Dezembro de 2016 e Aline Rocha estava bem longe do verão brasileira. Era inverno na Suécia e a atleta treinava para fazer sua estreia no paraesqui cross-country. Um mês depois, já na Ucrânia, ela terminou a prova chorando. “Não aguento isso aqui, não.” Pois bem, não só aguentou como vai para sua segunda edição de Jogos Paralímpicos de Inverno.
“Já comecei pelo mais difícil, daí foi ficando mais fácil”, disse rindo na live com o Olimpíada Todo Dia. Aline Rocha também contou como o tempo foi fundamental para sua evolução na neve e como a parceria com Cristian Riber a fez não temer as descidas íngrimes. “Mudou tudo. Eu não sabia o que iria enfrentar na neve. E eu tinha muito medo das curvas e descidas. Com o Cris do meu lado, eu perdi o medo, pouco a pouco, e hoje já consigo fazer isso sem travar”.
Pioneira no paraesqui cross-country, Aline Rocha fez uma transição muito rápida, já que competiu nos Jogos de Verão da Rio-2016, onde disputou as provas em cadeira de rodas: 1.500 m e maratona. “Aprendi muito, principalmente com a roupa, tinha vezes que passava muito calor, muito frio. Todos esss detalhes que a gente aprende com o tempo. Fora o equipamento. É um tira casaco e coloca casaco tremendo”
Pra cima!
E a evolução de Aline Rocha no paraesqui cross-country segue com tudo. “Em PyeongChang-2018, eu mal sabia esquiar direito, estava ali para participar. Eu caía e não conseguia levantar. A evolução foi absurda, hoje não estou só para participar, é maravilhoso poder olhar para trás e ver essa trajetória.”
Há um ano, ela foi bronze na Copa do Mundo de esqui cross-country na Eslovênia. Em janeiro, Aline Rocha ficou em 5º lugar no Mundial Paralímpico de inverno. “Já realizei muitos sonhos. Participei da Rio-2016 em casa. Na Coreia, eu queria um top 10, mas só caí. Agora espero um top 10, eu evoluí demais. Chegar no top 5 é um sonho incrível.”
Domar a neve
Um clichê no esporte é creditar aos pequenos detalhes as conquistas alcançadas. Realmente, o alto nível é sobre alta performance e pequenos erros saltam aos olhos. Mas como o atleta se dedica aos pequenos detalhes é que faz a diferença.
“Na Coreia fez 10ºC positivo, podia trerinar de regata. Aqui tá perto de zero, mas antes eu não tinha essa sensibilidade para se adequar à neve, não tinha percepção. Mas com treinamentos em vários países, com diferentes temperaturas, a gente já sente a neve mais dura ou mais fofa.”
A experiência adquirida veio através de muitas observações e muita coragem. Qualidade própria das pioneiras. “Temos muitas opções agora, toda mudança de temperatura a gente tem como monitorar. É colocar o termômetro na neve e ficar atenta a qualquer mudança.”
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Pioneira
Primeira mulher latino-americana em Jogos Paralímpicos de Inverno, Aline Rocha e seu parceiro de treinos Cristian Ribera serão os porta-bandeiras do Brasil em Pequim-2022. “Sem palavras, é uma honra ser os porta-bandeira. Um misto de emoções, alegria, surpresa. O Cris me ajudou muito, ele não tem medo das descidas”, diz rindo. “Compartilhar com ele é maravilhoso, nada mais justo”.
Homenagem mais do que merecida, mas todo atleta que é referência deixa um legado. “É uma honra imensa ser pioneira no esqui, mas não quero ser a única. Não vou ficar tantos ciclos assim sozinha. Faz falta uma companhia feminina.”
Confira a live!
“Mas eu não imaginava que me apaixonaria pelo esqui.” Aline Rocha falou isso e muito mais sobre a rotina em Pequim, sobre como foi a preparação para os Jogos e a convivência na Vila Paralímpica.