Paris – A primeira reação que Raquel Kochhann teve quando viu a reportagem do Olimpíada Todo Dia chegando para fazer uma entrevista com ela foi dizer que acompanhava o site desde o início. “Quando o Instagram tinha menos de 500 seguidores, eu já tava lá”. Além de fazer o repórter ganhar o dia, a frase mostra que não é de hoje que a atleta da seleção de rúgbi está imersa no movimento olímpico brasileiro. Por isso, mas não só por isso, vai ser porta-bandeira da delegação, ao lado do canoísta Isaquias Queiroz, no histórico desfile da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.
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“Nem nos meus melhores sonhos eu sonharia que um dia seria possível. Com toda a certeza, melhor do que isso, só carregar uma medalha de ouro no peito. É inimaginável, algo tão grande que é meio difícil de cair a ficha. Ainda estou no momento de alegria, sem acreditar que é real”, contou Raquel Kochhann, 31 anos, e integrante da seleção brasileira de rúgbi sevens nas três edições em que a modalidade esteve nos Jogos Olímpicos: Rio-2016, Tóquio-2020 e agora em Paris-2024.
Em 2022, descobriu um câncer de mama. Encarou mastectomia, quimio e radioterapia, e até hoje precisa de medicações periódicas, a cada 21 dias, para se manter saudável. Em janeiro deste ano, após 20 meses de ausência, Raquel voltou a disputar o Circuito Mundial de Rugby Sevens com a seleção.
Orgulho verde e amarelo
Capitã da seleção em Tóquio e também agora em Paris, Raquel conta não ser de hoje a paixão pela camisa verde e amarela. “Perguntei pra minha mãe sobre desde quanto tenho sonho de representar nosso país e ela falou que foi desde que comecei a caminhar. Eu comecei a caminhar no meio de vergas da lavoura. Via um risco de avião no céu e falava pra minha mãe que um dia eu iria estar lá. Mal falava, mal caminhava e já falava em ser atleta”, diz, emocionada e orgulhosa das origens. “Nasci na roça, me criei na roça. Até brinquei com as meninas que o Globo Rural me chamou para uma entrevista”. Antes do rúgbi, a porta-bandeira do Brasil já havia tentado a sorte no futebol e chegou ser convocada para a seleção nas categorias de base.
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A honra de empunhar a bandeira não deixou somente ela orgulhosa. “Pra minha família isso representa algo muito grandioso”, diz. “Minha irmã me mandou uma mensagem, toda feliz: ‘mana, porque você não me contou? Meu celular não para de tocar!”. Por fim, Raquel Kochhann foi só elogios ao outro porta-bandeira da cerimônia de abertura, Isaquias Queiroz. “É um grande atleta, exemplar, acompanho a muito tempo. Tem uma história incrível, maravilhosa, espelho para muitos outros atletas de outras modalidades, não só a canoagem. É uma grande honra dividir com ele esse espaço”.
E no campo?
Após a festa no Rio Sena, virá o torneio de rúgbi sevens dos Jogos, e Raquel vê a seleção como franca atiradora. “A Olimpíada pra gente é o momento de aproveitar e se divertir. A pressão está totalmente nos outros times. A nossa chave tem dois dos top quatro mundial”. As Yaras, como são chamadas as atletas da seleção, estão no Grupo C ao lado da França, donas da casa e atuais vice-campeãs olímpicas, Estados Unidos e Japão. As anfitriãs fecharam a temporada como a terceira melhor equipe do mundo e os Estados Unidos vieram em quarto. As japonesas ficaram em nono, e o Brasil, em décimo.
As Yaras vêm num bom momento. Mantiveram-se na elite modalidade ao vencer quatro de quatro jogos que fizeram no final do semestre. A elite é bem seleta, com apenas doze equipes. A temporada teve outros momentos marcantes. Uma vitória sobre Fiji, a sexta melhor da temporada e medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio, e a inédita classificação da equipe de XV para a Copa do Mundo. Como os nomes já indicam, no rúgbi XV as equipes jogam como quinze jogadoras cada. No Sevens, a modalidade olímpica, são sete pra cada lado.
“Esse ano todo a gente conseguiu evoluir muito como time, como atletas, pessoas. Levar o rúgbi brasileiro para um patamar ainda mais alto. Estamos aqui pra mostrar pro mundo, e também para os brasileiros, o melhor, sem pensar em resultado, ganhar, perder. Queremos mostrar que o Brasil é um pouco além do que só o país do futebol. Tem muitos outros esportes”, diz. Mas, claro, “nenhum time entra pensando em perder. Vamos, com certeza, pra ganhar todos os jogos. Estudamos os outros times, analisamos onde eles têm algumas fraquezas e vamos tentar impor o nosso rúgbi e o resultado vai ser consequência.”
Pressão nas donas da casa
Raquel Kochhann e a equipe têm claro o que é necessário fazer para avançar na chave em Paris. “Precisamos ganhar dois jogos dos três jogos. Talvez, a França, primeiro jogo, time da casa, a gente possa contar com a sorte de elas entrarem nervosas. Pensar em fazer um bom jogo com os Estados Unidos, que vêm com um time muito forte”, diz a porta-bandeira. “O lado negativo é estarmos jogando com as donas da casa, na casa delas, e elas tiveram um ano maravilhoso no circuito mundial. Quase conseguiram superar a Austrália ou a Nova Zelândia, as grandes favoritas. Elas estão lá em cima.”