Paris – O Brasil é hegemônico no futebol de cegos em Paralimpíadas. Desde que a modalidade passou a integrar o programa dos Jogos, em Atenas-2004, o país nunca perdeu um jogo e foi medalhista de ouro em todas as edições. Em busca do hexa em Paris-2024, a seleção carrega consigo o favoritismo, mas também leva uma carga de pressão para manter o retrospecto positivo. O capitão da equipe, Ricardinho, quer deixar esse histórico de lado para buscar mais um título paralímpico na capital francesa.
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“A pressão é muito grande e é natural. Você pega um time que, de cinco edições que participou, ganhou cinco ouros, nunca perdeu um jogo, todo mundo que manda uma mensagem e nos encontra já fica dizendo que o Brasil já ganhou, que já é campeão e que não tem para ninguém. Só que nós sabemos da realidade, sabemos que tem grandes times do outro lado. Eles estão evoluindo e cada vez mais a competição está mais difícil”, falou Ricardinho entrevista ao Olimpíada Todo Dia.
“Então, nós deixamos essa pressão fora da quadra. Ali dentro, não tem essa de favorito. Todo mundo vai dar a vida para levar uma medalha de ouro embora. Nós já aprendemos com essas andanças da bola que todo favoritismo tem que ficar fora das quatro linhas, senão estraga tudo. Estamos bem conscientes quanto a isso, essa é a receita”, completou o craque, que busca seu quinto ouro paralímpico em Paris-2024.
Redução de tempo interfere no ciclo
A seleção brasileira de futebol de cegos já disputou 27 jogos em Paralimpíadas, tendo obtido 21 vitórias e seis empates. Ao todo, a equipe marcou 54 gols e sofreu apenas quatro – a defesa não foi vazada em três edições, incluindo em Tóquio-2020. Além dos cinco ouros paralímpicos, o Brasil foi ao pódio em todas as oito edições de Copa do Mundo de futebol de cegos já realizadas. Foram cinco ouros (1998, 2000, 2010, 2014 e 2018), um vice (2006) e dois bronzes (2002 e 2023).
Apesar de tudo isso, uma mudança de regra após Tóquio-2020 impactou o Brasil de forma direta. O tempo de jogo foi diminuído, passando de dois períodos de 20 minutos para duas etapas de 15 minutos. A redução de dez minutos prejudicou equipes técnicas, como é o caso do Brasil, e favoreceu seleções não favoritas, que têm menos tempo para “se segurar” na defesa. Na última Copa do Mundo, por exemplo, o Brasil perdeu para a China nos pênaltis na semifinal, após empate no tempo normal.
Período de treino
O Brasil também sofreu com os chineses na semifinal do Grand Prix do Japão, quando outra vez caiu nos pênaltis, em junho deste ano. Além disso, a seleção verde-amarela perdeu para a Argentina na Copa América de 2022, também nas penalidades máximas. Após esses reveses, a equipe comandada por Fábio Vasconcelos ligou o alerta e, buscando se adaptar às novas mudanças da modalidade, se reuniu em uma fase de treinamento que durou sete meses em João Pessoa, na Paraíba, com foco em Paris-2024.
“A gente percebeu que precisava de algo mais, porque os caras estão mexendo na regra e isso está favorecendo times que se preocupam só em fazer uma retranca. Logicamente, com esse tipo de treino apurado, o nosso treinador Fábio trouxe algumas coisas novas e alguns padrões de jogo que a gente vai botar em prática aqui. Temos algumas cartas na manga que estão sendo esperanças para nós para superarmos essas adversidades que surgiram nesse último ciclo”, falou Ricardinho, que tem 35 anos.
Primeiras impressões em Paris
Há oito seleções no torneio de futebol de cegos em Paris-2024, cujas partidas acontecerão no belo Estádio da Torre Eiffel, aos pés do monumento mais icônico do planeta. As equipes estão divididas em dois grupos de quatro, em que as duas melhores de cada chave avançam às semifinais. O Brasil está no grupo A, ao lado de China, França e Turquia. A outra chave conta com Argentina, Colômbia, Japão e Marrocos. A estreia brasileira será no domingo (1º), às 13h30 (horário de Brasília), contra a Turquia.
Depois do longo período de treinamento em solo brasileiro, a seleção brasileira de futebol de cegos desembarcou na França na última semana. Após alguns dias de aclimatação na cidade de Troyes, a 160km da capital francesa, a equipe chegou em Paris na segunda-feira (26). No dia seguinte, realizou o primeiro treino no local de competição e os jogadores já puderam ter as primeiras impressões sobre a arena e puderam sentir um gostinho do que virá nas partidas nos próximos dias.
“O nosso primeiro treino foi bom. A grama é boa. O jogo não fica tão rápido quanto nós gostaríamos, mas é um campo muito bom. É questão de se adaptar, ainda temos alguns treinos até a nossa estreia. O clima muito bom, digo até da temperatura. Tem feito alguns dias bem agradáveis, isso ajuda porque calor extremo ou frio extremo nunca é bom para o atleta”, disse Ricardinho, gaúcho de Osório.