Harlley Arruda costumava bater 88 kg ao subir na balança. Quando se aproximava das competições, entrava na rotina para perder peso e se enquadrar na categoria até 81 kg, uma das que foram extintas desde que a Federação Internacional resolveu mudar as regras da modalidade, no início do ano. O desafio de chegar até 73 kg, ou seja, quinze quilos a menos do que registrou por mais de uma década, será um dos maiores de sua carreira, mas necessário para competir no Grand Prix de Judô Paralímpico, torneio organizado pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) e agendada para o próximo dia 19 de março, em São Paulo.
“Tem quase dois meses que estou sem arroz, feijão, pão, macarrão. E não estou sentindo falta, ainda bem! Só finto falta de um suquinho de frutas bem gelado após a comida, mas não posso”, relata o mineiro de 42 anos, que perdeu a visão dos dois olhos em 1999, após um acidente com arma de fogo. Apesar dos sacrifícios, ele esbanja otimismo antes da estreia na nova categoria: “Esse é o ano da minha conquista, o ano em que vou brilhar, tenho certeza disso! Estou fazendo meu esforço”.
Até janeiro, havia sete divisões de peso no masculino e seis no feminino, seguindo as regras do judô convencional. Com as alterações nas regras, foram extintas quatro divisões entre os homens e duas entre as mulheres. Agora, será assim:
Masculino
até 60 kg
até 73 kg
até 90 kg
acima de 90 kg
Feminino
até 48 kg
até 57 kg
até 70 kg
acima de 70 kg
Tal mudança desagradou bastante os atletas e acabou ofuscando a alteração principal, que foi a da classificação oftalmológica. A partir de agora, quem for cego total (antigo B1) só lutará contra cego total. Trata-se de uma antiga reivindicação dos judocas, que consideravam injusto um cego total lutar contra quem era B2 (percepção de vulto) ou B3 (definição de imagem), por entender que entravam no combate em desvantagem.
“É bom poder pegar no quimono de pessoas que têm exatamente o mesmo grau de deficiência que a gente. A mudança é importante para nós, que tanto reclamamos da questão dos cegos totais competirem com quem tinha baixa visão. Mas as categorias não permanecerem como eram ficou um pouco complicado. A gente se distanciou bastante do judô regular, que tem sete categorias”, pondera o paraibano Wilians Araújo, que até então lutava contra oponentes acima de 100 kg. A nova categoria reunindo os pesos-pesados pega judocas já a partir dos 90 kg.
Tantas novidades alteraram também a rotina de trabalho da Seleção Brasileira. Para formatar um novo grupo, a comissão técnica ampliou a lista de convocados nas duas fases de treinamento já realizadas em 2022: foram 25 judocas chamados ao todo – costumavam ser 13. “É bom ter um grupo grande para treinamentos. Será produtivo, são jeitos diferentes de treinar. Será um ciclo forte como foi o passado. Que dê tudo certo!”, opina Rebeca Silva, que não sofreu tanto impacto pelas mudanças pois sua categoria (acima de 70 kg) foi mantida.
Sobre o Grand Prix de Judô Paralímpico
Todo ano, a CBDV promove duas etapas do evento, uma em cada semestre. Para esta próxima edição, serão 117 atletas, sendo 81 homens e 36 mulheres. A competição acontecerá no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, na capital paulista, no dia 19 de março (sábado). As lutas estão previstas para começar às 9h (de Brasília). Paralelamente ao evento principal, acontece também a Copa Loterias Caixa de Judô Paralímpico, competição voltada para iniciantes na modalidade.