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Leve feminino (57 kg)

Rafaela Silva vai em busca da sua segunda medalha olímpica nos Jogos Olímpicos Paris-2024
(Foto: Wander Roberto/COB)

Chances do Brasil

O Brasil irá contar com ninguém menos que Rafaela Silva no peso leve feminino (-57kg) do judô nos Jogos Olímpicos Paris-2024. Bicampeã mundial e campeã olímpica na Rio-2016, Rafa vai em busca de sua segunda medalha em Olimpíadas. Ela chega na capital francesa em alta, com o título pan-americano e duas medalhas em Grand Slam neste ano. Rafa ainda será a cabeça de chave número 3 da categoria em Paris.

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Após conquistar a medalha de ouro na Rio-2016, Rafaela Silva era uma das principais esperanças de pódio do Brasil no judô em Tóquio. Mas um caso de doping tirou a judoca da última Olimpíada. Mas Rafa voltou em grande estilo ao cenário internacional em 2022, com direito a um segundo título mundial. Já no ano passado, ela recuperou o ouro dos Jogos Pan-Americanos que havia perdido por conta do doping, sendo campeã em Santiago-2023.

Em 2024, Rafaela Silva conquistou uma prata e um bronze em torneios Grand Slam, o nível mais alto do circuito mundial. Já no Campeonato Pan-Americano, disputado no Rio de Janeiro, a carioca derrotou Christa Deguchi, do Canadá, que é a atual líder do ranking mundial. Agora a atleta chega a Paris com boas chances de conquistar a segunda medalha olímpica da sua carreira no peso leve feminino do judô.

As favoritas

Na categoria até 57kg, o país que se destaca é o Canadá, que tem as duas melhores atletas no ranking mundial. Mas como cada país pode enviar apenas uma judoca aos Jogos Olímpicos, Jessica Klimkait, que foi bronze em Tóquio-2020, não vai a Paris. A representante canadense será Christa Deguchi, campeã mundial em 2019 e 2023 e medalhista de prata no Mundial deste ano.

Christa Deguchi nos Jogos Olímpicos Paris-2024
Christa Deguchi será uma das principais adversárias de Rafa Silva em Paris (Foto: Juan Gabriel/IJF)

Além de Deguchi, outras duas judocas foram campeãs mundiais neste ciclo olímpico e estarão em Paris. Rafaela Silva, pelo Brasil, e Huh Mimi, da Coreia do Sul, que derrotou Deguchi no Mundial de 2024 para chegar na Olimpíada como a atual campeã do mundo no peso leve feminino.

As últimas finalistas olímpicas estarão também na disputa em Paris. Apesar de não terem bons resultados nos últimos três mundiais, não dá para descartar a francesa Sarah Cysique e a kosovar Nora Gjakova, que irá defender o título olímpico.

Outros nomes fortes incluem a japonesa Funakubo Haruka, dona de duas pratas em Mundiais, e a mongol Lkhagvatogoogiin Enkhriilen, que levou o bronze nos Mundiais de 2022 e 2023 e é atual campeã asiática.

Brasil na categoria leve feminino do judô

O peso leve é a categoria mais vencedora do judô feminino do Brasil, além de ter sido o responsável por dar ao país a primeira medalha olímpica para as mulheres na Olimpíada de Pequim-2008. Além disso, as brasileiras estiveram presentes em todas as edições olímpicas da categoria. Feito que será interrompido em Tóquio.

Nossa primeira representante foi Jemina Alves, em Barcelona-1992. A judoca, nascida no Recife, perdeu logo em sua primeira luta contra a cubana Driulis González, assim como também perdeu para a polonesa Maria Gontowicz-Szalas na primeira luta da repescagem. Em Atlanta-1996, foi a vez de Danielle Zangrando, nossa primeira judoca a conquistar uma medalha em mundiais femininos, representar o Brasil. Dani também foi derrotada em sua primeira luta pela húngara Maria Pekli.

