Paris – Maria de Fátima Castro só ficou sabendo que era medalhista paralímpica depois de se perder no corredor da Porte de La Chapelle Arena, onde estão acontecendo as provas do halterofilismo em Paris-2024. Após executar seus três movimentos na disputa da categoria até 67kg e encerrar sua participação na competição nesta sexta-feira (06), ela se preparava para deixar o local quando seu treinador, Valdecir Lopes, a avisou que ela havia ido ao pódio com um bronze.
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“Eu fiz o terceiro movimento, foi válido. Me emocionei porque é um recorde pessoal, mas eu não tinha noção. Ele [o treinador] falou assim: ‘Maria, agora jogamos a responsabilidade para elas’. E foram queimando, queimando e só ficou eu lá. Eu fiquei perdida no corredor, a mulher não sabia para onde eu ia. Eu tinha que pegar a minha mochila e aí quando eu cheguei lá, o Val falou que [a medalha] era minha. Não aguentei, moço, comecei a chorar. Eu não sei te explicar. Meu coração começou a acelerar e eu falei: ‘meu Deus!'”, falou Maria em entrevista ao Olimpíada Todo Dia logo após a prova.
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Maria de Fátima teve três tentativas válidas em sua competição em Paris-2024, que marcou sua estreia em Jogos Paralímpicos. A última e principal delas foi a de 133kg, que lhe rendeu o recorde das Américas. Quando encerrou sua prova, a amazonense de 30 anos estava na terceira colocação, mas outras duas atletas ainda entrariam em ação: a nigeriana Lucy Ejike e a colombiana Bertha Cecilia Fernandez, que tinham pedidas de marcas maiores do que a da brasileira.
Surpresa positiva
Assim, caso as duas competidoras obtivessem sucesso em seus movimentos, passariam Maria de Fátima e ela terminaria em quinto lugar. E era essa a expectativa depois da brasileira depois de sua prova. Enquanto as atletas ainda não tinha entrado em ação, a brasileira chegou a conversar rapidamente com a comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), ainda no espaço de competição, e depois entrou no corredor, conforme relatado.
Acontece que Ejike e Fernandez erraram suas tentativas e Maria permaneceu na terceira colocação, ficando assim com o bronze. Lucy Ejike terminou em quarto lugar e quebrou uma sequência de seis Paralimpíadas seguidas medalhando no halterofilismo (desde Sydney-2000). A chinesa Tan Yujiao levou o ouro, com novo recorde mundial de 142kg, enquanto a egípcia Fatma Elyan faturou a prata com 139kg.
“Eu tinha um sonho de um dia estar aqui. E eu fui com tudo. O Val falou que tinha dois caminhos: bater a egípcia e a nigeriana. A nigeriana é medalhista paralímpica. Ele falou: ‘Maria, você viveu pra isso. Você tá preparada. Vamos jogar junto. Joga toda a tua raiva que tu tiver. A minha energia vai passar pra ti na hora de levantar’. E deu certo. Olha eu com a medalha aqui!”, disse ela.
Orgulho do Amazonas
Ainda nos corredores de La Chapelle, Maria também pôde fazer uma ligação especial para falar com seus dois filhos, Fabiel, de 6 anos, e Fabiele, de 11, para comemorar a conquista da medalha. “Eles estão me esperando em casa. Eu prometi que ia levar uma medalha, não importava a cor, e eu consegui. Essa é dedicada a eles. Quando eu liguei, eles já choraram. Eu já estava emocionada e, com isso, desmanchei inteira”, falou a halterofilista.
A conquista de Maria de Fátima torna-se ainda maior ao verificar sua trajetória. Natural de Tefé, no Amazonas, ela tem má-formação congênita nas pernas e só conheceu o halterofilismo em 2017, mas começou a se dedicar à modalidade dois anos depois. Maria entrou para a seleção brasileira em 2022 e, logo na segunda competição, faturou um bronze na Copa do Mundo de Dubai daquele ano. Ela também foi bronze nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago-2023 e levou um bronze na disputa por equipes femininas do Mundial do ano passado.