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Pequim 2022

Curling da Itália mostra que conto de fadas no esporte é real

Stefania Constantini e Amos Mosaner surpreendem o mundo com o ouro nas Duplas Mistas e querem impulsionar o Curling da Itália

"Patinho feio", Itália virou o cisne no Curling durante Pequim 2022 (Justin Setterfield/Getty Images)

(Pequim) É uma história que inspirou – e ainda inspira – diversos contos de fada, mas que aconteceu na primeira semana dos Jogos Olímpicos de Pequim 2022. O Curling da Itália, ignorado por torcedores e especialistas, obteve o seu final feliz com a conquista da medalha de ouro na disputa de Duplas Mistas.

A trajetória de Stefania Constantini, 22 anos, e Amos Mosaner, 26, já os coloca como um dos grandes momentos desta edição olímpica. Não apenas pela medalha de ouro, mas principalmente pela forma como a conquistaram: 11 jogos e 11 vitórias, uma conquista invicta que só o Canadá já tinha alcançado em Jogos anteriores.

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“De fato não esperávamos chegar até aqui. Imaginávamos ter chances de atingir os playoffs e, assim, brigar por uma medalha. Mas tivemos uma boa semana e conseguimos jogar o nosso melhor”, comentou Mosaner, o mais experiente.

Hoje ele é profissional do Curling da Itália, mas há cinco anos ainda conciliava o esporte com a antiga profissão de agricultor. Stefania ainda não atingiu esse status: trabalha em uma loja de roupas e acessórios esportivos em Cortina D’Ampezzo, onde mora. Aliás, cidade que vai ser uma das sedes dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno.

O esporte é a chance que ambos têm de mudarem suas vidas. Mais experiente, Mosaner obteve resultados consideráveis. Ele, por exemplo, foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2010 e era o skip em 2015 que recolocou a Itália no Mundial masculino de Curling depois de cinco anos.

Mais do que medalha, eles querem desenvolver o esporte no país

Contudo, o sucesso da dupla em Pequim 2022 pode abrir portas maiores para os dois atletas. Eles querem que a medalha de ouro sirva como um catalisador para o Curling da Itália alcançar um novo status internacional. Atualmente, estimativas indicam que o país tem apenas 500 praticantes do esporte.

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“Nós esperamos isso. Vimos que os torcedores começaram a acompanhar e a seguir a gente. Estão demonstrando interesse no esporte. O curling não é tão conhecido na Itália, então é uma forma de ajudar muita gente”, declarou Stefania com exclusividade ao Olimpíada Todo Dia.

Houve uma espécie de “curlingmania” na Itália com o sucesso da Dupla Mista nos Jogos Olímpicos. Em bate-papo informal com jornalistas italianos por aqui, eles confirmaram que o esporte nunca teve tanta visibilidade quanto agora. A expectativa é formar uma geração de fãs já pensando para a edição olímpica de Milão e Cortina em 2026.

Quais foram os segredos do Curling da Itália?

Essa foi a pergunta que todos começaram a fazer lá por volta do terceiro dia dos Jogos Olímpicos de Pequim. A dupla italiana, que sempre ocupava posições intermediárias, estava invicta e vencendo jogos grandes, se credenciando à disputa de medalha. Dessa forma, como eles se tornaram tão bons de uma hora para outra?

O fato é que não há explicações mirabolantes para o sucesso do Curling da Itália em Pequim. O desempenho acima da média passa pelos treinadores. Aliás, uma dupla de técnicos, uma vez que o país europeu sequer possui uma comissão dedicada às duplas. Violeta Caldart, treinadora de Stefania, e Claudio Pescia, de Amos Mosaner, juntaram forças para a competição.

Violeta era a técnica principal, mas cada um trabalhava individualmente com seus comandados. A ideia era potencializar as habilidades que cada atleta possuía em prol da equipe. Assim, enquanto ela tinha um draw quase perfeito (90% de acurácia) para colocar a pedra onde quisesse, ele limpava a casa com 81% de eficiência nos take-outs ou a protegia com 86% na guarda.

O que se viu, portanto, foi uma simbiose perfeita de um time que conseguia atacar e se defender com a mesma qualidade.

Dupla surgiu quase que ao acaso

Outro ponto positivo dos treinadores foi justamente a formação da dupla. Stefania Constantini é a skip do time feminino da Itália, que não se classificou para Pequim. Amos Mosaner é o terceiro do time de Joel Retornaz, que vai competir nos Jogos Olímpicos. Ambos aceitaram formar uma dupla para representar o Curling da Itália após muita insistência de seus técnicos.

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Stefania Constantini e Amos Mosaner foram campeões invictos nas Duplas Mistas (Twitter/@worldcurling)

Mosaner, por exemplo, queria manter a dupla com sua namorada, Alice Corbelli, após conquistarem o Campeonato Italiano de Duplas Mistas em 2019 e 2020. Entretanto, Violeta e Claudio argumentaram que, ao lado de Constantini, ele poderia chegar a disputar a medalha de bronze. Como se vê, a previsão foi além do esperado! 

Sucesso italiano serve de inspiração para o Brasil

A disputa das Duplas Mistas do Curling nos Jogos Olímpicos de Pequim 2022 mostra que no esporte tudo é possível. Não importa o favoritismo, a tradição e a importância de uma modalidade. Quando se tem trabalho e dedicação, os resultados irão aparecer mais cedo ou mais tarde. Assim, o ouro obtido pelo curling da Itália serve como exemplo e referência para o Brasil.

É claro que estamos em um outro momento do esporte. Os italianos, ainda que coadjuvantes, participam dos Mundiais com certa regularidade. Mas mostraram que, no fim, o sonho é apenas o primeiro passo de uma caminhada de sucesso.

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