Tânia Ferreira disputou os Jogos Olímpicos de Sidney-2000, terminando na nona colocação. Ela começou os Jogos vencendo a canadense Michelle Buckingham, mas caiu logo em seguida para Shen Jun, da China. Na repescagem, a paulista de Santos caiu para a italiana Cinzia Cavazzuti. Na edição seguinte o Brasil voltou a ser representado novamente por Danielle Zangrando. Danielle avançou até as quartas de final, mas acabou sendo derrotada pela holandesa Deborah Gravenstijn, que viria a conquistar o bronze. Na repescagem novamente aparecia a italiana Cinzia Cavazzuti no caminho de uma brasileira e novamente a italiana levou a melhor.

Medalha histórica

Ketleyn Quadros beija a medalha dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008
(Foto: divulgação)

A edição de Pequim-2008 foi histórica para o Brasil e o judô feminino. Veio através de Ketleyn Quadros, a primeira medalha das mulheres no judô, no dia 11 de agosto no Ginásio da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pequim. Ketleyn até meses antes do início dos Jogos Olímpicos era a reserva do peso leve, mas uma lesão em Danielle Zangrando acabou por deixar a titular de fora da Olimpíada, dando chances a uma jovem brasiliense de 21 anos de idade. 

A conquista do histórico bronze teve início contra a sul-coreana Kang Sin-Young. Em seguida, a brasileira enfrentou Deborah Gravenstijn, da Holanda, a mesma judoca que havia derrotado Danielle Zangrando quatro anos antes. Assim como Danielle, Kelteyn também acabou derrotada pela holandesa. De volta aos tatames na repescagem, Ketleyn enfrentou a espanhola Isabel Fernández, atual campeã olímpica, e conquistou aquela que já seria a vitória mais expressiva de uma brasileira no judô feminino em todas as edições. 

Mas a caminhada de Ketleyn, e seus feitos, estavam apenas começando. Na fase seguinte, Ketleyn foi além e derrotou a japonesa Aiko Sato, se tornando uma das poucas judocas do Brasil, entre homens e mulheres, a vencerem um japonês no torneio olímpico. A vitória que credenciou a brasileira a disputar a luta do bronze veio com um ippon.

Na grande disputa pela medalha de bronze, Ketleyn Quadros enfrentou a australiana Maria Pekli. Pekli havia sido medalhista de bronze representando a Hungria em Sidney-2000, na mesma edição em que derrotou Danielle Zangrando. Ketleyn acabou vencendo a luta com mais um ippon, para a alegria de uma saltitante Rosicléia Campos, sua treinadora, e de milhões de brasileiros.

A superação heroica de Rafa Silva

Rafaela Silva possui uma das maiores histórias de superação e volta por cima do esporte brasileiro. A judoca que representou o Brasil nas duas últimas edições olímpicas teve uma infância com várias dificuldades na Cidade de Deus. Negra, pobre e moradora de uma das maiores favelas do mundo, Rafaela encontrou no judô o caminho para se livrar do mundo do crime. Matriculada no Instituto Reação, projeto social do medalhista olímpico Flávio Canto, a judoca se destacou desde o início de sua carreira e conquistou a medalha de prata no mundial de 2011, ano anterior aos Jogos Olímpicos de Londres, com apenas 19 anos. Dessa forma, Rafaela Silva chegou à capital britânica como uma das judocas mais cotadas para subir ao pódio. Sua primeira luta foi tranquila, derrotando a alemã Miryam Roper, entretanto, tudo desabou na luta seguinte.

Rafaela Silva conquista a medalha de ouro na categoria 57Kg na Rio-2016 (Alaor Filho/Exemplus/COB)

A adversária era a húngara Hedvig Karakas e o combate seguia tranquilo e com amplo domínio da brasileira. Rafaela conseguiu aplicar um golpe que ela achava que tinha lhe garantido sua segunda vitória, mas a arbitragem de vídeo chamou o árbitro central, e assim decidiram desclassificar a brasileira. O motivo era que Rafaela havia aplicado um golpe catando as pernas da adversária, algo que tinha passado a ser proibido naquele ciclo olímpico. 

