Imagine você, aos 20 anos de idade, receber um telefonema a 40 dias dos Jogos Paralímpicos e, do outro lado da linha, sua treinadora lhe dizer: “Se prepare, você foi convocada e vai defender a seleção brasileira em Paris”. A história surreal é o início da jornada da judoca sul-mato-grossense Kelly Kethyllin na maior competição do planeta.
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Mais nova atleta da delegação da CBDV (Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais) na edição francesa da Paralimpíada, que terá início no próximo dia 28 de agosto, Kelly foi uma das duas judocas brasileiras chamadas pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC) para participar do evento via convite, na categoria até 70kg da classe J2 (baixa visão).
Apesar de a ficha ainda não ter caído totalmente desde o telefonema recebido da sensei Anne Talitha, uma das técnicas da seleção, Kelly não pretende ir a Paris apenas a passeio: “Eu quero uma medalha! Convidado ou não, o atleta que tem o privilégio de ir a uma Paralimpíada não pode ir pensando apenas em fazer bonito, tem de ir com o objetivo de trazer pelo menos um bronze, e é o que eu quero”, conta a atleta do Ismac-MS (Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florivaldo Vargas).
Promessa da base
Kelly Kethyllin ainda vinha integrando a seleção de base, pela qual foi medalhista de ouro no Parapan de Jovens 2023, em Bogotá, na Colômbia. A judoca, que teve má-formação no nervo óptico, ocupava a décima colocação do último ranking paralímpico divulgado pela IBSA (sigla em inglês para Federação Internacional de Esportes para Cegos). Ela lutará na mesma categoria da atual campeã paralímpica Alana Maldonado. “Não importa se tem amizade ou não fora do tatame, lá dentro somos todos atletas que queremos nosso lugar no pódio”, diz.
Competidora há menos de quatro anos, Kelly confessa que nem vinha pensando tanto no judô como de costume. Isto porque ela estava trabalhando em uma pizzaria para complementar a renda e ajudava a cuidar da avó. “A gente tem uma realidade diferente fora daqui. Aqui, a gente só se dedica ao esporte, é um privilégio muito grande. Mas, em casa, a realidade é outra. Muitos atletas têm uma rede de apoio para se dedicar apenas ao esporte. Entre o amor que eu tenho pelo esporte e o amor que tenho pela minha família, às vezes, a família vem em primeiro lugar”, explica.
Agora, porém, o apoio em casa é para que ela foque toda a energia nos Jogos Paralímpicos de Paris. “Não estava esperando por algo tão grande. A Paralimpíada é o marco na vida de qualquer atleta, é o sonho de qualquer um que deseja uma vida no esporte. E eu aqui, treinando com esses faixas preta, marrom, sendo eu uma mera faixa amarela!”, brinca a judoca de Campo Grande (MS).