Saint-Denis – A principal mudança da bocha para o ciclo de Paris-2024 foi a separação da modalidade por gênero. Até Tóquio-2020, homens e mulheres competiam juntos. A alteração foi celebrada por Andreza Vitória, que foi ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago-2023 e do Mundial do Rio de Janeiro, em 2022.
A pernambucana de 23 anos chega à segunda Paralimpíada como um dos principais nomes da seleção composta por nove atletas. Ela compete na classe BC1, que prevê o auxílio de ajudantes. Esses, podem estabilizar ou ajustar a cadeira do jogador e entregar a bola, quando pedido.
Andreza foi diagnosticada com a Síndrome de Leigh, uma doença neurodegenerativa hereditária rara que afeta o sistema nervoso central. Ela utiliza cadeira de rodas e tem dificuldades na fala. Ela é apoiada pela técnica Poliana Cruz. Ambas acreditam que a mudança foi positiva para a modalidade.
A World Boccia, federação que rege o esporte, entendeu que os homens tinham melhores resultados nas classes em que a bola era lançada com a mão. Existem classes, nas quais os atletas têm deficiência mais severa, em que a esfera é lançada em uma calha com o auxílio de instrumentos.
“Foi uma mudança muito grande. E logo depois, a Andreza se teve a conquista de ser a primeira mulher a vencer o campeonato das Américas. Depois vem esse Mundial pra dar uma coroada nesse trabalho. Depois veio o Parapan pra martelar ainda mais aquilo que a gente vinha trabalhando. E agora, para Paris, a gente vem com uma nova expectativa. A gente sabe que o evento é muito grande, muito mais difícil”, detalhou Poliana, em entrevista exclusiva ao OTD.
Apesar de ter dimensão do tamanho do desafio, Andreza fez questão de destacar que chegou em Paris em busca da medalha de ouro.
A dupla já realizou treinos de reconhecimento da Arena Paris Sul 1. Ela recebeu o vôlei na Olimpíada, e vai ser a casa da bocha na Paralimpíada. Se em Tóquio não havia público por conta da pandemia de Covid-19, agora elas já projetam como vai ser a competição com torcida. “A gente vem fazendo esse trabalho de imaginar que ali vai estar cheio de pessoas, se sentir lá no dia do jogo. É muito importante pra gente fazer esse reconhecimento do piso, se familiarizar com o espaço e identificar também a atmosfera do local”, explicou Poliana.
Já Andreza definiu em uma palavra o sentimento dela: ansiedade. O que ela mais quer é estrear no evento, o que vai ocorrer no dia 29, o primeiro de competições em Paris.
Acessibilidade na Vila
A atleta também elogiou a organização dos Jogos em termos de acessibilidade, algo que gerou polêmica durante o ciclo por conta, principalmente, das limitações das centenárias estações de trem e metrô da cidade.
“Quando a gente foi recepcionada no aeroporto, vimos todo mundo estava muito disposto a fazer tudo dar certo. Aqui dentro (na Vila Paralímpica), dentro das estações, dentro da sala de competições, acredito que está funcionando muito bem”, opinou Poliana.
Um estudo feito pelo sistema de transporte francês estimou o custo de cerca de 1 bilhão de euros, o equivalente a mais de 6 bilhões, para adaptar apenas uma linha de metrô parisiense.
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Houve evoluções em algumas das linhas mais frequentadas na região metropolitana de Paris, além de estações próximas a locais de competição. Mas o maior suporte aos atletas e ao público ocorreu no plano viário. Segundo a Île de France Mobilités, que gerencia o transporte público da região, 100% dos ônibus e bondes são acessíveis. Houve ainda um reforço de veículos adaptados que transportam os usuários até o entorno das arenas de competição.
Já na Vila Paralímpica, todos os apartamentos têm ao menos um banheiro adaptado para pessoas com mobilidade reduzida. Também foi adicionados barras de apoio e cadeiras adaptadas nos chuveiros.
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