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Paris 2024

Escritora, palestrante e atleta: a história de Juliana Silva

Juliana Silva começou no tênis de mesa, migrou para o tiro com arco e, com 18 meses na nova modalidade, disputou a Paralimpíada

Juliana Silva em ação no tiro com arco dos Jogos Paralímpicos de Paris-2024; ela também é escritora e palestrante
(Foto: Patrícia Almeida/CPB)

Paris – Juliana Silva nunca teve uma ligação forte com esportes em sua juventude, mas isso mudou depois que sofreu um acidente automobilístico e ficou tetraplégica. A princípio como reabilitação e depois de forma competitiva, encontrou no esporte uma forma de recomeçar. Sua história é contada em seu livro de autobiografia, lançado no ano passado, e nas palestras de cunho motivacional que dá pelo Brasil. Ela iniciou no tênis de mesa e, no ano passado, migrou para o tiro com arco. Em apenas 18 meses praticando a nova modalidade, a “Ju Fênix” representou o Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024.

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“Como coach, eu fiz um quadro de realizações que eu faço a cada quatro anos e coloquei lá que eu ia para as Paralimpíadas de Paris, não importava a modalidade. E estou aqui. Imagina a minha emoção de tanta luta, tantas batalhas, treinos, totalmente amarrada em uma cadeira, presa para conseguir puxar o arco. No início, eu não conseguia nem levantar o arco, então foi um desafio bem grande para que eu pudesse levantar e puxar o arco. E hoje estar em uma Paralimpíadas é mais que um sonho, acho que ainda não caiu a ficha”, disse Juliana, que tem 39 anos de idade.

Engenheira elétrica aposentada, Juliana Silva sempre teve uma vida bem ativa. Durante uma viagem a trabalho para o Rio de Janeiro em junho de 2015, sofreu um acidente na Rodovia Presidente Dutra. O carro que ela dirigia caiu de uma ribanceira e atingiu uma rocha. Ao chegar no hospital, foi diagnosticada com tetraplegia. Ela precisou passar por cirurgias e teve muitas complicações, mas sobreviveu.

O começo no esporte

Juliana iniciou o processo de reabilitação e foi quando conheceu a paracanoagem através de um projeto de Fernando Fernandes, tricampeão mundial da modalidade. Antes dançarina e professora de tango, a paranaense de Goioerê pôde ter seu primeiro contato mais profundo com o esporte. Depois da canoagem, conheceu o tênis de mesa, modalidade que permaneceu por oito anos e teve muitas conquistas nacionais e internacionais. Foi somente no início do ano passado que ela conheceu o tiro com arco, através de um workshop que participou.

“Eu nunca pratiquei esporte na minha vida. Eu comecei como um propósito de reabilitação, mas nunca passou na minha cabeça em praticar como competitividade. Da canoagem, migrei para o tênis de mesa e comecei a competir. E percebi que eu era competitiva e que o esporte realmente era minha área. O esporte foi entrando cada vez mais na minha vida, competindo e viajando a nível Brasil. E eu falei que queria Paralimpíadas e também passei a ir para campeonato internacional. E no meio de tudo isso, fui apresentada para o tiro com arco”, lembrou.

Dedicação ao tiro com arco

A princípio, o tiro com arco entrou em sua vida mais como um desafio do que uma tentativa de competir em uma nova modalidade, uma vez que ela mal conseguia segurar o arco quando começou. “Eu pensei assim: se não for por esporte, vai ser como reabilitação. Eu comecei, fui adaptando e foi um processo de formiguinha bem rápido, tanto é que esse ano eu fui vice-campeã parapan-americana de tiro com arco individual e mista”, falou Juliana, se referindo à competição que aconteceu em abril, em São Paulo.

Por conta dos bons resultados nacionais e internacionais, a paranaense ganhou destaque no tiro com arco e, pouco a pouco, passou a se dedicar exclusivamente à modalidade. Hoje, ainda aparece na 17ª colocação do ranking mundial da classe 2 do tênis de mesa, mas é a 14ª colocada do ranking mundial da classe W1 do tiro com arco. Foi a nova modalidade quem a projetou e a fez conseguir uma vaga paralímpica. Em Paris-2024, ela parou nas oitavas de final na disputa individual e caiu nas quartas de final no duelo por equipes mistas, ao lado de Eugênio Franco.

Escritora e palestrante

Além de atleta, Juliana Silva também é escritora e palestrante. Para contar sua trajetória de vida, Juliana escreveu sua autobiografia no ano passado, intitulada “Fênix: A paratleta que renasceu por meio do esporte e da gratidão”. No livro, ela traz ensinamentos de sua trajetória de vida e relata como sua vida se transformou após o acidente. Ela também mostra por que é uma “fênix” desde antes mesmo de quase ter morrido no ocorrido.

Juliana Silva e Eugênio Franco em ação no tiro com arco da Paralimpíada de Paris-2024
(Foto: Silvio Ávila/CPB)

“Quando eu sofri o acidente, a primeira coisa que você procura são respostas para as coisas, principalmente na situação que você se encontra. Eu procurei respostas para as minhas perguntas em livros, filmes, documentários e eu não achava. Decidi pegar a minha vida e colocar tudo aquilo que eu queria como resposta quando eu estava no leito só mexendo a cabeça. O livro todo conta de como eu fui preparada até o meu acidente. Eu passei por bullying, depressão e anorexia e tudo isso me fez fortalecer para o meu acidente de carro”, falou.

No livro, assim como nas palestras de cunho motivacional que dá, ela também fala sobre como o esporte a ajudou a seguir a vida depois que ficou tetraplégica. “As portas foram se abrindo e parece que o esporte te abraça. Ele te deixa em casa, ele é uma família, é seu marido, seu irmão, é tudo. E o esporte te abraça de uma forma que te transforma em um ser humano grato de estar vivo”, expressou a atleta.

Foco em Los Angeles

Depois de disputar sua primeira Paralimpíada, Juliana Silva já promete um segundo livro, que contará sua trajetória no tiro com arco e no megaevento. Afinal, estar nos Jogos lhe rendeu muitos ensinamentos que ela quer levar para a vida e para a carreira. Ela foca em seguir ainda mais competitiva nos principais eventos internacionais do tiro com arco, que incluem a Paralimpíada de Los Angeles-2028.

Juliana Silva, do tiro com arco paralímpico, é escritora e palestrante
(Foto: Patrícia Almeida/CPB)

“Cada coisa que aconteceu aqui eu aprendi. A gente fica feliz, a gente chora, muitas emoções ao mesmo tempo. E a maior de todas, que é um grande aprendizado: a gente volta para o Brasil com uma lista enorme de tudo que a gente vai se preparar pra Los Angeles, com certeza a gente trazer medalha”, disse Ju. “Enquanto eu estiver puxando o arco, com certeza eu vou estar em todas as Paralimpíadas que tiver. É empolgante. Não importa quantas adaptações eu tenha no corpo, com certeza eu vou estar em todos os Mundiais, Parapans e por aí vai”.

Paulistano de 23 anos. Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estou no Olimpíada Todo Dia desde 2022. Cobri a Universíade de Chengdu, o Pan de Santiago-2023, a Olimpíada de Paris-2024 e a Paralimpíada de Paris-2024.

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