Paris – Os Jogos Olímpicos de Paris-2024 desde sempre foram vendido como “a Olimpíada da Igualdade”, com 50% de vagas destinadas a mulheres e 50% para homens. Entretanto, para o Brasil, a história foi diferente. As mulheres desbalancearam muito as estatísticas brasileiras. Para o bem!
Foram 154 mulheres e 123 homens competindo em Paris, foi a primeira vez na história que tivemos mais brasileiras que brasileiros. Mas sobre os Jogos em si, os resultados das mulheres também foram melhores que de homens. Das 20 medalhas do Brasil, 12 foram conquistadas por mulheres (além da participação do bronze na equipe mista do judô). Isso representa 60% das conquistas do Brasil na Olimpíada, muito mais que qualquer campanha olímpica da delegação. O mais importante, os três ouros foram conquistados por elas, com Rebeca Andrade no solo da ginástica artística, Bia Souza acima de 78kg do judô e Duda e Ana Patrícia com o vôlei de praia.
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Rebeca Andrade: a maior de todas!
Que Rebeca Andrade é um fenômeno, todo mundo sabe. Em Paris, ela “apenas” confirmou esse fato. Entrou para a história do esporte brasileiro se tornando a maior atleta olímpica de todas, entre homens e mulheres. A ginasta conquistou 4 medalhas (primeira a fazer isso), 1 ouro, 2 pratas e 1 bronze. No total, Rebeca tem 6 medalhas, 2 ouros, 3 pratas e 1 bronze.
A cena que corou a ginasta foi das americanas Simone Biles e Jordan Chiles, reverenciando Rebeca Andrade no lugar mais alto do pódio. A foto rodou o mundo, de modo que chegou a ser compartilhada por personalidades como Michelle Obama e Viola Davis.
E para fechar o marco histórico de Rebeca, Robert Scheidt, velejador dono de 5 medalhas em Olimpíadas, passou o posto de maior atleta olímpico para a jovem de 24 anos e 1,55m. “Parabéns, você é a maior medalhista olímpica do nosso país”, disse o velejador ao colocar a medalha na ginasta e passar o posto adiante. Simbólico e histórico.
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Bia Souza: “Eu sou campeã olímpica!”
Mas quem abriu a contagem de ouros do Brasil em Paris foi outra mulher: Beatriz Souza, no dia 2 de agosto. A judoca chegou em Paris como forte candidata ao pódio, mas o que ela fez na Arena Champ de Mars foi dominar a competição do início ao fim. Bia atropelou as adversárias até chegar a semifinal, onde encontrou a francesa Romane Dicko, campeã mundial (inclusive contra a própria Bia) e medalhista olímpica. Mas lutando com a torcida contra, Bia Souza levou a luta para o golden score, derrubou a adversária, forçou uma imobilização e fez o ginásio se calar. Vitória incontestável e vaga na final.
Na decisão, luta tranquila contra israelense Raz Hershko, vitória com um waza-ari. E quem estava na beira do tatame era Sarah Menezes, dona do primeiro ouro feminino do judô. Com muita emoção após a luta, Sarah foi a primeira pessoa que Bia abraçou falando “eu sou campeã olímpica!”. O abraço de duas campeãs simboliza toda a campanha da modalidade em Paris. Com altos e baixos, o Brasil conquistou o ouro de Bia, uma prata com Willian Lima e um bronze com Larissa Pimenta, além de um bronze por equipes. Melhor campanha da história.
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10 anos depois: Duda e Ana Patrícia levam ouro na Olimpíada “adulta”
Após Tóquio-2020, com o fim das parcerias anteriores, muito se falou sobre uma possível junção de Duda Lisboa e Ana Patrícia Ramos. As duas venceram os Jogos Olímpicos da Juventude em Nanjing-2014. Para o novo ciclo, a parceria se concretizou e foi de muito sucesso. Conquistou título mundial, pan-americano, do Circuito Brasileiro e várias etapas do Circuito Mundial. Foram poucas as adversárias que ameaçaram a hegemonia das brasileiras.
Em Paris, porém, a dupla não chegou num bom momento, com poucos resultados bons na temporada. Mas as brasileiras se reconectaram, com Duda defendendo no fundo e Ana Patrícia atacando e bloqueando na rede. Chegaram a semifinal com vitórias de 2 a 0 e enfrentaram adversárias mais complicadas apenas nas decisões de medalha. De 16 sets disputados, perderam apenas 2, um aproveitamento de 87,5%.
Na final, com direito a encarada na rede, dominaram as canadenses Melissa/Brandie e venceram por 2 a 1. Duda e Ana Patrícia recuperaram o ouro olímpico feminino que não vinha desde 1996 de Jackie Silva e Sandra Pires, na estreia da modalidade. Além disso, a conquista foi a exatos 10 anos daquele ouro de Nanjing-2014, mostrando que o trabalho das brasileiras rendeu louros na primeira Olimpíada “adulta” disputada juntas.
Brilho individual de Rayssa, Bia, Tati e Larissa
Rayssa Leal, Beatriz Ferreira e Tatiana Weston-Webb chegaram a Olimpíada como fortes candidatas ao ouro. Favorecidas pelo palco (no caso de Tati), ou pelo ciclo que tiveram (o caso de Rayssa e Bia), confirmaram suas medalhas, mas com emoção. Rayssa sentiu a pressão da torcida pela primeira vez. Enquanto Bia Ferreira foi pressionada pela campanha ruim do boxe, encarou sua algoz de Tóquio-2020 Kellie Harrignton e acabou caindo na semi. Já Tati, com o mar de Teahupo’o a seu favor, conquistou a primeira final feminina no surfe e terminou com a prata, a 0.2 do ouro.
Mas uma surpresa interessante foi Larissa Pimenta com o bronze no judô até 52kg. A brasileira foi favorecida por chaveamento, chegou às quartas e caiu para a francesa Amandine Buchard. Passou pela repescagem e finalmente venceu a italiana Odette Giuffrida, a qual nunca tinha vencido antes. Pimentinha é uma grata surpresa no quadro de medalhas.
Jade, Marta e Thaisa: veteranas no pódio
Outros destaques femininos da Olimpíada são as equipes da ginástica artística, futebol e vôlei. As ginastas conquistaram pódio inédito, com direito a superar o sangue derramado pelo corte do supercílio de Flavinha. O quinteto brasileiro ficou tenso com o anuncio das notas, mas respirou aliviado quando viu o nome do país na terceira posição. Jade Barbosa, base e liderança do time, foi essencial para a conquista, tanto na nota de salto como no incentivo das companheiras e em sua terceira participação olímpica, ela finalmente levou a medalha para casa.
No futebol, a Rainha Marta deixou o protagonismo para jovens jogadoras, como Yaya e Gabi Portilho, que comandaram a campanha surpreendente no mata-mata, eliminando as donas da casa e as atuais campeãs do mundo. Ela, no entanto, se despede dos grandes eventos com mais uma prata, menos dolorida que em 2004 e 2008, mas com sabor de dever cumprido e legado consolidado.
Já no vôlei, a queda no tie-break contra os EUA poderia ter sido um ponto final num ciclo de renovação. Mas pelo contrário, contra a Turquia as brasileiras mostraram que a competição não tinha acabado, voaram e comandaram a quadra, deixando Karakurt novamente fora do pódio olímpico. A disputa marcou a despedida definitiva de Thaisa, que voltou à seleção em 2023. Agora, a bicampeã olímpica pode sair de cena e deixar centrais como Diana e Carolana comandarem a rede e Gabi liderar o time para um futuro nas quadras.