Paris – Foi dolorida a saída de Ana Luiza Caetano da linha de tiro do Hôtel des Invalides. Reflexo de como foi a derrota para a francesa Lisa Barbelain nas oitavas de final do tiro com arco nesta sexta (3). A disputa era difícil, contra a 11ª do mundo e toda uma arquibancada torcendo pela anfitriã. O combate foi parelho e a brasileira só caiu após a adversária acertar duas flechas no centro do alvo, nas duas últimas rodadas da disputa. A feição de Ana era de tristeza, com lágrimas no rosto, mas, ao lembrar dos feitos que conseguiu em Paris, a atleta de apenas 22 anos abriu um raro sorriso.
“Estou frustrada demais. Foi muito perto. Todos os sets foram por uma distância muito pequena”, disse Ana Luiza Caetano. De fato. Somente o primeiro o placar foi elástico, mas muito por conta de um tiro ruim da brasileira. Cada set tem três flechas para cada arqueira e, no primeiro, estava 18 a 18 quando Ana marcou somente sete pontos. Acabou 28 a 25 para Barbelain. No segundo, a brasileira venceu por 27 a 26. No terceiro e no quarto, o roteiro foi o mesmo. Lisa Barbelain cravou um dez nas últimas flechas de cada parcial e ganhou ambos por 28 a 27, sacramentando a vitória por 6 a 2.
Ambiente e respeito
“Demorei mais para me adaptar ao vento, a torcida gritou bastante. Naquele primeiro set, a torcida deu uma atrapalhada, mas depois eu consegui entrar no clima, talvez não rápido o suficiente”, avaliou a brasileira. “Estou feliz com o meu jogo, não com o resultado, mas com o meu jogo. Mostra o quanto o Brasil está crescendo, o quanto a gente é respeitado hoje no esporte, o quanto a gente impõe, sabe, esse ‘putz, vou contra o Brasil’ (nos adversários). Isso é legal, é um passo”.
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O ambiente na linha de tiro das fases finais nos Jogos de Paris não era muito familiar para Ana Luiza Caetano. Nos campeonatos regulares do tiro com arco, em geral ele só é montado na disputa das medalhas. Na Olimpíada, foi para toda etapa eliminatória. Após três dias atirando nele, se sentiu melhor. “Nossa, estava muito gostoso, está ventando dos dois lados, é um vento que exige muita atenção e gosto disso. A torcida foi legal. Meu sonho é que o esporte cresça e um dia se torne realmente um esporte principal no Brasil. Então ver um campo assim, com tanta gente, com tanto espectador, foi legal, mesmo que a torcida não fosse pra mim. E tinha muita torcida pra mim, é porque os franceses são barulhentos, mas tinha bastante brasileiro. Fiquei muito feliz com isso, ajuda bastante.”
Ao final, um sorriso
Outra diferença da competição olímpica para a regular foi a programação. Os torneios de tiro com arco têm três, quatro dias. Em Paris, a programação começou no dia 25, ainda antes da abertura oficial, e completará onze dias no domingo (4), data do encerramento. “Muda completamente. O jogo é outro. De tudo. Ter que trocar partes que são mais descartáveis do equipamento, porque a gente está treinando no meio de tudo. O volume de flecha é grande, desgasta o equipamento, desgasta mentalmente, foi bem diferente de encarar”, explica.
Apesar de todas as dificuldades, novidades e da tristeza pela queda, o saldo final deixou a arqueira feliz. “Foi a primeira vez que eu fiz 660 numa competição internacional, a primeira vez que uma brasileira fez 660 numa competição internacional. É uma marca boa, uma marca que eu venho buscando há um tempo. Já fiz 50 e pouco (650 e pouco), então alcançar os 60 (660) é bom, um passo adiante”, comentou, já com um leve sorriso no rosto. “Foi a melhor classificação da equipe mista, a primeira vez que a gente passou para os combates (eliminatória). O nono lugar não é o que a gente queria, mas é uma boa posição”. E daqui pra frente? “Ah, agora eu só quero respirar, absorver tudo, e depois eu penso.”