Com os olhos ainda cheios das lágrimas derrubadas em campo, Raquel Kochhann caminhava pela zona mista em direção à reportagem do Olimpíada Todo Dia, que estava à sua espera. A terceira participação olímpica dela havia recém terminado. O décimo lugar da seleção brasileira no rúgbi sevens era melhor do que o 11º de Tóquio-2020, mas pior o que o nono do Rio-2016. Na cabeça, uma mistura de sentimentos. Independente do resultado, terminava naquele momento a participação olímpica mais inesquecível de todas. A superação do câncer, a volta ao esporte, ser porta-bandeira na cerimônia de abertura… Tudo se misturava em seus sentimentos, mas com uma vontade muito clara: que tudo o que foi vivido intensamente nesses últimos cinco dias sirva para tornar a modalidade dela mais conhecida do grande público.
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Coração quentinho
“É difícil explicar sensações com palavras, né? Mas acho que a gente sai com o coração quentinho, com muita alegria de que tudo que aconteceu aqui serviu para que mais brasileiros conhecessem o rúgbi. Se conheceram um pouco da minha história, eu carrego junto esse esporte incrível. Então acho que esse é o meu objetivo. Desde o início de todo o processo foi demonstrar para os brasileiros o rúgbi”, explica.
“Talvez a gente não tenha conseguido uma medalha aqui numa Olimpíada . A gente ainda não está num nível de medalha, mas a gente precisa de uma base. A gente precisa começar de algum lugar e a gente já está começando estando entre os 12 melhores times do mundo. Então acho que isso pra mim já é uma grande vitória e a gente está fazendo uma construção de um caminho para o futuro. Então quem sabe agora com um pouco mais de reconhecimento com mais brasileiro sabendo que a rugby a gente tem um pouco mais de incentivo e a gente, quem sabe crescendo esse projeto, chegue daqui a umas duas Olimpíadas vindo disputar por uma medalha”, sonha a capitã das Yaras, como são chamadas as jogadoras que defendem a seleção brasileira de rúgbi.
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“A vida é feita para ser vivida”
Se as redes sociais servem de termômetro, Raquel Kochhann chegou a Paris com 5 mil seguidores. Se não explodiu como outros atletas, que ganharam centenas de milhares de novos fãs, ela ao menos mais do que triplicou sua base. A jogadora de rúgbi volta para o Brasil com 18 mil pessoas seguindo sua conta.
“Recebi muitas mensagens. Algumas pessoas diziam não fazer ideia do que era o nosso esporte, mas que estavam torcendo por nós. Então, acho que isso já é um grande passo para as pessoas conhecerem o rúgbi. Mas teve o outro lado também. Recebi muitas mensagens de mulheres que receberam o diagnóstico de câncer, que estão passando agora por um momento difícil e que se sentiram energizadas, motivadas, depois de saberem da minha história”, comemora.
A superação do câncer de mama, diagnosticado em maio de 2022, serviu de inspiração para muita gente. Raquel Kochhann virou sinônimo de coragem. No momento mais difícil de sua vida, ela encarou a doença, sem deixar de acreditar no sonho de disputar mais uma edição de Jogos Olímpicos. E conseguiu transformá-lo em realidade.
“Então, eu acho que essa mensagem que eu quero deixar pra todas, de que a vida é feita pra ser vivida. E o que eu sempre falo pras meninas aqui, cada vez que a gente entra em campo, a gente tem que entrar como se fosse o último jogo. A gente não sabe quando vai ser. Então é aproveitar cada momento, não pensar no futuro. É viver aqui agora”, diz.
Futuro
Ao pensar no futuro da modalidade no Brasil, Raquel Kochhann acredita que a grande desvantagem que o Brasil tem em relação às concorrentes é que o rúgbi não é um esporte naturalmente praticado no Brasil, mas acredita que essa situação tem tudo para mudar.
“Todos os países que a gente enfrenta aqui na Olimpíada, todos no seu país, quando uma criança nasce ela ganha uma bola de rúgbi. De nós, acho que a gente tem duas meninas que conheceram o rúgbi novas. O resto todo mundo já conheceu na faculdade depois de mais de 20 anos. Então, a parte de iniciação motora a gente já está atrás dos outros times. Mas agora com o rúgbi se desenvolvendo… a nossa própria confederação tem vários projetos muito legais, levando o rúgbi para as escolas, levando um rúgbi de desenvolvimento e essas crianças agora estão crescendo com uma bola de rúgbi na mão. Vamos fazer a diferença daqui a alguns anos”, acredita.
Rúgbi XV
Mas e o futuro da própria Raquel Kochhann? Aos 32 anos, vai tentar chegar a Los Angeles-2028? Muito cedo para responder isso, mas ela já sabe qual vai ser o próximo desafio para o qual vai se dedicar: a Copa do Mundo de rúgbi XV, que será disputada no ano que vem.
“Agora a gente entra de férias, tem um tempo para descansar também porque foi uma temporada bem longa. Se pensar que eu emendei meu tratamento junto com uma temporada, então talvez eu já estou acho que há quase dois anos sem férias. Vou pra casa, curtir minha família, aproveitar um pouquinho.
Depois voltando, a gente tem outro grande desafio porque agora arrumamos um problema bom: nós classificamos pra Copa do Mundo de rugby XV feminino”, comemora.
Vai ser mais uma oportunidade de fazer história. A primeira participação das Yaras numa Copa do Mundo de rúgbi XV e, claro, Raquel Kochhann quer estar lá. “Se o treinador me quiser, estou à disposição, e esse com certeza é um passo muito grande que a gente vai ter que dar porque hoje a gente está recém com poucos jogos. A gente tem um trabalho muito grande para ser feito até chegar lá para poder mostrar um bom rúgbi”.