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Paris 2024

Valdileia valoriza resultado histórico mesmo em momento difícil

Valdileia Martins superou morte do pai a quatro dias antes da Olimpíada para igualar recorde brasileiro e ir à final em Paris

Valdileia Martins no salto em altura dos Jogos Olímpicos de Paris-2024
(Foto: Wagner Carmo/CBAt)

Paris – Menos de uma semana após perder o pai, Valdileia Martins entrou na pista do Stade de France para fazer sua estreia olímpica em Paris-2024. Mais do que competir, ela igualou o recorde brasileiro do salto em altura e chegou na final da prova. Ela não conseguiu participar da disputa decisiva, neste domingo (04), por conta de uma lesão no tornozelo esquerdo, mas, mesmo com essas situações adversas, a atleta não tem outros sentimentos se não o da valorização do resultado histórico e da alegria de competir no maior palco do esporte pela primeira vez.

“O saldo é positivo. Eu igualei o recorde brasileiro e fui para a final olímpica. Era algo que eu queria e que eu treinei para isso. Se eu cheguei aqui não foi por acaso. Você precisa estar muito bem mentalmente para chegar na Olimpíada e conseguir fazer o seu melhor, sem ter feito o seu melhor. É realmente chegar e fazer o que você tem que fazer. É muito emocionante, muita gente gritando, então você precisa realmente estar 100% mentalmente concentrada no que você quer e fazer o resultado que você precisa”, disse ela.

Tratamento sem sucesso

Valdileia sofreu uma entorse no tornozelo esquerdo durante a disputa eliminatória de sua prova, realizada há dois dias, quando tentou anotar a marca de 1,95m, para bater de vez o recorde brasileiro. Naquela altura, ela já havia igualado a marca, com 1,92m, e assegurado seu lugar na decisão. Mesmo fazendo tratamento intensivo com gelo, bandagem, laser, aparelho, fisioterapia e medicamentos, ela não conseguiu se recuperar a tempo e ficou ausente da disputa por medalhas.

Lesão de Valdileia Martins nos Jogos Olímpicos de Paris-2024
(Foto: Wagner Carmo/CBAt)

Leia chegou a aquecer neste domingo, mas voltou a sentir dores intensas nas primeiras passadas. Ela foi apresentada aos 80 mil espectadores presentes no Stade de France, mas não entrou em ação. “Eu estou feliz porque eu cheguei e fiz o que todo atleta gostaria de fazer, que é o seu melhor. Eu fiz o meu melhor e fui para uma final olímpica. Todo mundo quer isso. Eu fiquei satisfeita com o meu desempenho. Queria saltar na final? Muito! Queria que meu nome estivesse lá, nem que fosse com 1,86m”, disse ela.

“Acredito em propósito e que tem um tempo determinado para todas as coisas. Hoje não era o dia de saltar. Eu vim para poder sentir a energia de uma final olímpica, que eu nunca fui. Eu vim para poder ver como era. Entrar, dar tchauzinho para a galera, me ver no telão. A energia de uma Olimpíada é única. Mundial e Pan-Americano não chegam perto. Olimpíada é mágico, só quem vive sabe como é”, expressou Val, que fez sua primeira aparição olímpica aos 34 anos de idade.

Val ganha carinho da torcida

Além do fato de ter passado para a final, Valdileia Martins também foi muito agraciada pelo público brasileiro depois que sua história foi contada por Demétrio Vecchioli, do Uol. A atleta se formou em um assentamento do Movimento dos Sem Terras (MST), em Querência do Norte (PR), onde foi criada. Seu pai, Israel Martins, foi o principal incentivador da improvisação de materiais para simular uma prova de salto em altura.

Valdileia Martins
(Foto: Wagner Carmo/CBAt)

Foi dessa forma que Valdileia começou para posteriormente tornar-se uma atleta de alto rendimento. Depois de muito tempo “estancada” em marcas, a brasileira teve um crescimento na carreira do ano passado para cá. Em 2023, conseguiu disputar um Campeonato Mundial pela primeira vez, e em 2024 participou dos Jogos Olímpicos. Não só participou, como fez a melhor marca da vida e ainda garantiu uma final, sendo uma as 13 melhores atletas de sua prova no mundo.

“Eu recebi inúmeras mensagens de todo o país. O pessoal ficou muito orgulho e satisfeito. O pessoal me vê como inspiração, como se você fosse capaz de romper qualquer barreira. Hoje eu me sinto incrível. Eu fico olhando os vídeos e falando: ‘cara, eu saltei’, ‘eu voei!’, ‘olha meu grito que top’. Eu acho que o pessoal está orgulhoso desse feito e de toda a história”, disse Val.

Lembranças do pai

O pai foi o maior aliado da carreira de Valdileia Martins, mas ele não pôde ver o ápice da carreira da filha. Ele faleceu aos 74 anos de idade, no início da última semana, cinco dias antes da estreia olímpica de Val. A atleta, que já estava em Paris, chegou a pensar em voltar para casa, mas ficou para a realização de um sonho. Ela acompanhou o velório do pai diante de uma chamada de vídeo pelo celular.

“Ontem [sábado] eu chorei à noite, porque toda conquista que eu tinha, eu saia da pista e ligava para o meu pai. Ele é a primeira pessoa que sabia da minha vitória e da minha derrota. E quando eu saí de Paris, eu não tive meu pai para poder falar. E ontem eu falei: ‘cara, eu não vou ter mais esse momento com ele’. Mas assim, eu aproveitei todos os momentos com ele e eu falo que vivi tudo com ele”, falou Valdileia Martins.

Paulistano de 22 anos. Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estou no Olimpíada Todo Dia desde 2022. Cobri os Jogos Mundiais Universitários de Chengdu e os Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023.

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