PARIS – Rayane Soares competiu duas provas nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024 e, em ambas, correu abaixo do recorde mundial. Na primeira, os 100 m T13, ela não ficou com a marca porque Lamiya Valiyeva, do Azerbaijão, foi dois centésimos mais rápida e ganhou o ouro, deixando a brasileira com a prata. Mas nos 400 m rasos T13, não teve para ninguém. A atleta de 27 anos, nascida em Brasília, correu como nunca. Ela venceu o medo que tem da prova para baixar o recorde mundial em quase um segundo e finalmente subir no lugar mais alto do pódio.
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“Eu tenho muita ansiedade, fico com muito medo dos 400 metros e eu pedi a Deus coragem porque treinada eu estava. Eu não gosto de correr na raia oito e descobri ontem de noite, quando eu fui dormir, que eu estava na raia oito. Fiquei muito ansiosa e muito nervosa. Foi difícil dormir, meu coração batia muito forte e minha cabeça batia junto com o coração. O resultado, em si, não me surpreende, mas fazer ele aqui, nos Jogos Paralímpicos, isso sim me surpreende por toda a ansiedade e por todo o medo que a gente sente antes de uma competição como essa”, revelou Rayane Soares.
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Para se ter uma ideia do tamanho do feito de Rayane Soares, ela baixou um recorde mundial que já durava 29 anos. A marca pertencia à americana Marla Runyan, uma atleta histórica dona de cinco ouros e uma prata em Paralimpíadas, mas que também teve a oportunidade de defender os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Sydney-2000.
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Tempo do recorde estava sendo feito nos treinos
Antes de pulverizar o recorde mundial, Rayane Soares tinha como melhor marca na carreira 55s90. No último Mundial, disputado em maio, ela foi bronze nos 400 m rasos T13 com 56s78. Apesar da tremenda evolução, a atleta brasiliense sabia que era capaz porque o tempo próximo do recorde mundial estava sendo feito nos treinos.
“Eu já tava treinando isso, eu já tava vindo de um bom treinamento. Nos meus tiros de 400 m já saía 53s, 54 s”, relevou Rayane Soares. O que faltava mesmo era espantar o medo na hora da competição. O empurrãozinho que faltava foi dado pelo técnico Amaury Veríssimo.
“O meu professor, que foi me deixar na câmera de chamada, falou que também, quando competia, ficava nervoso e passava a noite inteira acordado. Só que quando ele entrava na pista, ele dava um f…-se para todo mundo e corria. Hoje foi isso! Eu me aqueci com muito sono, com o corpo muito pesado, mas eu entrei na pista e falei que f…-se, é o meu momento. Eu me via no pódio, me via pegando a medalha de ouro”, contou Rayane Soares.
Ouro e prata nasceram da decepção de Tóquio
Com a vitória nos 400 m rasos T13, Rayane Soares termina os Jogos Paralímpicos de Paris-2024 com uma medalha de ouro e uma de prata. O resultado foi bem diferente do que ela teve em Tóquio-2020. No Japão, ela ficou em oitavo nos 100 m e nem classificou para a final dos 400 m, prova em que ela tinha sido campeã mundial em 2019.
“Eu acho que foi isso que me fez evoluir, que me fez crescer, que me fez dedicar porque eu acho que se eu tivesse pegado pelo menos um bronze em Tóquio, eu acho que nem aqui hoje eu estaria. Não teria me dedicado como eu me dediquei e não teria treinado do jeito que eu treinei. Eu teria continuado naquilo e talvez nem aqui hoje estaria para fazer minhas melhores marcas e bater o recorde mundial”, acredita.
Mas isso não quer dizer que agora, com uma medalha de ouro e uma de prata, ela vá se acomodar. “Vou chegar em Los Angeles sim porque tudo que me fez chegar até aqui foi justamente a dedicação que eu tive e o treinamento que fez chegar até aqui. E é isso, eu vou me dedicar mais, vou treinar mais porque foi isso que virou a chave. Foi isso que me fez estar aqui, estar no pódio, estar pegando minha medalha de ouro”, promete.