O domingo (04) pode não ter sido o mais vitorioso para o Brasil em termos de medalhas nos Jogos Olímpicos de Paris. Porém, grandes feitos da história mundial do esporte ocorreram nas praças francesas e encerraram uma semana mágica. Assim, Novak Djokovic, no tênis, Cindy Ngamba, no boxe, e Kaylia Nemour, na ginástica artística, tornaram esse evento ainda maior.
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De tempos em tempos, certos feitos esportivos são mensurados como grandes ou gigantescos. Em uma olimpíada, a propensão de que esses feitos convirjam em um dia espetacular é grande. Ainda mais quando o brasileiro não está ocupado com a torcida por medalhas e vitórias. Não que esse domingo não tenha trazido alegrias para o país, uma vez que o vôlei feminino terminou a primeira fase com melhor campanha.
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Além disso, teve Hugo Calderano conquistando o melhor lugar de um sul-americano no tênis de mesa. E também Evandro e Arthur eliminaram a dupla holandesa que tinha um dos atletas condenado por estupro do torneio de vôlei de praia. No entanto, Djokovic Ngamba e Nemour tornaram o domingo um dia encantado para amantes dos esportes e para dar razões para acreditar na humanidade. São histórias que abrem a segunda (e última) semana olímpica e que deixam o coração quentinho.
Nole, 5º da história
A final entre o sérvio Novak Djokovic, vencedor de 24 Grand Slams, buscava o único título que faltava em sua carreira. Provavelmente protagonizou a maior final de tênis olímpico da história, ao bater o jovem espanhol Carlos Alcaraz por 2 sets a 0 (7/6 (3) e 7/6 (2)).
E toda a conjuntura que envolvia essa batalha, a expectativa prévia que tinha pelo encontro dos dois talentos. O palco ser em Roland Garros, onde o espanhol vem dominando nos últimos anos e que é considerado o futuro melhor do mundo. Ser no saibro, que favorece o jogo mais lento e que precisa de muito mais físico jovial. Djoko chegou à final sem perder um set, nos seus 36 anos, enquanto Alcaraz fez o mesmo, porém com 21.
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Dessa forma, o choro de Djokovic mostra o quanto ele tinha de vontade de buscar essa conquista que perseguia desde Pequim/2008. É simplesmente o quinto tenista de toda a história a conquistas o “Golden Slam”, que é vencer os quatro Grand Slams mais o torneio olímpico. Djokovic se iguala a Steffi Graff, Andre Agassi, Rafael Nadal e Serena Williams, simplesmente. Por mais negacionista que ele possa ter sido ainda no período que mudou o ano de disputa dos Jogos de Tóquio-2020, hoje é permitido relevar suas falhas em nome de um feito esportivo maior, apenas hoje.
África graciosa
Um dos contos mais legais que tiveram seu desfecho nesse domingo foi a da ginasta Kaylia Nemour, que conquistou o ouro nas barras assimétricas, com a nota de 15,700 pontos. Como se não bastasse a altíssima nota, a atleta confirmou seu favoritismo. Até aí, não parece nada de impressionante, a não ser pelo fato de Kaylia ser da Argélia. O que significa que essa foi a primeira medalha da história do continente africano na modalidade que é tão centrada em Europa, Ásia e América do Norte.
Curiosamente, Kaylia nasceu em Saint-Benoit-la-Foret, na França. Mas, escolheu representar a Argélia desde 2022, onde seu pai nasceu. Portanto, a ginasta tem a dupla nacionalidade e ela optou pela colônia e não pelo colonizador. Ela já tinha conquistado a prata no Mundial da Antuérpia de 2023 no mesmo aparelho. Ela superou entre as sete outras finalistas, a chinesa Qiyuan Qiu, que ficou com a prata, e a norte-americana Sunisa Lee, que foi bronze. São nomes que, frequentemente, aparecem em pódios de competições importantes.
Vitória da representatividade
Por fim, a história mais impressionante por todo o contexto político-social que ela se apresenta. Se você não conhece Cindy Ngamba, hoje é o dia para aprender o significado de resiliência. Ainda mais de alguém que tem o nome do meio de Winner, realmente é uma pessoa que nasceu para vencer na vida.
Cindy nasceu em Camarões, contudo mudou-se para o Reino Unido com 11 anos. Seu tio perdeu os papeis de imigração e ela precisou a retornar para seu país de origem. Teve a oportunidade de estudar criminologia na Universidade de Bolton. Assim, a atleta passou a competir em terras britânicas com a bandeira da equipe de refugiados. Com um agravante para sua condição de não-permanência em seu país natal, ela é homossexual em sua orientação. Em Camarões, não é permitido a manifestação de pessoas da comunidade LGBTQUIAPN+.
Então, Cindy classificou-se para o torneio olímpico de boxe na categoria até 75kg. Hoje, a vitória sobre a francesa Davina Michel, por 5 a 0, nas quartas de final, garantiu a primeira medalha da história da equipe de refugiados. Agora, luta na semifinal contra Atheyna Bylon, do Panamá, para saber se chega a uma final inédita ou define o metal que vai estampar com orgulho. Um feito para se colocar entre as maiores conquistas da humanidade.
Uma orientação sexual não define a qualidade ou o esforço de um atleta. Uma lutadora que compete sob a bandeira internacional do COI não é uma coitada que está lá por piedade, está lá por méritos e para competir em igualdade de condições. A intolerância, seja por qual justificativa for, não tem espaço no maior evento que junta os países para competir sob as mesmas regras.
Que venha mais!
Essa primeira semana de Jogos Olímpicos foi, primordialmente, mágica pelos seus cenários, pelas conquistas, pelas medalhas. Todavia, que venham mais Djokovic, Nemour e Ngamba ao longo dos próximos dias. É bom o mundo aproveitar esses momentos, já que entramos na segunda metade e as disputas estão acabando. Em uma edição olímpica carregada de mensagens e reflexões, outras tantas virão em todas as esquinas de Paris. Vamos usufruir, pois domingo (11) a esse horário (21h), estaremos chorando com saudade daquilo que vimos na frente de nossos olhos.