PARIS – “Vou ficar com certeza, maluco beleza”. Foi assim que Augusto Akio respondeu à pergunta sobre o que ele tinha sentido ao ganhar a medalha de bronze do park masculino nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Japinha, como é conhecido pelos amigos, é um personagem diferente, “um ser de luz”, como definiu o companheiro e amigo Pedro Barros. Mas, mais do que isso, ele foge dos padrão de atleta. Suas respostas muitas vezes vão longe, se transformam em longas divagações. Mas o fato é que ele é autêntico, original e até certo ponto excêntrico. Além disso, sem dúvida nenhuma, tem um grande coração, que agora divide o peito dele com uma medalha olímpica.
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Malabares
Não precisa ir muito longe para perceber que Augusto Akio é diferente. Basta ver a apresentação dos skatistas antes da prova. É com malabares que ele dá o seu cartão de visitas. “Eu gosto de usar o malabares como uma maneira das pessoas poderem me identificar como algo que fica marcado”, explica. “Tem vezes que as pessoas me encontram na rua e me perguntam se eu sou o japinhas dos malabares que andam de skate”.
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Dentro da pista, ele, como os outros, busca a manobra mais difícil para tentar convencer os juízes a lhe dar a maior nota. Mas sua autenticidade salta aos olhos quando a pergunta é sobre a emoção da medalha e a primeira coisa que ele diz não é sobre ele.
“Pedro Barros merecia o pódio”
“Queria ter visto o Pedro (Barros) no pódio. Eu sei que ele é merecedor, ele é merecedor, tanto quanto eu. Ali foi uma questão mesmo de critérios, talvez de manobras técnicas”, tenta explicar. O fato é que Augusto Akio foi bronze com 91,65, apenas 0,20 a frente do companheiro.
Ao invés de valorizar a conquista que acabou de ter, Augusto Akio prefere ser grato. Ele sabe que não chegou sozinho até aqui. “A medalha significa que o Brasil faz, fez e está fazendo um bom trabalho, no sentido de que eu não cheguei aqui sozinho. Claro, tem muito esforço próprio, muita dedicação, abdicação de certas coisas também, como por exemplo, estar perto da minha família, estar ao lado das pessoas que eu amo, dos meus amigos, mas que também me derais muitas coisas boas, como estar vivendo o sonho de viajar ao mundo, fazer o que que eu amo, que é andar de skate, e, ainda mais, tendo reconhecimento por isso”, comemora.
Família
Os olhos, entretanto, enchem de lágrimas quando Augusto Akio fala da importância da família em sua caminhada. “Não estou sozinho nessa jornada. Eu comecei a andar de skate, lá no Natal de 2007, e minha mãe comprou o meu skate no supermercado. Eu pedi quando eu tinha sete anos de idade e ela conseguiu encontrar um skate para me dar”, lembra.
Mas a mãe, a médica pediatra Silvana Takahashi, não foi só a pessoa que presenteou Augusto Akio com o seu primeiro skate. Foi ela quem o encorajou a seguir em frente. “Ela estudou muito, trabalhou muito. Quantos plantões ela fez e, mesmo trabalhando em dois empregos, viajava comigo para as competições. Eu não sei como ela aguentava. Trabalhava a semana inteira e, quando chegava sexta-feira, me colocava no carro e encarava viagens de até 12 horas para me levar aos campeonatos. A parada teve muita determinação da minha família também de acreditar em mim e me dar incentivo”.
A força do pai
Nessa hora, Augusto Akio lembra do pai, Altamiro Alves dos Santos. “Ele nasceu numa família muito humilde, que na casa que cresceu, não tinha nem banheiro dentro. Era aqueles compartilhados, era comunidade, era só um buraco no chão”, conta. “Mas ele buscou uma vida melhor com estudo. Atuou como engenheiro e depois fez direito. E ele acreditou no meu amor pelo skate, porque quando eu comecei a andar, o skate não era um esporte olímpico. Tinha um certo preconceito. Era um esporte um pouco marginalizado. Mas ele ainda assim acreditou no meu amor pelo skate, acreditou que isso podia me fazer bem e me fez muito bem, ajudou muito a crescer como pessoa, como indivíduo, a entender melhor como o mundo é, como são as relações sociais, sobre a importância de dar valor àquilo que vale de verdade”, explica.
Dos pais dele, apenas a mãe, Silvana, esteve presente em Paris para ver o filho subir no pódio. Altamiro assistiu pela televisão, mas estava no coração do filho. “Eu carrego ele comigo aonde eu for, sabe? Ele me ensinou muito sobre a vida, sobre os meus valores e princípios”.
Valores e princípios que norteiam a vida do Japinha. Um atleta que foge do convencional, um medalhista diferente e especial que fez história nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.