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Judô

Grand Slam de Brasília é estratégico para Tóquio 2020

Anunciado ontem, torneio em Brasília será realizado em data vista pela gestão de alto rendimento da CBJ como oportunidade para impulsionar atletas brasileiros

A Confederação Brasileira de Judô anunciou na tarde de terça 2 a inclusão do Grand Slam de Brasília no calendário internacional. O torneio, além de recolocar o Brasil no circuito de grandes competições da modalidade, é visto como estratégico na corrida dos atletas brasileiros para garantir uma vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.

“Vai ser logo após o campeonato mundial, então a gente acredita que seja um evento bem cheio, mas com os atletas intermediários. Os atletas que fizerem um bom resultado no campeonato mundial dificilmente estarão aqui”, disse Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ, nesta terça 2, primeiro dia de treinamento de campo realizado em Pindamonhangaba, interior de São Paulo.

“Acho que dá para fazer uma boa competição. Tradicionalmente a gente tem alcançado resultados muito bons dentro do Brasil e a gente espera que se repita e com isso levantar nossos atletas no ranking. Isso é uma estratégia”, completou.

Ainda no mesmo dia, Ney afirmou que o grande objetivo olímpico da seleção de judô em Tóquio 2020 é ficar entre as cinco maiores potências da modalidade. No Rio, ficamos em sexto, atrás de Japão, França, Rússia, Itália e Estados Unidos. “Sair da sexta colocação para a quinta parece simples, mas é bastante complexa”.

Ney Wilson, de pé, fala sobre a estratégia do Brasil para Tóquio 2020 (foto: CBJ)

Grand Slam de Brasília tem peso grande

De todos os torneios do circuito internacional o Grand Slam é o que tem nível maior excetuando-se o mundial e o masters, que ocorrem uma vez só no ano. Dão 1000 pontos para o campeão, além de 700 para o vice e mais 500 para os dois bronzes. O Mundial dá 2000, 1400 e 1000, o Masters distribui 1800, 1260 e 900. Grand Prix dá 700, 490 e 350.

Com o de Brasília, são seis Grand Slams no ano. Os outros são Paris (França), Dusseldorf (Alemanha), Ecaterimburgo (Rússia), Baku (Azerbaijão), Abu Dhabi (Emirados Árabes) e Osaka (Japão).

Exemplo do ano passado

O Grand Slam de Brasília será realizado de 6 a 8 de outubro, entre cinco e seis semanas após o mundial de Tóquio, que vai de 25 a 31 de agosto. O retrospecto do ano passado endossa a estratégia dos brasileiros. Dos 56 medalhistas no Mundial de Baku em 2017 somente doze competiram em prazo semelhante ou inferior. Oito foram ao Grand Slam de Abu Dhabi, iniciado cerca de cinco semanas após o torneio de Baku, e quatro foram ao Grand Prix de Cancún, realizado cerca de vinte dias após o término do Mundial.

Importante destacar que há o quesito distância a ser considerado. Os oito que foram ao Slam eram representantes de países europeus ou asiáticos e Abu Dhabi fica no meio do caminho entre eles. Já Brasília e Tóquio estão cada um de um lado do planeta. Já dos quatro que participaram do Grand Prix de Cancún, dois eram cubanos, ou seja, no país vizinho, uma era argentina, também bem próxima, e só uma veio de mais longe, a Inglaterra.

A ucraniana Daria Bilodid disputou o mundial Júnior logo após ser ouro no adulto. Mas sob condição especial, já que só faltava esse torneio para ela fechar a tríplice coroa, ou seja, campeã mundial cadete, júnior e adulta, o que ela conseguiu.

Visões diferentes na delegação

Entre os técnicos, Mario Tsutsui, que comanda a seleção feminina, vê a possibilidade de medalhistas do mundial não virem, mas nem por isso espera um torneio mais simples. “Pode acontecer de atletas que medalharem no mundial não virem. Podem querer se preservar. Mas são poucos que sobem no pódio e a gente acha que o Grand Slam vai ser forte e com muitas atletas buscando pontos no rankeamento olímpico. Será uma competição dura”.

Yuko Fujii, comandante do time masculino, vai em caminho similar. “Essa época todo mundo corre atrás do ponto. Tem de descansar, parar um pouquinho depois do campeonato mundial, todo mundo pensa nisso. Mas como é véspera da olimpíada, todo mundo deixa esse negócio (descanso) de lado e vai correndo atrás de ganhar ponto”.

Entre os atletas, visões distintas. Um dos grandes nomes do Brasil, o pesado Rafael Silva, vê a estratégia com os mesmos olhos da gestão de alto rendimento. “O fato de ser depois do mundial é interessante para a gente porque a tendência é que alguns países tirem um pouco o pé e isso favorece o Brasil na conquista de pontos”, disse. Ele destacou ainda outras vantagens: “A gente tem a oportunidade de estar em casa, no nosso fuso horário, com a nossa alimentação e isso facilita muito”.

Mayra não prevê torneio simples em Brasília (foto: CBJ)

Mayra Aguiar, bicampeã mundial, em tem outro olhar. “O pessoal gosta do Brasil, eles vão vir. Eu espero que seja cheia a competição”. Maria Suellen, atual campeã do último Grand Slam realizado, na Rússia, também espera grandes nomes do judô mundial por aqui. “Todo mundo adora o Brasil”, endossou e acrescentou: “como agora todos os pontos valem 100% para a Olimpíada, não acho que vai estar mais fraco ou mais vazio por ser depois do campeonato mundial. Os atletas estarão realmente competindo.”

Um pequeno termômetro do que pode acontecer vem da francesa tricampeã mundial Clarisse Agbegnenou. “Para nós é bem difícil (comparecer) porque é bem depois do mundial e já tem bastante competição no calendário. Eu gostaria de participar, mas não vou conseguir. O Brasil é um ótimo lugar para vir. Clima bom, pessoas legais, comida boa. Mas será difícil vir porque veio em uma hora errada”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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