Do céu ao inferno, Rafaela saiu chorando muito do tatame e foi tentar encontrar consolo em suas redes sociais, conversando com amigos e familiares. Mas ao invés de encontrar carinho por parte dos brasileiros, acabou encontrando uma enxurrada de comentários agressivos, ofensivos e racistas. Isso acabou derrubando ainda mais Rafaela Silva, que pensou em se aposentar.

A dona da casa

Mas para uma mulher que veio de uma das maiores favelas do mundo, o recomeço é a principal opção. Rafaela se manteve no judô, foi consistente durante todo o ciclo, chegando até a conquistar a medalha de ouro no mundial de 2013, disputado no mesmo Rio de Janeiro que sediou a Olimpíada de 2016. 

No quintal de casa, Rafaela Silva passou em sua primeira luta novamente pela alemã Miryam Roper. Em seguida Rafaela derrotou a sul-coreana Kin Jan-di, por um wazari, e a mesma Hedvig Karakas, da Hungria, que quatro anos antes havia marcado a vida de Rafa com uma eliminação precoce. O caminho percorrido por Rafaela em 2016 foi muito similar ao que ela percorreu e iria seguir percorrendo em Londres, caso não tivesse sido eliminada. Após enfrentar Miryam Roper e Karakas, nas semifinais do Rio de Janeiro, Rafaela se encontrou com Corina Caprioriu, da Romênia, que também seria sua adversária nas semifinais de Londres, caso tivesse avançado. A luta, que ficou na promessa em Londres, foi vencida por Rafaela no Rio de Janeiro com um wazari.

Na disputa pelo ouro, Rafaela Silva encarou a líder do ranking mundial, a mongol Sumyaa Dorjsürengiin. Em uma Arena Carioca lotada, aos gritos de ‘Rafaela’, a brasileira, que quatro anos antes saiu do tatame chorando de tristeza e prometendo abandonar o judô, voltou a sair chorando do tatame. Mas agora as lágrimas eram de alegria ao conquistar a primeira medalha de ouro para o Brasil naquela edição dos Jogos Olímpicos, ao bater Sumya com mais um wazari. As lágrimas de Rafaela eram um misto de alegria, superação, desabafo e uma resposta direta a todos aqueles que quatro anos antes humilharam a judoca após ser eliminada em Londres.

Histórico -57 kg feminino nos Jogos Olímpicos

Presente no programa olímpico desde a primeira vez em que o judô feminino foi disputado em Barcelona-1992, o peso leve teve ao longo de suas sete edições, sete campeãs diferentes. Assim, a categoria leve e a categoria pesado são as únicas do judô feminino em que não se encontram bicampeãs olímpicas. Categoria mais vencedora do judô feminino brasileiro com um ouro e um bronze, o peso leve atualmente conta com o limite de 57 kg, mas nas duas primeiras edições disputadas esse limite era de 56 kg.

Assim como na categoria meio-leve, a primeira campeã olímpica no peso leve também é espanhola. Disputando os Jogos Olímpicos de Barcelona-1992, a dona da casa Mirian Blasco Sola derrotou na final Nicola Fairbrother, da Grã-Bretanha, conquistando o primeiro ouro olímpico da categoria. Os primeiros bronzes ficaram com Driulis González, de Cuba, e com Chyiori Tateno, do Japão.

Ouro latino

Quatro anos após ser medalhista de bronze, a cubana Driulis González se tornou a primeira campeã latino-americana do peso leve em Atlanta-1996. A prata ficou com a sul-coreana Jung Sun-yong e os bronzes com a belga Marisabel Lomba e com a espanhola Isabel Fernández. Em Sidney-2000, algumas posições no pódio se inverteram. A espanhola saiu da medalha de bronze e conquistou a medalha de ouro, batendo na final a cubana Driulis González, que havia sido medalhista de ouro quatro anos antes. Com o ouro de Isabel, a Espanha conquistava a sua segunda medalha de ouro na categoria leve, enquanto a cubana Driulis González chegava ao seu terceiro pódio na mesma categoria.

