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Brasileiro encara missão de tirar do zero futebol de 5 português

Passados 15 anos da última participação em um torneio oficial, país investe no técnico paraibano Márcio André para resgatar passado atuante

Márcio André Portugal futebol de 5 Conimbricense
Márcio André é ex-técnico da Apadevi (divulgação/CBDV)

Quando chegou a Coimbra, sede do Sport Clube Conimbricense, em Portugal, no ano passado, o paraibano Márcio André percebeu que a missão de tirar o futebol de 5 do país das cinzas não seria nada fácil. Os lusitanos, sem disputar um torneio oficial de seleções desde 2005, haviam abandonado a modalidade. Muitos não faziam nem ideia de que ela existia

Poucos meses depois e com objetivos bem definidos, o treinador brasileiro começa a colher frutos de seu trabalho. “Os portugueses em geral não sabem o que é o futebol de 5. Mas os atletas conhecem, sentem falta e cobram muito. Aqui, como aí, eles respiram futebol 24 horas por dia. Se pudessem, treinariam todo dia”, afirma o ex-técnico da Apadevi (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais) da Paraíba.

O professor, com 36 anos, conta com um grupo de 26 jogadores, incluindo cinco mulheres, que se reúnem uma vez ao mês para treinar. Segundo ele, já seria possível montar uma equipe minimamente competitiva para brigar no segundo escalão europeu.

Márcio André Portugal futebol de 5 Conimbricense Apadevi
Márcio (à direita) com a Apadevi na conquista do bronze em 2018 (divulgação/CBDV)

Boa estrutura

A pandemia acabou atrapalhando um pouco o andamento do projeto, principalmente a captação de jovens talentos nas escolas – uma das metas é alavancar a fomentação do futebol de 5 português. Por outro lado, a estrutura oferecida surpreende.

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“Tem uma grande quantidade de bolas, a IBSA (sigla em inglês para Federação Internacional de Esportes para Cegos) manda o tempo todo. A quadra já é pré-adaptada, tem uma barreira lateral que funciona como banda. No primeiro treino que dei, eles já tinham colocado colchonetes em todos os locais inseguros que apontei, como colunas e quinas. Fizeram jogo de camisas sendo que nem tem competição, ainda. Tenho máscaras oficiais, coisa que eu nunca tive aí”, explica.

Mas para entender como ele cruzou o oceano, é preciso voltar um pouco no tempo…

Conterrâneo na mira

Nascido em Campina Grande, berço da maior parte da comissão técnica da seleção srasileira, Márcio André sempre viveu nas quadras de futsal, onde era adversário frequente de outro paraibano que se destacaria futuramente no futebol de 5: Fábio Vasconcelos, atual treinador do Brasil, campeão dentro e fora das quadras e quem mostrou a modalidade paralímpica a Márcio.

“Via o Fábio evoluir e queria tentar chegar ao nível dele. Eu sabia que era capaz, acreditava no meu potencial”, conta. Já com experiência no comando da Apadevi-PB, Márcio começou a contatar países que pudessem se interessar em ter um brasileiro tocando o fut5. “Mandei e-mail para Estados Unidos, Islândia, Japão, Austrália, Canadá… No caso de Portugal, bati em várias portas. Até que eles se interessaram e pediram que eu enviasse um projeto.”

Em junho do ano passado, o paraibano largou os empregos e partiu rumo a Vila Real de Santo Antônio, a oito horas de distância de Coimbra, onde um amigo lhe ajudaria com emprego. Fazia bicos e intercalava com as idas para a sede do Conimbricense para dar os treinos. Agora, pretende se mudar definitivamente para a cidade-sede do clube.

“Costumo dizer que ele é o capitão à frente do barco. Como ser humano, é excepcional. Profissionalmente, é como vocês dizem aí: ‘show de bola’! Não conheço quem se entregue à modalidade como ele”, atesta Zita Alexandre, vice-presidente do Conimbricense.

Seleção de volta?

Portugal foi um dos países europeus pioneiros no futebol de 5 e disputou as duas primeiras edições do torneio continental de seleções, em 1997 (Barcelona) e 1999 (quando sediou o evento, em Porto). Porém, não chegou a se classificar a Mundiais ou Paralimpíadas e, passada a participação no Europeu de 2005, quando foi sétimo e último colocado, deixou a modalidade de lado até que caísse no esquecimento.

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O fim do longo hiato contou com a participação da Associação Nacional de Desporto para Deficientes Visuais (ANDDVIS), uma espécie de Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) de lá – é quem administra o goalball português e decidiu resgatar o fut5 em 2017, quando a nova diretoria tomou posse. “O Márcio caiu do céu. Ele é ambicioso e quer dar o pontapé nessa reativação do futebol de 5 em Portugal”, comemora Lia Silva, coordenadora técnica da Associação.

Se o projeto vingar e os lusitanos voltarem a contar com uma seleção, Márcio espera ter a oportunidade de reencontrar o amigo Fábio Vasconcelos num duelo Portugal x Brasil: “Essa rivalidade é amistosa, é uma amizade imensa. Mas se eu pegar o ‘galego’ como adversário, não vou mentir que é atrito!”, brinca o Márcio André.

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