Saint-Quentin-En-Yvelins – Carlos Alberto Soares foi o primeiro atleta do ciclismo brasileiro a competir nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024, ao ficar em sétimo lugar na disputa da perseguição individual 3.000m C1 nesta quinta-feira (29). Depois de participar da pista, “Carlão” agora vira a chave para as disputas da estrada e sonha com uma medalha. Apesar disso, para ele só de estar presente no maior evento do paradesporto mundial pela segunda vez em sua carreira já é uma grande realização. Afinal, revelou ter sido uma “surpresa” sua convocação para a Paralimpíada.
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“Eu continuei o trabalho depois de Tóquio, fiz tudo o que eu pude fazer lá no evento. Trabalhamos esse ciclo todo, eu tive momentos glorificantes e momentos não tão glorificantes. Fiquei longe de casa por muitos meses, treinando em outro estado, e não fiquei no aniversário do meu pai nem da minha namorada. Nenhum sacrífico é em vão, então continuei o meu trabalho, e graças a isso e o que eu fiz no todo o ciclo até está em Paris, deu certo. A convocação saiu e eu fiquei um pouco surpreso, mas ao mesmo tempo pensei em continuar o meu trabalho”, falou o atleta de 29 anos.
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Carlão disputou a Paralimpíada pela primeira vez em Tóquio-2020, quando ficou em décimo lugar na perseguição individual da pista e foi o oitavo colocado no contrarrelógio da estrada. Neste ciclo, chegou a conquistar a medalha de bronze na prova de resistência do Mundial de paraciclismo de estrada de 2022, mas duvidou de sua convocação para Paris-2024 por conta de desempenhos abaixo na reta final do ciclo. Ele sofreu uma queda no Campeonato Mundial da modalidade de 2023 e teve outros incidentes nas etapas de Copa do Mundo de 2024.
Apoio da “segunda família”
O atleta teve muitos questionamentos, mas recebeu suporte de sua equipe técnica e, no fim, foi convocado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). “Eu falei: ‘será que eles vão acreditar em mim e me dar mais essa chance?’ Mas eu não tenho nem o que dizer do meu grupo do paraciclismo brasileiro, da comissão técnica, do mecânico, dos meus treinadores, porque pra mim eles são minha segunda família. Eles me abraçam de uma forma que eu não sei falar em palavras tudo que fazem por mim”, falou.
“Esses caras estão acompanhando desde o início e eles acreditam em mim. Só que até eu estava um pouco desacreditado. ‘Será que é uma fase? Será que o Carlão não vai mais?’ E eles me deram mais essa oportunidade. Eu estou aqui, vou dar o meu máximo e, independente do resultado, vou entregar tudo que eu tenho para poder deixar também essas pessoas que acreditam em mim, satisfeitas. É isso que me deixa surpreso, deles acreditarem de novo em mim. Não que eu não mereça, mas me surpreendeu, uma coisa interna minha mesmo, sabe?”, completou.
Próximas missões
Em Paris-2024, Carlos Alberto Soares competiu na prova da perseguição individual 3.000m da classe C1 e ficou em sétimo lugar na qualificatória, com 4min18s908, não conseguindo um lugar as finais. Seu foco maior passa a ser daqui em diante, nas provas de estrada, em que ele tem melhores resultados internacionais – incluindo medalhas em Mundial e Copa do Mundo – e pode lutar por um pódio. Ele disputará o contrarrelógio C1 em 4 de setembro e participará da prova de resistência C1-3 no dia 7.
“O contrarrelógio na estrada é uma prova que eu ando bem devido às condições que a estrada oferece, que é poder levantar da bicicleta, mais sempre trocar de marchas, habilidades com curvas e descidas. Então, eu tenho uma chance mais real de estar dentro de uma briga pela uma medalha. Também temos a prova que é mais em grupo, que é a prova de resistência. Eu sou da C1 e corro junto com a C2 e com a C3. Não há fator de correções, mas é uma prova que eu também consigo correr bem, eu me saio bem”, analisou Carlão.
Sonho por medalha
Natural de Anápolis, no interior de Goiás, Carlos tem paraparesia espástica, doença que atrapalha na locomoção. Sua perna esquerda é quase imobilizada. Ele conheceu o esporte paralímpico em 2016, quando tinha 21 anos. Sua base é o ciclismo estrada, mas hoje treina em Indaiatuba (SP), onde também dispõe da pista de concreto do Indaiatuba Cycle Team. Com um currículo de conquistas nas principais competições do mundo, lhe falta uma medalha nos Jogos Paralímpicos. E é esse o seu próximo objetivo, que pode ser alcançado em Paris-2024 ou depois.
“Eu fico feliz de poder estar contribuindo para o país. Eu sou um cara que vem de uma cidade bem do interior, não me imaginava nem estar dentro de uma seleção. A ficha vai caindo de degrau em degrau e graças a Deus, eu não ultrapassei nenhum deles. Eu fui campeão brasileiro, fui medalhista em uma Copa do Mundo e depois eu consegui uma medalha em um Campeonato Mundial. Ainda não tenho uma medalha em Jogos, mas eu acredito que ainda tenho muito para batalhar. O esporte paralímpico não tem idade. Ele tem limitações, mas não idade. Com 29 anos, eu acredito que Los Angeles está logo ali. A cabeça está em Paris, mas se for para pensar em uma medalha em Jogos, Los Angeles está logo ali”.