Yvonne Bonisch, da Alemanha, conquistou a medalha de ouro em Atenas-2004, dando para o país europeu sua primeira medalha olímpica no peso leve. Kye Sun-hui ficou com a prata para a Coreia do Norte, enquanto Cuba e Holanda completaram o pódio com os bronzes. A tradicional Itália conquistou sua primeira medalha no peso leve em Pequim-2008, com o ouro de Giulia Quintavalle. Na final, a italiana derrotou Deborah Gravenstijn, da Holanda, que já havia sido medalhista de bronze quatro anos antes. Também foi em Pequim-2008, e nessa categoria, que o Brasil finalmente conquistou uma medalha olímpica no judô feminino. Após passar em branco nas quatro primeiras edições, o esporte que mais deu medalhas ao Brasil foi ao pódio no feminino com o bronze de Ketleyn Quadros.

Kaori Matsumoto foi campeã olímpica em Pequim-2008, conquistando finalmente a primeira medalha de ouro do Japão no peso leve feminino. A prata ficou com Corina Caprioriu da Romênia e os bronzes com Marti Malloy, dos Estados Unidos, e com Automne Pavia, da França.

Vitória em casa

Rafaela Silva se tornou a segunda brasileira a conquistar a medalha de ouro para o Brasil no judô e a primeira a conseguir tal feito na categoria leve. Após um ciclo bastante consistente a carioca, que foi campeã mundial em 2013, fez a alegria da Arena Carioca 2 nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Na final, a brasileira derrotou a mongol Sumiyaa Dorjsürengiin, líder do ranking mundial, por um wazari. Os bronzes ficaram com Kaori Matsumoto, campeã quatro anos antes, e com a portuguesa Telma Monteiro, conquistando a primeira medalha do judô feminino para o seu país.

Medalhistas – judô -57 kg feminino – Jogos Olímpicos

JogosOuroPrataBronze
Barcelona-1992Míriam Blasco (ESP)Nicola Fairbrother (GBR)Chiyori Tateno (JAP)
Driulis González (CUB)
Atlanta-1996Driulis González (CUB)Jeong Seon-Yong (COR)Isabel Fernández (ESP)
Marisabel Lomba (BEL)
Sydney-2000Isabel Fernández (ESP)Driulis González (CUB)Kie Kusakabe (JAP)
Mária Pekli (AUS)
Atenas-2004Yvonne Bönisch (ALE)Kye Sun-Hui (PRK)Deborah Gravenstijn (HOL)
Yurisleidys Lupetey (CUB)
Pequim-2008Giulia Quintavalle (ITA)Deborah Gravenstijn (HOL)Ketleyn Quadros (BRA)
Xu Yan (CHI)
Londres-2012Kaori Matsumoto (JAP)Corina Căprioriu (ROM)Marti Malloy (EUA)
Automne Pavia (FRA)
Rio-2016Rafaela Silva (BRA)Dorjsurengiin Sumiya (MGL)Telma Monteiro (POR)
Kaori Matsumoto (JAP)
Tóquio-2020Nora Gjakova (KOS)Sarah-Léonie Cysique (FRA)Yoshida Tsukasa (JAP)
Jessica Klimkait (CAN)

Quadro de medalhas – judô -57 kg feminino – Jogos Olímpicos

PaísOuroPrataBronzeTotal
Espanha2013
Cuba1124
Japão1045
Brasil1012
Alemanha1001
Itália1001
Kosovo1001
Holanda0112
França0112
Coreia do Norte0101
Grã-Bretanha0101
Mongólia0101
Coreia do Sul0101
Romênia0101
Austrália0011
Bélgica0011
Canadá0011
China0011
Portugal0011
Estados Unidos0011