Em 2022, o esporte paralímpico brasileiro vai ganhar um grande reforço. Referência nas pistas de atletismo, a tetracampeã paralímpica Ádria Santos vai virar referência fora delas também com o lançamento do Instituto Ádria Santos no ano que vem, em Joinville (SC). Com apoio do Banco BV, o projeto tem como objetivo levar os aprendizados do esporte para crianças com deficiência visual e em situações de vulnerabilidade social.
“Eu já tinha essa ideia há muito tempo. Desde quando eu estava competindo, sempre foi minha vontade poder contribuir com a vida das pessoas com o que eu aprendi no esporte. Então, sempre foi um sonho ter uma instituição minha para poder ajudar na vida de crianças, mostrando a importância e o poder de transformação que o esporte tem”, contou Ádria ao Olimpíada Todo Dia.
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O projeto está sendo finalizado e ainda não tem uma data de lançamento certa. No entanto, a princípio, o começo dos trabalhos no Instituto Ádria Santos será voltado para crianças, com atividades lúdicas através do atletismo, indo além do alto rendimento.
“A minha ideia sempre foi começar com crianças, agora direcionado àquelas com vulnerabilidade social, que não têm a oportunidade de conhecer e praticar o esporte, ou com deficiência visual.. E como é um projeto social, o objetivo é justamente trabalhar a brincadeira, o lúdico… Até pode surgir algum atleta, mas nesse começo é para que as crianças tenham essa oportunidade de conhecer o esporte, porque muitas não têm. Então é com esse público que eu quero começar, porque acho que eles precisam muito disso, de uma atenção maior”.
Reconhecimento
O Instituto Ádria Santos será o primeiro projeto de um atleta paralímpico apoiado pelo Banco BV, que já atua em outras instituições esportivas. Para Ádria, é muito importante que as marcas se envolvem com projetos sociais. E o convite foi uma surpresa e um reconhecimento da sua história.
“Eu me emociono quando lembro de tudo, como foi, quando comecei… Vim de uma família pobre, era tudo muito precário. Os treinadores, os guias faziam trabalho voluntário, o bloco de partida, a gente colocava o pé no meio-fio para largar… Mas eu acreditei, continuei treinando, me dedicando, pensando alto. E as coisas foram acontecendo e fui percebendo a importância do esporte na minha vida. E hoje passa esse filme, vem sempre na minha mente de onde eu vim, o que eu aprendi e as pessoas que fizeram parte da minha história, porque eu não conquistei nada sozinha”.
“Então faz muita diferença [ter uma grande marca apoiando]. Para falar a verdade, foi uma surpresa para mim quando entraram em contato comigo. Até brinco que eu achei que fosse um trote [risos]. Ficava pensando se era mesmo verdade. Eles falaram que estavam pesquisando há muito tempo a minha história e isso me deixa muito feliz, até emocionada, por tudo que eu fiz, a paixão que eu tenho pelo esporte. É um reconhecimento e é muito gratificante para uma atleta”.
Iniciação esportiva e trabalho nas escolas
Além do próprio Instituto Ádria Santos, as ações do projeto serão levadas também para escolas municipais e estaduais da região, a fim de alcançar mais crianças. A atleta será acompanhada de outros profissionais, como psicólogos, para tratar de assuntos importantes nessa faixa etária e levar um pouco da história de Ádria para os alunos, já que “educação e esporte andam lado a lado”, como disse a própria tetracampeã paralímpica.
O Instituto terá ainda um foco na iniciação esportiva para crianças cegas e baixa visão. Ádria Santos, que foi perdendo a visão aos poucos por causa de uma doença degenerativa, se formou em Educação Física e seu trabalho de conclusão de curso foi justamente sobre esse tema, que é muito caro a ela.
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“Meu TCC foi sobre iniciação esportiva para crianças cegas e de baixa visão, justamente porque a gente não tem muitos profissionais na área. Com as crianças cegas, eu preciso ter o cuidado de trabalhar com grupos pequenos, porque o aprendizado delas é mais lento, porque vai ser sentindo as coisas. Para conhecer um bambolê, a criança precisa pegar nele, ter esse contato. Então é um aprendizado mais lento, mas que eu gosto muito. Gosto de pessoas que chegam nos lugares e me falam tudo, descrevem o que tem. Se tem algo diferente, eu posso sentir, tocar… Então acho muito importante já trazer isso desde pequeno. Saber que podemos conhecer o mundo. A gente não está vendo, mas podemos conhecer tudo sentindo”.
Desta forma, a ideia é que o Instituto Ádria Santos sirva também como uma espécie de “capacitador” para os outros institutos apoiados pelo Banco BV, mostrando como agir quando uma pessoa com deficiência quiser entrar nesses projetos.
O verdadeiro legado
Ádria Santos encerrou a carreira no atletismo nos Jogos Paralímpicos em Pequim-2008, fechando com um bronze nos 100m rasos classe T11. Foi a última das 13 medalhas conquistadas pela velocista, que até hoje tem seu nome na história do esporte paralímpico brasileiro como a maior medalhista feminina do país.
Agora, ela vai começar uma nova fase da sua vida, que dará prosseguimento ao legado deixado dentro das pistas, levando tudo isso para além delas. “Eu sempre pensei em deixar um legado para contribuir na a vida das pessoas com deficiência. E acho que esse legado é o que todo atleta tem que deixar. Não é só colocar uma medalha no pescoço e dizer que é campeão. A gente tem um papel muito importante, de poder estar junto das pessoas que acreditam, que têm vontade, que dizem: ‘a Ádria conseguiu, eu também posso’”.
“As pessoas que praticam esporte… A gente é mais feliz. Praticar esporte para mim é uma terapia, eu me sinto feliz, e é isso que eu quero passar para essas crianças. A alegria, a felicidade de poder se movimentar, brincar, se divertir. É uma responsabilidade muito grande. A gente quando é atleta aprende a prática, mas a teoria eu tenho muito o que aprender e vou buscar esse conhecimento cada vez mais. Quero aprender e muito para estar sempre fazendo parte da vida das pessoas, mas com conhecimento para fazer mesmo a diferença”, concluiu.