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O nono dan do Sensei Dante Kanayama

Do desconhecido ao penúltimo degrau, a jornada de um dos maiores mestres brasileiros do judô, promovido no fim de janeiro à faixa vermelha após uma vida dedicada à arte marcial

Foto: Reprodução

Atingir o nono dan no judô não é tarefa para qualquer um. Requer anos de treinos e também de dedicação a tudo que permeia a arte marcial japonesa. Anos não, décadas. Sete delas, no caso do Sensei Dante Kanayama, que teve outorgado a si o nono grau no final de janeiro de 2019.

A jornada de um judoca tem dez graus, sendo que no Brasil apenas um já chegou lá. O Sensei Massao Shinohara, cuja promoção máxima lhe foi entregue aos 92 anos em novembro de 2017.

Na cerimônia de agora, realizada no dia 26 de janeiro, foram três promovidos ao nono dan além do Sensei Dante Kanayama, a quem coube ainda conduzir o juramento de todos os 56 promovidos.

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*Imagens: Greg Szalontai

A outorga sem dúvida é motivo de orgulho da própria história, mas ao ser questionado sobre qual a sensação de ter atingido o grau, Kanayama preferiu fazer uma reverência: “preciso agradecer as pessoas que me ensinaram e as pessoas que me acompanham”.

Um pouco receoso de destacar um nome, não teve como não citar o de seu mestre, Hikari Kurachi. “Eu sempre lembro do meu sensei, né? Ele que me ensinou. Para mim é uma pessoa muito importante”.

Ao falar dos acontecimentos em torno da graduação, desde que a notícia chegou até a cerimônia, voltou a dividir méritos. Desta vez com colegas elevados ao nono dan na mesma ocasião, especialmente Miguel Suganuma, a quem se referiu como “professor” (assista abaixo).

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Atletas, alunos, arbitragem e graduação

De seus setenta anos dedicados ao judô, cinquenta foram transmitindo conhecimentos a dezenas, centenas, talvez milhares de pessoas.

Formou tanto atletas medalhistas olímpicos, como Walter Carmona e Felipe Kidatai, quanto vencedores anônimos. “Tenho alunos que hoje são kodanshas e outros vários faixas pretas”, elenca Dante Kanayama, pai de três filhos. Todos faixas pretas”.

Também aprendeu muito neste tempo todo (veja abaixo).

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Na arbitragem, um ponto alto de sua trajetória. Foram vinte anos responsável pelo assunto na federação de São Paulo, estado com o maior número de praticantes no Brasil. “Sinto muito orgulho do trabalho que eu fiz”, diz. “Ajudei a formar, do zero, árbitros que hoje têm níveis nacional e internacional”. O próprio Sensei é árbitro internacional grau A, o mais alto do judô mundial.

Kanayama também tem serviços prestados para a comissão de graduação da Federação Paulista de Judô, onde atua hoje. “No ano passado nós tivemos 340 candidatos fazendo exame (para faixa preta) e eu sou o coordenador desse exame. Escalo os árbitros e os preparo todos para a função de examinador”.

Como se fosse pouco, ainda hoje treina katas. “Toda sexta-feira. Temos um grupo na Vila Sônia onde a gente pratica os mais elevados”.

Semeadura diária de Dante Kanayama

A dedicação de passar seu conhecimento adiante, agora ao lado de dois dos seus filhos, já completa quase meio século. Fundou a Academia Kanayama em 1966 em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, onde está até hoje. Em 2014 abriram uma filial na Vila Mariana.

“Eu acredito que é através do ensinamento da base que se consegue chegar em cima. O ensino do judô não é apenas para fazer campeões. Você vai fazer, mas não assim mirando, querendo fazer rapidamente”, diz. “Quando um aluno vem se matricular, eu digo o seguinte olha (…)” – veja abaixo

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A atenção aos valores do judô desde a base faz com que eles frutifiquem e permaneçam mesmo quando o praticante atinge os níveis mais altos de competitividade. Sobre deixar de lado tais ensinamentos, Dante Kanayama é taxativo: “é um desleixo.”

“Eu participei de alguns campeonatos mundiais de judô e conversava muito com meus colegas árbitros. É impressionante como no mundo todo existe um respeito muito grande pelo Sensei Jigoro Kano, pelo judô e por tudo aquilo que o judô ensina. Isso eu vi no mundo todo. Vou te contar uma passagem.” (veja abaixo)

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Família e trajetória ao nono dan

Casado, com três filhos e três netos, orgulha-se do envolvimento de todos com o judô. Sobre a esposa, a senhora Maria Inês Kanayama, ou Dona Inês, destacou que ela nunca tinha tido contato com a arte até começarem a conviver. Porém, “ela logo percebeu como o judô é importante para todo mundo e, tenho certeza, se não fosse ela não teria chegado aos graus que me encontro tanto na arbitragem quanto como professor. Eu devo muito a força que ela me deu”.

Sobre os filhos, mais orgulho.

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Assim como a esposa, o Sensei Dante nunca tinha visto judô na vida até que começou a praticar ainda na infância. “Me falaram: ‘hoje você vai na aula de judô’. Me deram um quimono feito em casa, acho que uma herança de algum primo meu. Entrei lá na academia, sem saber o que estava fazendo”, relembra. “Comecei na Liberdade, academia Budokan, e depois quando a minha família mudou para Santo Amaro comecei com o Sensei Kurachi.”

Quando o Sensei Kurachi faleceu, passou a dar aulas em seu lugar e nunca mais parou. Depois de algum tempo, já casado, começou a procurar um local para a academia e achou os fundos de uma casa. Junto com alunos construiu um barraco de madeira e lá permaneceu por 25 anos. “Depois mudei para um outro local e depois onde a academia está localizada agora”.

E daqui para frente? Com mais um certificado na parede, também refletido na cor vermelha da faixa que passa a usar, o Sensei Dante Kanayama segue enxergando espaço para crescimento. Seja como Professor, se renovando para continuar ensinando os adultos e crianças, e seja como judoca. “Eu fui para o Japão há uns três ou quatro anos atrás, e lá eu conheci (…)”

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Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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