, tem uma colombiana que eu estou treinando e que quase medalhou em mundial. É muito forte. E tem a cubana que é medalhista (Kaliema Antomarchi). Em 2017 comigo ela medalhou (no mundial). Então não é uma competição fácil. É uma competição dura. E eu estou me preparando para ela.