Paris – Isaquias Queiroz voltou ao pódio dos Jogos Olímpicos. Em Paris, foi a quinta vez, igualando feito que apenas mais três atletas brasileiros conseguiram na história. Além de muito treino, esforço e dedicação durante o ciclo, ele precisou descansar um ano, tirar o pé, senão talvez nem conseguisse chegar na raia do Estádio Náutico Vaires-sur-Marne para conquistar a prata. Nessa trajetória de cinco medalhas, teve também um amuleto, entregue justamente por um dos atletas que ele alcançou em Paris.
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“No início do ano, em 2023, fui pra casa, na Bahia, queria parar de remar. Não estava me sentindo bem, não estava feliz. Estava sem vontade”, contou nesta sexta-feira (9), logo após a final do C1 1000 da canoagem velocidade dos Jogos de Paris, prova em que chegou na segunda colocação.
Tempo com a família
Ele, então, procurou passar um pouco mais de tempo com a família. “O ano de 2023 foi especial pra mim, de poder estar com a minha família, passar por momentos que nunca tinha passado”, conta. Um desses momentos foi acompanhar o nascimento do segundo filho, Luigi, algo que não pode fazer na chegada do primeiro, Sebastian, que veio ao mundo quando o pai estava competindo na Hungria.
“Vinha nove anos brigando no pódio já. Estava muito sobrecarregado, tanto mentalmente como psicologicamente, muito estresse mental. Não conseguia raciocinar direito. Explodia por qualquer coisa. Falei para a doutora, ‘não sei o que está acontecendo, como é que estou, estou descontando no meu filho.’ Pedi uma ajuda. Comecei a conversar com ela, com o doutor Helio também, do comitê olímpico, tive que fazer tratamento, tomar remédio. Me ajudou bastante”, conta. “Depois fui pra seleção de novo, comecei a treinar e pensei, ‘vamos pra Paris ver o que a gente consegue’.
Treinos e amuleto
Conseguiu mais uma medalha olímpica, de prata, em uma final que precisou de força mental para não sucumbir. “Tava muito atrás, tentei sair rápido, mas o Martin Fuksa foi mais rápido ainda”, conta. Isaquias passou na metade da prova apenas na quinta colocação. Vi o Zakhar Petrov na frente, em segundo. Olhei pro lado e vi que o Brendel e o Tarnovschi. Falei, ‘cara, não tem como passar mais ninguém aqui, vou arriscar tudo’. Fui subindo, subindo, subindo, aí, quando chegou no cem metros finais, se eu passasse o Petrov, tava na medalha. Aí, quando passei senti que tava na frente também do Tarnovschi”, detalha.
“Como Jesus falava e que o Pinda falava também, ‘no final só solta a remada, não tem mais força, não tem mais braços, só soltar a remada e deixar o barco andar’. Acabei soltando bastante e consegui a medalha de prata, que pra mim é um grande feito”, diz, citando Jesus Morlán, seu ex-técnico, falecido em 2018, e Lauro de Souza Júnior, o Pinda, atual treinador. “Sou muito grato ao Lauro pela confiança, pelo trabalho que ele fez no último mês”.
Bússola
A prata em Paris levou Isaquias Queiroz a somar a mesma quantidade de medalhas de Robert Scheidt e Torben Grael. Cada um deles têm cinco. “Fico feliz de poder chegar quinta medalha, de poder ser o quarto atleta olímpico do Brasil com mais medalha possível. A Rebeca tira de cena, né? É fora da curva”, diz, enaltecendo a ginasta que tem seis. “Fico feliz de poder chegar junto ao Robert Scheidt, Torben Grael, que são baitas referências.”
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Ainda ao comentar sobre esse tema, o canoísta lembrou de um presente que ganhou de Torben. “A gente tinha participado de um amigo secreto e ele me presenteou com uma bússola de navegação de barco. Falou, ‘Isaquias, essa bússola é pra guiar o seu caminho para você ficar no seu foco.’ Essa bússola tá em casa, na prateleira, e com o tempo fui entendendo o que ela significava. Foi muito legal receber de um cara como ele. Todo mundo sabe quem é Torben Grael, Robert Scheidt, quem é a Martine, Kahena, pelos grandes resultados que eles têm. Na época eu tinha três medalhas olímpicas e hoje tô chegando à quinta. Não me igualando a ele, é uma lenda. Exemplo de atleta, de ser-humano”, disse.