Paris – Menos de uma semana após perder o pai, Valdileia Martins entrou na pista do Stade de France para fazer sua estreia olímpica em Paris-2024. Ela fez uma grande competição e igualou o recorde brasileiro do salto em altura, chegando à final da prova. Ela não conseguiu participar da disputa decisiva, neste domingo (04), porque teve uma uma lesão no tornozelo esquerdo, mas, mesmo com essas situações adversas, a atleta não tem outros sentimentos se não o da valorização do resultado histórico e da alegria de competir no maior palco do esporte pela primeira vez.
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“O saldo é positivo. Eu igualei o recorde brasileiro e fui para a final olímpica. Era algo que eu queria e que eu treinei para isso. Se eu cheguei aqui não foi por acaso. Você precisa estar muito bem mentalmente para chegar na Olimpíada e conseguir fazer o seu melhor, sem ter feito o seu melhor. É realmente chegar e fazer o que você tem que fazer. É muito emocionante, muita gente gritando, então você precisa realmente estar 100% mentalmente concentrada no que você quer e fazer o resultado que você precisa”, disse ela.
Tratamento sem sucesso
Valdileia sofreu uma entorse no tornozelo esquerdo durante a disputa eliminatória de sua prova, realizada há dois dias, quando tentou anotar a marca de 1,95m, para bater de vez o recorde brasileiro. Naquela altura, ela já havia igualado a marca, com 1,92m, e assegurado seu lugar na decisão. Mesmo fazendo tratamento intensivo com gelo, bandagem, laser, aparelho, fisioterapia e medicamentos, ela não conseguiu se recuperar a tempo e ficou ausente da disputa por medalhas.
Léia chegou a aquecer neste domingo, mas voltou a sentir dores intensas nas primeiras passadas. Ela foi apresentada aos 80 mil espectadores presentes no Stade de France, mas não entrou em ação. “Eu estou feliz porque eu cheguei e fiz o que todo atleta gostaria de fazer, que é o seu melhor. Eu fiz o meu melhor e fui para uma final olímpica. Todo mundo quer isso. Eu fiquei satisfeita com o meu desempenho. Queria saltar na final? Muito! Queria que meu nome estivesse lá, nem que fosse com 1,86m”, disse ela.
“Acredito em propósito e que tem um tempo determinado para todas as coisas. Hoje não era o dia de saltar. Eu vim para poder sentir a energia de uma final olímpica, que eu nunca fui. Eu vim para poder ver como era. Entrar, dar tchauzinho para a galera, me ver no telão. A energia de uma Olimpíada é única. Mundial e Pan-Americano não chegam perto. Olimpíada é mágico, só quem vive sabe como é”, expressou Val, que fez sua primeira aparição olímpica aos 34 anos de idade.
Val ganha carinho da torcida
Além do fato de ter passado para a final, Valdileia Martins também foi muito agraciada pelo público brasileiro depois que sua história foi contada por Demétrio Vecchioli, do UOL. A atleta se formou em um assentamento do Movimento dos Sem Terras (MST), em Querência do Norte (PR), onde foi criada. Seu pai, Israel Martins, foi o principal incentivador da improvisação de materiais para simular uma prova de salto em altura.
Foi dessa forma que Valdileia começou no esporte para posteriormente tornar-se uma atleta de alto rendimento. Depois de muito tempo “estancada” em marcas, a brasileira teve um crescimento na carreira do ano passado para cá. Em 2023, conseguiu disputar um Campeonato Mundial pela primeira vez, e em 2024 participou dos Jogos Olímpicos. Não só participou, como fez a melhor marca da vida e ainda garantiu uma final, sendo uma das 13 melhores atletas de sua prova no mundo.
“Eu recebi inúmeras mensagens de todo o país. O pessoal ficou muito orgulho e satisfeito. O pessoal me vê como inspiração, como se você fosse capaz de romper qualquer barreira. Hoje eu me sinto incrível. Eu fico olhando os vídeos e falando: ‘cara, eu saltei’, ‘eu voei!’, ‘olha meu grito que top’. Eu acho que o pessoal está orgulhoso desse feito e de toda a história”, disse Val.
Lembranças do pai
O pai foi o maior aliado da carreira de Valdileia Martins, mas ele não pôde ver o ápice da carreira da filha. Ele faleceu aos 74 anos de idade, no início da última semana, cinco dias antes da estreia olímpica de Val. A atleta, que já estava em Paris, chegou a pensar em voltar para casa, mas ficou para a realização de um sonho. Ela acompanhou o velório do pai diante de uma chamada de vídeo pelo celular.
“Ontem [sábado] eu chorei à noite, porque toda conquista que eu tinha, eu saia da pista e ligava para o meu pai. Ele é a primeira pessoa que sabia da minha vitória e da minha derrota. E quando eu saí de Paris, eu não tive meu pai para poder falar. E ontem eu falei: ‘cara, eu não vou ter mais esse momento com ele’. Mas assim, eu aproveitei todos os momentos com ele e eu falo que vivi tudo com ele”, falou Valdileia.