Tem coisa melhor do que chegar na maior competição do planeta melhorando os seus resultados? Isso é o que Tayana Medeiros está vivendo na reta final de preparação para os Jogos Paralímpicos de Paris. A atleta carioca do halterofilismo quebrou duas vezes o seu recorde pessoal no começo desse ano e vai em busca de sua primeira medalha paralímpica na capital francesa.
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Encontrando o amor
Quando criança, Tayana não gostava de esporte e vivia fugindo do professor de educação física na escola. Mas acabou conhecendo o desporto paralímpico através de um amigo que teve uma perna amputada e começou a praticar algumas modalidades no CEFAN (Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes), no Rio de Janeiro. Foi através desse amigo que Tayana conheceu o esporte paralímpico inicialmente no atletismo. Mas foi pelo halterofilismo que a atleta se encantou.
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“Eu achava que aquele esporte era só de homem, que não ia dar certo pra mim, que ia ser uma coisa que não ia valer a pena. Meu ex-treinador me pediu duas semanas para poder te apresentar. Foi bem na época de uma seletiva para as Paralimpíadas do Rio”, disse Tayana, que ainda pediu alguns sinais até saber que aquela era a modalidade certa.
“Eu fui no dia [da seletiva] e falei: ‘Eu mudo dessa modalidade se Deus me mostrar três coisas’. Comecei a pesquisar e conheci a história do Bruno Carra e da Márcia Menezes. E quando eu cheguei lá eu dei de cara com o Bruno Carra e tive um sinal. Quando eu entrei na arena, a Márcia estava competindo e tive o segundo sinal. Vi todas as competições e vim pra casa. Eu falei para minha mãe no carro que eu não ia ficar na modalidade porque eu tinha pedido três sinais e só recebi dois. E quando o meu pai senta no sofá e liga a televisão estava falando sobre a competição. Ela na mesma hora virou e falou: ‘Agora você tem três sinais, você vai'”.
Sucesso no primeiro ciclo paralímpico
Foi dessa forma que Tayana iniciou sua trajetória no halterofilismo. Com apenas duas semanas de treinos, ela participou de sua primeira competição nacional. Logo em seguida, foi convocada para integrar a seleção brasileira e disputou sua primeira Copa do Mundo. A partir daí, iniciou-se sua caminhada internacional que culminou em sua ida para os Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020. Por lá, Tayana viveu experiências atípicas influenciadas pela pandemia de Covid-19.
“Foi uma experiência traumatizante e boa ao mesmo tempo, porque teve a questão de ficarmos isolados lá. Eu ainda tive um privilégio, porque, de todos os atletas, era a única que estava liberada. Tive uma rotina de treinar um pouco mais do que as outras pessoas que estavam no isolamento. Fiquei nervosa, tive crises de ansiedade e meu peso subiu. Tivemos que trabalhar essa perda de peso e só depois de um tempo encontrei a delegação na Vila”, comentou.
Tayana Medeiros classificou-se para Tóquio depois de ser a sétima colocada do ranking mundial da categoria até 86kg. Na Paralimpíada, ela terminou em quinto lugar, ao erguer 121kg logo em sua primeira tentativa. Ela ainda tentou erguer 128kg e 131kg, mas falhou. Caso tivesse conseguido obter êxito nos 131kg, teria conseguido um lugar no pódio.
“Não esperava realmente estar em Tóquio, achava que meu ciclo seria Paris. Quando vi que estava perto de me classificar e me classifiquei, foi uma surpresa e tanto. Olhar para as melhores do mundo e saber que eu estava no meio, me deu um gás que nem eu mesmo acreditava que eu ia ter. Briguei até pelo último momento por um bronze, que no final não deu certo, mas foi feita a vontade de Deus. Espero que para Paris eu venha com uma nova medalhinha de presente”, comentou.
Força feminina
Por ser um esporte de força, muita gente associa o halterofilismo ou o levantamento de peso olímpico à masculinidade. Mas atualmente, os melhores nomes do Brasil na modalidade são mulheres e grandes referências para Tayana, como a campeã paralímpica Mariana D’Andrea e a vice-campeã mundial no LPO Laura Amaro.
“É um grande orgulho. Hoje eu tenho uma amiga classificada no olímpico que é a Laura, treinei com ela muitos anos no Rio de Janeiro. E hoje eu também tenho uma amiga que é medalhista paralímpica, que é a Mari. Eu tenho dois exemplos do meu lado. Eu estava lá na prova que a Mariana ganhou em Tóquio, e agora mesmo de longe, eu estava acompanhando a classificação da Laura. Para mim é uma honra estar no meio dessas mulheres e espero um dia estar no patamar delas. Quero ser grande também”, falou.
Ciclo de Paris
Mais experiente aos 31 anos de idade, Tayana Medeiros cresceu no ciclo de Paris-2024 e hoje sonha com uma medalha. Ela está perto de garantir sua vaga paralímpica, uma vez que está em quarto lugar no ranking mundial e as oito melhores colocadas se classificam. A carioca acumulou resultados importantes nos últimos meses, como o ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago-2023, em uma competição que lhe trouxe muitas lições.
“Por incrível que pareça, eu achei que foi uma das minhas piores competições. Fui com o pensamento de que seria prata de novo, por ter unificado as duas categorias. No Chile, foi um aprendizado, porque meu maior adversário foi a minha mente. Então, eu tive que brigar comigo, não com elas. Quando eu queimei o primeiro movimento, falei para o meu treinador: ‘Já era’. E ele me pediu calma e me disse que eu tinha que fazer 131kg para ninguém tirar a medalha de ouro de mim. Eu fui e fiz”, falou.
Em março deste ano, a halterofilista conquistou a medalha de ouro na Copa do Mundo de Dubai, erguendo 140kg, novo recorde das Américas, o que a posicionou ainda melhor na briga por uma medalha. Além de seus bons resultados, ela ainda pode contar com a ausência das duas primeiras colocadas do ranking mundial, que subiram de categoria, para conseguir um inédito lugar no pódio na capital francesa.
Até Paris, Tayana Medeiros disputará a Copa do Mundo de Tbilisi, que ocorrerá entre 20 e 26 de junho. Será a última competição antes do fechamento da corrida paralímpica e, por isso, também será sua última aparição antes dos Jogos Paralímpicos de Paris-2024, que acontecerão entre 28 de agosto e 8 de setembro.